Fenae contesta manobra contábil de Pedro Guimarães para desvalorizar a Caixa

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Por proposição do presidente Pedro Guimarães, a Caixa Econômica Federal prepara uma provisão extraordinária de até R$ 7 bilhões para possíveis perdas com calotes no financiamento imobiliário e com a desvalorização de imóveis que foram retomados pelo banco. A manobra contábil, divulgada nesta quarta-feira (27) pela agência de notícias Reuters, mira no desmonte acelerado da instituição com vistas a torná-la fraca e deficitária, para pavimentar o caminho da privatização.

Caso seja efetivada, a medida deve reduzir o lucro anual da Caixa para menos de R$ 10 bilhões. Até setembro do ano passado, a empresa havia registrado um saldo líquido de R$ 11,5 bilhões, com expectativa de que este valor subisse para R$ 16 bilhões ao final do exercício. Antes mesmo da divulgação das demonstrações contábeis referentes a 2018 – ainda sem previsão –, a ordem de Pedro Guimarães para uma provisão bilionária extra está criando insatisfação dentro do próprio banco e vem sendo interpretada como uma desautorização às normas e práticas históricas adotadas pela Caixa até a virada do ano passado, com aval de auditores independentes, do Banco Central e do Tribunal de Contas da União (TCU).

A medida também está sendo interpretada como a preparação para a venda ao mercado privado de unidades lucrativas nas áreas de seguro, gestão de ativos, loterias e cartões de crédito. O propósito é privatizar setores estratégicos da instituição, deixando cada vez mais distante a perspectiva de uma empresa pública sintonizada com os desafios sociais do Brasil. Para resistir a essa demolição, a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae) entende que a alternativa está na defesa da Caixa pública, social e atuante no projeto de crescimento e desenvolvimento do país.

Causa preocupação ainda o fato de que o provisionamento extra, causando em consequência redução no lucro anual da empresa, possa significar uma diminuição drástica no pagamento do montante que será distribuído aos empregados a título de Participação nos Lucros e Resultados (PLR). A PLR como é paga na Caixa é uma das conquistas históricas das entidades representativas e foi adotada em 2010, como parte do processo de valorização da categoria por exercer tarefas relacionadas ao papel social do banco. Antes, o que existia era a chamada PRX, um plano atrelado ao cumprimento de metas, que deixava a maioria dos trabalhadores sem receber nada.

“A luta contra a decisão sobre a provisão extra deve ser assumida por toda a sociedade, sobretudo pelos empregados da Caixa. Em defesa do desenvolvimento nacional e do caráter público do banco, a partir do investimento em programas sociais, a Fenae contesta a proposta de enfraquecimento da Caixa e reafirma seu compromisso de alertar a sociedade para se contrapor a essa sangria do patrimônio público”, declara Jair Pedro Ferreira, presidente da Fenae.

Jair Ferreira lembra que a Caixa é fundamental para o desenvolvimento econômico e social do país. É o banco que concede crédito em segmentos que não interessam ao mercado privado e viabiliza muitas das políticas públicas. Ele destaca que a instituição, na condição de maior financiador imobiliário do país, com 70% dos contratos, possui uma carteira de crédito habitacional avaliada em R$ 440 bilhões e ostenta patamares de inadimplência menores do que os praticados no mercado financeiro privado. De acordo com dados dos balanços da Caixa, operações imobiliárias classificadas pelo banco como ratings de “D” a “H”, com maior chance de não pagamento pelo tomador, equivaliam em setembro de 2018 a 6,6% da carteira total do setor, numa proporção estável em relação aos anos anteriores.

Para a Federação do Pessoal da Caixa, o banco não pode ser submetido à mesma lógica dos bancos privados em um sistema financeiro altamente concentrado. O Brasil não precisa de mais um banco comercial. Se todas as propostas de descaraterização da Caixa como banco público e social forem efetivamente implantadas, será o fim de um modelo de crescimento inclusivo em prol da população. Jair Ferreira ressalta ainda que a mobilização contra o desmonte do banco deve ocorrer em todo o país, de modo a combater uma gestão que atua para o enfraquecimento da Caixa, como preparação para a venda de suas empresas, operações e serviços prestados à população, destruindo assim seu papel público e social.

 

Fonte: Fenae

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