Michael Löwy : Democracia e capitalismo são incompatíveis

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“A política acaba sendo uma farsa e acaba existindo só o Partido Unificado do Mercado”, afirma o filósofo.

“É profundamente ridículo acreditar que existe uma afinidade entre o capitalismo e a ‘democracia’ ou ‘liberdade’ (em todos os significados possíveis da palavra)”, foi com um trecho da citação de Max Weber que o filósofo e professor, Michael Löwy abriu o Ciclo de Debates, promovido pela CUT, que aconteceu nesta quinta (5), na sede da central.

Com o tema “Dilemas da Democracia e Desafios da Esquerda na Atualidade”, Michael abriu o debate com um panorama histórico da Democracia em outros países, que comprovam que a frase de Weber é ainda atual, apesar de ter sido escrita em 1906.

“Cada vez que as classes dominantes, a burguesia e os representantes do capital, achavam, com razão ou não, que seus interesses estavam ameaçados eles passaram com trator em cima da democracia”, contou Michael.

O professor afirmou que na maior parte do mundo a democracia, no sentido etimológico da palavra o poder da população, não faz mais sentido. Além de citar exemplos que comprovam esta tese, como os golpes parlamentares na America Latina, no Paraguai, Honduras e no Brasil, que governos democráticos eleitos tomaram alguma iniciativa que não corresponde aos interesses da classe dominantes foram derrubados pelo poder do capital.

Para o professor, que nasceu no Brasil, mas mora há muitos anos na França, estes exemplos são considerados de democracia “casca vazia”. “As grandes decisões sobre a vida econômica e social da União Europeia, por exemplo, não são tomadas por instâncias democráticas. São decisões das instituições tecnocráticas, que foram tomadas pelo capital financeiro, pelas bolsas de valores, de Nova York, entre outras e depois são carimbadas por parlamentos e governos”, explicou.

Ele chama de golpe bancário. “Não precisa mais de tanques de guerra, como os golpes militares que aconteceu nos anos 60. Basta ameaçar de não dar dinheiro e pronto. A política acaba sendo uma caricatura, uma farsa e acaba existindo só um partido, o PUM: Partido Unificado do Mercado, que segue a política neoliberal do mercado financeiro”.

Para Michael o desafio para o movimento operário, os movimentos sociais e para as forças de esquerda é de resistir a essa ofensiva, profundamente, antidemocrática das oligarquias dominantes do capital financeiro e dos políticos a seus serviços.

“Temos que pensar em uma alternativa radical, que parta da constatação da incompatibilidade do capitalismo e da democracia. Isso implica o desafio de se dar conta que a defesa da democracia passa pelo enfrentamento ao próprio sistema capitalista. E que uma democracia verdadeira implica em romper o capitalismo, colocar a perspectiva de uma sociedade socialista”, finalizou.

Sobre o Ciclo de Debates

“O ciclo de debates é uma demanda do 12º Congresso Nacional da CUT, que aconteceu em 2015, que tem como objetivo compreendermos as transformações que o mundo vem passando para a partir daí pensarmos em ações mais concretas e de elaboração para respondermos as demandas cotidianas e o papel da central frente ao que está acontecendo”, explicou a secretária-Geral Adjunta, Maria Faria.

A primeira atividade do Ciclo de Debates, que iniciou nesta quinta (5) teve o apoio da Secretaria Nacional de Cultura da CUT e da editora Boitempo. O segundo debate está previsto para acontecer em dezembro.

 

Fonte: CUT

 

 

 

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