BB arrogante

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O Sindicato tomou conhecimento no início do mês de junho de um recurso apresentado pelo Banco do Brasil junto ao INSS que questiona diversos pontos referentes a condução dos procedimentos no caso do bancário descomissionado em março na agência Presidente Vargas em Belém. 

O descomissionamento do funcionário ocorreu de forma ilegal, desrespeitando as conquistas da categoria contidas no Acordo Coletivo de Trabalho assinado entre o movimento sindical e o Banco em sua cláusula 42º, fato que ocasionou o afastamento do trabalhador por motivo de saúde decorrente tanto de acidente de trabalho provocado pela arbitrariedade do descomissionamento quanto pela forma de administração da agência que reflete baixa qualidade da gestão da unidade relacionados à gestão de conflitos, culminando em assédio moral e perseguição, como foi o caso desse descomissionamento amplamente combatido e divulgado pelo Sindicato dos Bancários.


A inovação de mais uma prática que indigna é a audácia da administração da agência Presidente Vargas, assinada pela gerente de negócios daquela unidade, que ao redigir o recurso ao INSS, questiona o laudo de um médico especialista. Este laudo foi o que motivou o Sindicato a abrir o Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT) e ao INSS a enquadrar o caso como sendo acidente de trabalho, já que o referido laudo atesta que a licença saúde do bancário decorreu por motivos relacionados com o seu ambiente de trabalho.

A pergunta que se faz é: há competência profissional da administração da agência ou de qualquer outro gerente do banco em questionar um laudo/atestado médico? Provavelmente não. Salvo se o administrador que assinou o documento seja bacharel em medicina, tenha CRM, e que tivesse carimbado como médico. Dessa forma, acredito que careça conhecimentos em matéria médica àquela administração, faltando-lhes, também, competência em gerenciar conflitos do ambiente de trabalho, ou pior ainda, provocando tais conflitos.

Lamento quando alguns órgãos do banco se reúnem para deliberar ações que prejudicam ainda mais um trabalhador descomissionado pelo banco e que está de licença saúde. A própria CASSI cuja missão institucional é “assegurar ações efetivas de atenção à saúde por meio de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação, para uma vida melhor dos participantes”, fecha os olhos para os graves problemas de saúde que estão sendo gerados nos ambientes de trabalho de algumas dependências do Banco do Brasil. Neste caso em particular, a CASSI voltou atrás e se negou a continuar a emissão da CAT do trabalhador, conforme comunicado enviado ao bancário acerca de dois meses, evidenciando total interferência do BB nos assuntos médicos da CASSI.

Os “doutores” administradores do banco envolvidos nesse descomissionamento cuja especialidade, caso haja, é de habilitação em perseguição, já sentem o peso de sua decisão. Gostaria que aqueles que estão pagando pra ver o judiciário decidir sobre esse caso se imaginassem no lugar de um bancário descomissionado com seu salário reduzido, sendo submetido a tratamento de saúde desde então, além de todos os outros transtornos já causados ao trabalhador.

Alguns parágrafos do recurso do banco, assinado pela administração da agência Presidente Vargas, afirma que o BB é uma instituição “(…) bem conceituada, tradicional e séria, e que está bem avançada em relação a direitos de seus funcionários…”. Concordo que esse é nosso objetivo: que o BB seja sério e justo. Até porque o movimento sindical filiado a CUT, como é o caso do Sindicato dos Bancários do Pará, encabeçou as frentes de resistência e luta que evitaram que o Banco fosse entregue a iniciativa privada na esteira das privatizações nos anos 90. Assim, temos hoje um Banco do Brasil cujo ingresso em suas fileiras se dá por concurso público e que pertence a nação. Agora, deixo abaixo, algumas reflexões:


Quando o Banco promove curso de preposto trabalhista em que muitos participantes comentam com diretores do Sindicato que se trata de um curso cuja finalidade é dizer que a responsabilidade em se descobrir a verdade é do juiz e não da empresa e que o preposto trabalhista pode mentir que não é crime, está sendo uma instituição séria, tradicional e bem conceituada?

Quando alguns administradores obrigam seus subordinados a darem baixa na senha de atendimento referente ao GAT, fazendo com que esses funcionários chamem o cliente verbalmente, tudo para não implicar negativamente no ATB e no sinergia, ou mesmo avisando ao cliente que o sistema está inoperante, sem que ele esteja, para que este cliente vá embora da agência, está sendo uma instituição séria, tradicional e bem conceituada?

Quando o Banco permite com que seus funcionários trabalhem em agências precárias no interior e mesmo na capital, com mesas de atendimento coladas umas nas outras, podendo ocorrer à violação do sigilo bancário do cliente, está sendo uma instituição séria, tradicional e bem conceituada?

Quando o Banco demite um trabalhador em pleno gozo de benefício por acidente de trabalho, que estava e está sendo submetido a tratamento médico especializado, envolvendo internação e medicamento controlado está sendo uma instituição séria, tradicional e bem conceituada?

Quando o Banco descomissiona um trabalhador, alegando avaliação negativa em seu desempenho, cujo placar do bancário está acima de 400 pontos nas três últimas avaliações, descumprindo o Acordo Coletivo de Trabalho assinado com a categoria bancária, conquista portanto, dos trabalhadores, está sendo uma instituição séria, tradicional e bem conceituada?

Quando o Banco aparece em segundo lugar em uma lista de 100 empresas mais devedoras na Justiça do Trabalho, com processos já julgados mas ainda não quitados conforme divulgado pelo TST em junho,  a partir de dados do Banco Nacional de Devedores Trabalhistas, está sendo uma instituição séria, tradicional e bem conceituada?*  Clique aqui


São reflexões que faço não no intuito de atacar ninguém individualmente, mas questiono como sindicalista a condução dos processos na empresa, muitas vezes equivocados, como no caso concreto desse descomissionamento. Obviamente, gostaria que o banco se reposicionasse sobre esse assunto e que agisse no sentido de melhorar o clima organizacional na agência Presidente Vargas, para que aquela unidade simplesmente volte a ser um ambiente de trabalho onde as pessoas se sintam bem, pedido esse já tantas vezes solicitado pelo Sindicato junto a diversos setores do BB.
Assim, entre a burrice e a ignorância clique aqui, lamento que o Banco do Brasil tenha optado, me parece, pela burrice e, agora, pela arrogância.



Fábio Gian, funcionário do BB, diretor de Comunicação do Sindicato e Diretor Regional da ANABB no Pará.




Fonte: Bancários PA

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