Vencemos a covid-19: Primeiro Dia das Mães sozinha, mas o amor foi o principal remédio

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Nessa semana, o Sindicato dos Bancários do Pará começa uma série de reportagens sobre bancários e bancárias que venceram a covid-19 no estado. Lamentamos profundamente por todos os colegas que se foram, ou que perderam alguém que ama, vítimas do novo coronavírus.

Mas não podemos deixar de lembrar aqueles que venceram, sim, pois só quem teve os sintomas, quem testou positivo, quem precisou ser internado, ou quem se recuperou em casa, sabe exatamente o que é um isolamento social, sozinho dentro de casa, ou sozinho dentro de um cômodo, separado daqueles que ama, por uma porta.

A partir de hoje você vai ler relatos de colegas que talvez até conheça. Que de alguma forma você se identifique com as histórias, caso esteja passando pela mesma situação, que realmente esperamos que não, que nunca passe por isso.

Quem pode, fica em casa. Sabemos que a categoria faz parte do serviço essencial e estamos diariamente acompanhando os casos e cobrando prorrogação do home office e reforço das medidas de prevenção e proteção dentro das agências bancárias

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16 de abril. “É só uma gripezinha. Bancário trabalha só 6h no ar condicionado. Além de vencer o medo e as incertezas, temos que suportar o deboche e falta de respeito daqueles que não conhecem o mínimo de nossa jornada de trabalho. Enquanto em outros países o povo se uniu para vencer a crise, no Brasil, criam-se mais crises e instabilidade. A guerra não é só contra o vírus! Respeitem os trabalhadores, especialmente os que estão na linha de frente nesse momento. A barra já está pesada demais. Respeitem os bancários, nossos direitos não brotaram em árvores!”, o desabafo foi feito pela bancária da Caixa Mayara Moreira, em protesto contra a Medida Provisória 905, que retira direitos da classe trabalhadora, uma delas da possibilidade de a categoria trabalhar aos sábados, e quase é votada em meio à pandemia.

Felizmente a MP saiu da pauta do dia, graças à mobilização virtual das entidades sindicais junto aos trabalhadores e trabalhadoras. Mas Mayara nem teve tempo de comemorar, no mesmo dia da postagem acima, ela já foi trabalhar com certo mal estar.

“Naquele dia passei mal, tonta, mal estar no corpo e na cabeça. No dia anterior tive tosse seca esporádica, isso já foi me chamando atenção. No dia seguinte cheguei no trabalho com mal estar e fiquei bastante mal e comentando na agência dos meus sintomas, mas consegui trabalhar. A noite, já em casa comecei a sentir frio, tomei remédio, mas nada de melhorar, na mesma noite, fui pra emergência, me prescreveram azitromicina e anti-inflamatório pra dor na garganta, xarope, remédio pra dor, e me deram 14 dias de atestado, tive também acompanhamento de um médico online”, lembra.

Na manhã seguinte e pelas próximas três semanas, a bancária começava o isolamento dentro do próprio quarto. “O medo de contaminar minha filha ficou ainda maior, depois que testei positivo pra covid-19, porque ela tem problema respiratório”, comenta.

Mas segundo ela a parte mais difícil foi ficar longe da filha dentro da própria casa. “Nós dormimos juntinhas, explicar pra ela foi de boa, ela entendeu, já tínhamos conversado sobre o vírus e as mudanças que ele trouxe. Complicado foi pra ela sempre lembrar que não podia entrar no nosso quarto, e que nossas conversas seriam à distância, da porta do quarto pra fora, e que a noite ela iria dormir os 14 dias noutro quarto sozinha”, conta Mayara.

Foram semanas de portas abertas, mas sem acesso liberado, mas as crianças… ah as crianças. “Minha menina mais uma vez me surpreendeu. Desde os primeiros dias com os sintomas, eu já não estava dormindo direito, por conta da sinusite que também atacou. Na primeira noite de isolamento, quando voltei da emergência pra casa dormi na sala, pra poder explicar tudo pra ela no dia seguinte. Na segunda noite, ela pegou um colchão, colocou no chão, num corredor estreito, bem na porta do nosso quarto, aquilo me emocionou tanto, que chorei vendo-a dormir, longe de mim, longe do conforto da nossa cama, longe do meu colo. Por algumas horas daquela noite, o amor da minha filha afastou as dores que eu sentia, e ali ela dormiu pelos próximos 12 dias. Nossas conversas eram à distância, meu quarto passou a ser a minha casa, refeições, tudo era lá”, desabafa emocionada a mamãe bancária.

Mayara não faz parte do grupo de risco, e por isso, está na linha de frente atendendo quem precisa dos serviços essenciais da Caixa.

“Tive medo de voltar e ainda poder contaminar meus colegas, mesmo com todos os cuidados de prevenção e os deles também. Tive muito cansaço, diarreia e dor de cabeça, procurei atendimento médico mais uma vez. Repeti tomografia, felizmente o vírus não atingiu meu pulmão e ficou somente nas vias respiratórias, mas a minha carga viral ainda era alta, tive que repetir toda a medicação anterior e com mais um reforço para os novos sintomas”, afirma.

Nos últimos 10 dias de quarentena ela ficou totalmente só. “Eu e meu esposo, que trabalha no interior, achamos mais seguro para nossa menina ir para lá até tudo isso passar”.

Nesses dias de isolamento total, Mayara teve o primeiro Dia das Mães sozinha. “Nos falamos bastante por vídeo nesse dia, falei com minha mãe, e todas essas demonstrações de afeto à distância deixaram essa data tão especial e difícil ao mesmo tempo, mais leve. E ter a certeza de que minha filha estava segura, numa casa com quintal, mais espaço para brincar, acalmou meu coração”, destaca.

“Ah meu amor, eu respiro saudades. Esse é o primeiro Dia das Mães que estamos distantes. Infelizmente devido o lockdown e as reações sintomáticas que ainda venho apresentando tive que ficar por aqui. Mas ô meu amor, quem fez esse dia ter sentido pra mim. Você é a razão! Obrigada por me escolher nessa vida. Eu não sonhei em ter você, eu escolhi te receber e Deus sabia exatamente do que eu precisava, o universo conspirou. Nada me chacoalhou tanto por dentro quanto a maternidade. Que amor é esse que a gente não consegue explicar? Surreal! Eu não sei se nasci pra ser mãe, mas com certeza nasci pra te amar. É pode até ser clichê, mas é o meu amor. Saudades de te esmagar de beijos, do jeitinho que eu fazia no auge da minha imaturidade de ter que lidar com sua fofura. Agora já não cabe mais em meus braços, mas sempre caberá no meu coração. Minha doce Mel! Te amo filha! Obrigada Deus!”, declarou Mayara nas redes sociais.

No dia que conversamos com a bancária por telefone, ela já tinha retornado ao trabalho há 4 dias e estava totalmente recuperada, sem qualquer sintoma. “Tenho orgulho da minha profissão, escolhi a Caixa por esse lado social, mesmo sabendo dos riscos que corro junto com meus colegas, estando na linha de frente, tenho prazer em atender as pessoas, sei que elas precisam de mim”, finaliza.

Até a publicação dessa matéria, o Pará já tinha 26.077 caos confirmados, 2.375 óbitos, 4.995 recuperados, segundo o boletim da Secretaria de Estado de Saúde Pública publicado às 13h desta segunda-feira (25).

 

Fonte: Bancários PA com Sespa

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