Temas a perseguir com atenção em 2018

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Por Flávio Aguiar*

Eleições. Muitas eleições vão acontecer este ano. Aponto apenas algumas aqui: eleição presidencial na Rússia, em que Vladimir Putin deve vencer mais uma vez. A chamada “eleição de metade do mandato [presidencial]” nos Estados Unidos, escolhendo toda a Câmara de Deputados e desta vez 1/3 do Senado norte-americano: será um teste decisivo para o presidente Donald Trump, que sofreu duas derrotas sérias em 2017, nos estados da Virgínia e do Alabama. Há eleições presidenciais no Egito, Zimbábue, México, Argentina, Colômbia, Venezuela e… quem sabe, no Brasil. Na União Europeia começaremos o ano seguindo mais capítulos da emocionante novela: conseguirá Angela Merkel formar um novo governo mantendo o SPD domesticado?

No Oriente Médio, além da guerra civil na Síria, vai prosseguir a tensão entre o Irã e a Arábia Saudita, com esta emitindo sinais de fumaça que está se aproximando já não mais secretamente de Israel em nome de conter a influência daquele, com o beneplácito dos Estados Unidos. Pergunta: haverá mais países, além dos EUA e da Guatemala, dispostos a reconhecer Jerusalém como a capital de Israel? No Irã, manifestações insufladas pelo alto custo de vida (o governo dos aiatolás acusa o “inimigo externo”) deram um tom macabro ao começo do ano, com mais de uma dezena de mortos. A ala reformista do país, liderada pelo presidente Hassan Rouhani, está sob pressão. Trump, como sempre, meteu o nariz, prometendo “ajudar os manifestantes”. O que isto pode querer dizer? Boa coisa não é.

Novas lideranças estão emergindo na África subsaariana: Emmerson Manangagwa no Zimbábue, depois da queda de Robert Mugabe; Cyril substituiu Jacob Zuma na liderança (presidência) do Congresso Nacional Africano, que é o principal partido da África do Sul; e em Angola João Lourenço vai se afastando da herança do ex-prosidente José Eduardo dos Santos através de trocas no comando do país, inclusive na área militar.

Na Ásia e no Oceano Pacífico está-se criando a possibilidade da primeira guerra entre países que dispõem de armamento nuclear. Em 1945 os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas sobre o Japão, pulverizando Hiroshima e Nagasaki. Mas este país não dispunha se armamento capaz de retaliar, e rendeu-se incondicionalmente.

Agora, apesar da desproporção dos armamentos, a Coreia no Norte dispõe de ogivas e de mísseis capazes de atingir o território do inimigo. Kim Jong-un não estaria disposto a enfrentar um inimigo centenas de vezes mais poderoso. Mas estarão os Estados Unidos de Donald Trump dispostos a conviver com a ameaça de outro país poder lançar algumas bombas A e H sobre seu território? Não esqueçamos que em Washington está o presidente mais incapaz de compreender o decoro do cargo, mais intempestivo e mais imprevisível da história do imperialismo norte-americano.

Neste início de ano Kim Jong-un deu sinais de que pode entrar em diálogo com a Coreia do Sul, acenando com uma distensão que aproveitaria o embalo dos jogos olímpicos de inverno no país “irmão”. Ao mesmo tempo declarou que tem o botão das armas nucleares na mesa. Trump respondeu com um estilo infantil, “o meu botão é maior do que o seu”, lembrando comparações chulas. A ver.

No mundo financeiro, deve-se prestar atenção ao conturbado e emergente mundo das moedas inteiramente virtuais, das quais a mais importante é a “Bitcoin”. Ela serve para transações no mundo virtual e até mesmo para algumas fora dele: algumas companhias aéreas de menor porte, por exemplo, a aceitam como pagamento para alguns de seus voos. Em 2010 podia-se adquirir uma unidade de Bitcoin, na internet, por dez centavos de dólar. Nos últimos dois anos, no entanto, ela chegou a atingir o valor de 18 mil dólares ou 400 gramas de ouro por unidade.

Cuidado: ela é muito volátil, sujeita a variações bruscas de valor para cima ou para baixo, e não é garantida por nenhum governo ou Banco Central, além de estar sujeita ao ataque predatório de hackers. Alguns governos, como o dos EUA e da Coreia do Sul, estão pensando em incidir impostos sobre sua posse e suas transações.

No mundo esportivo, 2018 será o ano de mais uma Copa do Mundo, desta vez na Rússia. Refeito da catástrofe de 2014, o Brasil está entre os bem cotados nas apostas londrinas, ao lado da França, Argentina, Alemanha, Bélgica e Inglaterra.

Além disto, temas já tradicionais continuarão a disputar as manchetes da mídia mundial: o drama universal dos refugiados na Europa e em outros lugares do mundo, a xenofobia anti-islâmica, a desagregação da Líbia, a guerra, quem sabe terminal, contra o Estado Islâmico, os ataques terroristas.

Deve-se prestar atenção também ao destino dos governos de esquerda ou centro-esquerda emergentes, além dos que se mantém, como Portugal, Bolívia, Venezuela, Equador: entre aqueles estão os da Nova Zelândia e da Islândia. Além do governo de esquerda que luta por limpar o Vaticano e seu Banco e modernizar instituições como a Cúria e a Congregação da Fé, isto é, o Papa Francisco I.

*Flávio Aguiar é pesquisador e professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP

 

Fonte: Rede Brasil Atual

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