Em marcha histórica, mulheres negras atropelam racistas na Esplanada

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O dia 18 de novembro de 2015 foi um marco na história pela igualdade racial no Brasil. Milhares de mulheres negras, quilombolas, indígenas e yalorixás abriram a primeira edição da Marcha das Mulheres Negras, em Brasília, e denunciaram na capital federal a intolerância religiosa e o racismo.

As mulheres paraenses foram representadas por uma caravana que foi em um ônibus da CUT Pará; e as bancárias foram representadas no ato pelas companheiras Tatiana Oliveira, Odinéa Gonçalves e Antônia Lopes.

Tatiana-Oliveira-e-Antonia-Lopes-durante-a-Marcha-das-Mulheres-Negras“Muita beleza e força juntas aqui na Marcha das Mulheres Negras. Mulheres de turbante e crespo nas mais diversas formas, além de vestimentas de inspiração afro, afirmaram o protagonismo das mulheres negras na luta contra o racismo e o machismo. Contra a violência, pelo bem viver, as negras marcharam e mostraram ao país que suas vozes devem ser ouvidas”, afirma a dirigente do Sindicato dos Bancários do Pará e militante da Marcha Mundial de Mulheres, Tatiana Oliveira.

Diante do Congresso Nacional, mesmo com provocações dos golpistas que pedem a volta da ditadura militar e estão acampados na Esplanada dos Ministérios, a marcha não se intimidou e seguiu em resistência.

O evento teve início às 9h, no Ginásio Nilson Nelson, e seguiu até o Congresso Nacional. Eram turbantes, tranças e as cores da África que marcavam a identidade da manifestação e ajudavam a dar corpo ao grito pelo fim do extermínio da juventude negra, contra a maioridade penal, pelos direitos das mulheres e por mais políticas públicas voltadas para negras.

A marcha também homenageou importantes personalidades negras como Dandara, Zumbi dos Palmares, Nelson Mandela, Carolina de Jesus, Lélia Gonzalez. Por volta das 13h53, as mulheres ocuparam o Congresso Nacional aos gritos de “Fora, Cunha”.

A manifestação foi uma iniciativa de diversas organizações, entre elas, a CUT e coletivos do Movimento de Mulheres Negras e do Movimento Negro, além de contar com o apoio de importantes intelectuais, artistas e ativistas.

Durante o percurso, as mulheres negras seguiam cantando músicas afro e reverenciando suas ancestralidades em defesa da cidadania. O evento também protestou contra os projetos de lei que restringem os direitos das mulheres, sobretudo das negras, de autoria do presidente da Câmara Nacional, Eduardo Cunha. “Ô Cunha, cadê você, eu vim aqui só pra te prender”, “ai, ai, ai, ai, empurra o Cunha que ele cai”, fazia parte do coro da manifestação.

Para Andreia Roseno, da Marcha Mundial de Mulheres, a manifestação faz história no país, porque mostra que o silêncio não é mais uma realidade para elas. “Não queremos mais conviver com as opressões do racismo, do patriarcado e com capitalismo que coloca a nossa vida de forma mercadológica”.

Quem caminhava por dentro da marcha percebia a diversidade de línguas e de cultura representadas. A indígena Thiaia Ramos, 32, da tribo Pato do Hahahahi, foi mostrar que as mulheres negras indígenas não podem ser invisibilizadas. “Estamos lutando por um só objetivo porque somos um povo só e falamos a mesma língua. Sempre dizem que nós (indígenas) só comemos abobora”, afirma.

No país de maior população negra fora da África, a falta de representatividade de negros na mídia, na política e no Judiciário também foram temas de manifestação. Dados do último Censo, de 2010, indicam que as mulheres negras são 25,5% da população brasileira (48,6 milhões de pessoas). Isso não garante, entretanto, que elas tenham mais direitos garantidos. Entre as mulheres, as negras são as maiores vítimas de crimes violentos.

De 2003 para 2013, o assassinato de mulheres negras cresceu 54,2%, segundo o Mapa da Violência 2015: Homicídios de Mulheres no Brasil. No mesmo período, o índice de assassinatos de mulheres brancas recuou 9,8%, segundo o estudo feito pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), a pedido da ONU Mulheres.

Ainda durante o ato, a secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT, Maria Julia Nogueira, afirmou que a marcha é a realização de um sonho e de uma luta histórica da central.
“A CUT diz que é preciso não aceitar mais o racismo. A democracia só vai se consolidar quando a sociedade não permitir o racismo. Vamos dizer a esse Congresso machista e racista que a discriminação racial não dá mais nesse país”.

Para a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, a Marcha das Mulheres Negras escreveu uma página da história no país. “Nós queremos agora que o Brasil pegue o que nós produzimos e acumulamos ao longo dos séculos e transforme em política. Temos que enfrentar de fato o racismo, a violência e que nos reconheça enquanto parte de quem produz a riqueza nesse país”, definiu.

“Hoje as mulheres negras mostram para o mundo e para o Brasil a nossa força e resistência. Dizemos ainda que queremos estar em todos os lugares. É importante marchar pela implementações de políticas públicas para as negras”, afirmou Nilma Lino Gomes, Ministra das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos.

Bastante emocionada, a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) afirmou que era um momento histórico porque a marcha traz a marca e o suor de cada movimento, das donas de casa que conseguiram adquirir um diploma universitário.

“Não somos uma qualquer. Estamos conseguindo o nosso espaço e marchando para dizer: não aos projetos que tiram os direitos das mulheres; não à matança de jovens negros; não à violência contra as mulheres. Basta de intolerância! Não queremos retrocesso, mas queremos, sobretudo, defender o Estado Democrático de Direito”.

Por volta das 15h, a marcha retornou ao Ginásio Nilson Nelson onde terá oficinas, apresentação de várias atividades, shows das mulheres negras e exibição de filmes.

 

Fonte: CUT, Bancários PA

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