CUT abre programação do Mês da Consciência Negra

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Central discutiu, nesta terça-feira (12), o racismo por traz da discussão da “consciência humana”, o encarceramento em massa, genocídio negro e o racismo estrutural

Na semana anterior ao Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, a CUT reuniu, nesta terça-feira (12), em sua sede, especialistas antirracistas para debater as características históricas do racismo que ainda persistem no Brasil.

20 de novembro é dia de celebrar Zumbi dos Palmares, líder da emancipação do povo negro escravizado, símbolo de luta e resistência contra as opressões racistas. No entanto, muitas pessoas ainda questionam o porquê da data “se somos todos humanos” e “todos iguais”.

Para o jornalista e professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), Dennis de Oliveira, este debate não é da população negra e, sim, da branca.

“Quem racionaliza é a população branca, não somos nós, negros”.

Na avaliação do professor, o debate da “consciência humana” disfarça o racismo e condena o povo negro a séculos de exclusão e desigualdade. “Ao mesmo tempo em que você tem essa construção histórica da luta do movimento negro, esse debate representa o apagamento e bloqueio da história da população negra, e isso permite o racismo”.

O racismo está na estrutura de todas as relações cotidianas e de poder que beneficia à população branca e nega à população negra direitos básicos, afirma a secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT, Anatalina Lourenço.

“O privilégio confere às pessoas brancas [que questionam a luta dos negros]maiores salários, maior acesso à educação e até mesmo mais a possibilidade de se manter vivo”.

Prisão e violência policial
O professor Dennis Oliveira denunciou o encarceramento em massa e da violência policial que atinge o povo negro. Ele citou dois exemplos de racismo nas prisões de Rafael Braga, preso em 20 de junho de 2013 por portar dois frascos lacrados de produtos de limpeza, o que foi entendido como material explosivo pela polícia do Rio de Janeiro, e do DJ Renan da Penha, que foi preso em abril de 2019, após ser condenado em segunda instância por associação ao tráfico de drogas.

Renan é conhecido como um dos idealizadores do Baile da Gaiola, baile funk que acontece no bairro da Penha (RJ). Tanto Rafael quanto Renan foram beneficiados pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de revogar a prisão após 2ª instância na semana passada, porém ainda continuam presos.

“O Brasil é um dos países que mais encarcera, queremos Lula livre, mas também queremos Rafael Braga de Renan da Penha e todos os negros e negras desse país livres”.

Adriana de Cássia Moreira, professora formada pela USP, afirmou que as caraterísticas históricas do racismo foram apontadas pelo poeta, ator, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário e político Abdias do Nascimento, em 1968, como o genocídio do povo negro e uma política como guerra racial.

“O racismo está presente em todos os processos de violência policial, embora não tenha um modo de racismo, mas é racismo contra os jovens negros”, disse Adriana.

Abdias foi o primeiro autor a qualificar a experiência histórica da população negra brasileira como uma história de genocídio, isto é, como crime cometido por parte do Estado com a finalidade de destruir um grupo social ou comunidade.

“É um Estado que se organiza para garantir a vida de determinadas pessoas, de determinados grupos sociais, e, portanto, é dever do Estado rever essa ação”, afirmou Adriana.

Racismo como uma questão central
A Secretária-Geral da CUT, Carmen Foro, ressaltou a história dos negros do país, ignorada e não contada nos livros, e convidou todos os dirigentes negros da Central do país inteiro para debater profundamente todos os aspectos da questão racial.

“Por trás de nós tem muita história. A construção desse país foi feita por homens e mulheres negras, e não são contadas em lugar nenhum e se gente não resolver contar, ninguém vai contar por nós”, pontuou Carmen.

Rosana Fernandes, secretária-Adjunta de Combate ao Racismo da CUT, concordou com Carmen e disse que debater o racismo é questão central para a democracia brasileira e mundial.

“Enquanto negros e negras não tiverem os mesmos direitos e acesso aos espaços de poder, vamos ter que seguir lutando para mudar as condições de vida do povo negro na sociedade”.

O DIEESE publicou um mapa sobre a participação dos negros e negras no mercado de trabalho, o qual reflete o racismo no mundo do trabalho brasileiro.

 

Fonte: CUT

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