Privatização dos bancos públicos ameaça desenvolvimento do Brasil

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O desmonte dos bancos públicos agravará ainda mais a crise econômica que o Brasil atravessa, pois levará a um aumento do desemprego e ao fim das políticas públicas que contribuem para o desenvolvimento social e econômico do país. Essa foi a principal avaliação dos participantes do debate “Bancos públicos sob ataque: desafios, riscos e perspectivas”, na série Diálogos Capitais, realizada em Recife, nesta terça-feira (19). Vídeo do encontro está disponível nos perfis da Fenae nas redes sociais.

No Sindicato dos Bancários de Pernambuco, os debatedores fizeram um alerta sobre os perigos de uma possível privatização dos bancos públicos, principalmente a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, ambas fundamentais para o fomento da economia local. O presidente da Fenae, Jair Pedro Ferreira, apresentou um cenário de relevância dos bancos públicos para o desenvolvimento do Brasil, em particular para Pernambuco. “O estado tem 17 bancos. Desses, quatro são públicos: Caixa, BB, BNB e Banrisul. Quando se vai para o interior, 53% das agências bancárias estão concentradas nas instituições oficiais. Se a Caixa for tirada das finanças de Pernambuco, como vai ficar o setor produtivo, por exemplo? Ou quem vai fazer financiamento de 20 ou 30 anos?”, questionou Jair Ferreira.

O presidente da Fenae disse ainda que, em 2018, os bancos públicos foram responsáveis por 100% do crédito imobiliário ofertado em Pernambuco (R$ 16,14 bilhões), cabendo à Caixa 88% das operações realizadas. Segundo ele, no caso do financiamento agrícola, os bancos públicos responderam por 96% de todo o crédito disponibilizado. Jair Ferreira também lembrou que, em relação ao programa Bolsa Família, a Caixa está presente em todos os municípios pernambucanos. “O número de famílias beneficiadas chega a 1,1 milhão, com valor mensal transferido de R$ 215 milhões aos beneficiários. A população precisa se apropriar desse debate, pois a sociedade e os trabalhadores serão os maiores prejudicados com a retirada da Caixa da economia local”, avaliou o presidente da Fenae. Ele explicou que a Caixa é uma empresa com quatro mil agências espalhadas pelo Brasil, dobrou de tamanho a partir de 2002 e, recentemente, entrou numa espiral de destruição. “A quem interessa diminuir a estrutura dos bancos públicos?”, indagou.

Esta edição do evento também contou com as avaliações de Luiz Gonzaga Belluzzo, professor e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp; de Xico Sá, escritor e jornalista; e de Liana Cirne Lins, professora de Direito da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O economista da Unicamp ressaltou o caráter estratégico dos bancos públicos e teceu duras críticas ao governo Bolsonaro, denominando-o de primata e com déficit de civilidade. “Essa turma quer privatizar e desconstruir toda a estrutura e articulação do sistema financeiro brasileiro, que repousa sob os bancos públicos”, completou. Belluzzo citou que a história dos planos econômicos no Brasil e o impulso da economia em épocas de crise sempre tiveram os bancos públicos na liderança da expansão do crédito. Lembrou que, toda vez que um governo enfrentava uma crise na economia, convocava uma reunião com a Caixa e o BB para resolver a situação.

Para Belluzzo, o crédito ofertado pelos bancos públicos abastece a economia, cria emprego e produz renda para a população. “A questão é o seguinte: quando os bancos disponibilizam o crédito para o consumidor e empresários, isso espalha-se por todo o sistema, levando a que o empréstimo de um seja o depósito de outro. Isso possibilita um sistema de difusão da capacidade de emprestar”, explicou.

A jurista Liana Cirne Lins defendeu a necessidade de comunicar à sociedade civil a respeito do que o país está enfrentando. Ela lembrou que a defesa dos bancos públicos passa pela conscientização da sociedade de que as instituições oficiais são empresas cujo objetivo primordial é prestar serviço e não necessariamente obter lucro. Liana disse que o mais peculiar da privatização brasileira é que se privatiza empresas lucrativas. “Trata-se, na verdade, de um processo de desnacionalização, como ocorreu com a Companhia Vale do Rio Doce, em 1997, ainda durante o governo Fernando Henrique Cardoso”, opinou. Para ela, os bancos públicos podem até ter prejuízo financeiro, desde que seja para beneficiar a população.

Já o jornalista Xico Sá discorreu sobre fatos cotidianos que devem ser comunicados para exemplificar a importância da atuação dos bancos públicos para as diversas regiões do país. “Não é só a Caixa e o Banco do Brasil, é todo um conjunto de bancos públicos com importância para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil”, destacou. O jornalista disse que, devido à atuação dos bancos públicos, muitas cidades saíram da condição da prática de escambo para passar a operar com moeda. “Com isso a crônica social ficou muito bonita e comovente. O sorriso de quem não tinha sorriso”, ponderou.

Dirigentes de movimentos associativo e sindical acompanharam o debate, entre eles a presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Suzineide Rodrigues, e o presidente da Apcef/PE, Paulo Moretti. Participaram também empregados e aposentados da Caixa. A edição de Recife (PE) foi a nona e fechou o primeiro ciclo da série Diálogos Capitais, realizada pela Fenae em parceria com a revista Carta Capital a partir de 2018. O evento passou também por outras oito cidades: São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Teresina (PI), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Natal (RN), São Luís (MA) e Curitiba (PR).

 

Fonte: Fenae

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