BC força a queda do dólar para favorecer monopólios externos

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A ata do Copom e a intervenção do Banco Central no mercado do dólar, na segunda-feira, deixaram claro que, se depender somente da diretoria do BC, o câmbio será mantido em, no máximo, R$ 2,05.

O problema é que essa cotação significa um aumento do subsídio cambial às importações, tornando-as mais baratas que a produção interna por mera manipulação cambial. A ação do BC impede que a taxa de câmbio chegue a um patamar que favoreça a produção da indústria nacional (ou, até mesmo, apenas seja equilibrado).

Nos últimos meses apareceram muitos indivíduos falando na “falta de competitividade” da indústria nacional – e, em geral, propondo arrochar salários ou cortar impostos para aumentar essa “competitividade”. Tudo isso, em geral, é bobagem. Mas não a valorização artificial do real, que, realmente, degola a competitividade das empresas nacionais, por encarecer os preços de seus produtos. No entanto, nenhum desses indivíduos parece preocupado com isso, talvez porque este, sim, seja um problema real, que pode ser corrigido facilmente, sem arrochar salários ou cortar impostos.

Vamos, sucintamente, aos fatos: na quinta-feira da semana passada, dia 24, foi publicada a ata da 172ª Reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que é composto pela diretoria do BC. Nessa ata, é dito explicitamente no 20º parágrafo:

“O cenário de referência leva em conta as hipóteses de manutenção da taxa de câmbio em R$2,05/US$ e da taxa Selic em 7,25% ao ano (a.a.) em todo o horizonte relevante” (grifo nosso).

Além de dizer que os juros não cairão mais, quanto ao câmbio a cotação de R$ 2,05 por dólar, obviamente, é, como teto, inferior ao dos últimos meses (R$ 2,10 por dólar). Esta última taxa de câmbio já era considerada insuficiente para a economia brasileira (alguns economistas argumentaram, convincentemente, que a “taxa de equilíbrio” do câmbio, isto é, aquela taxa em que não haveria subsídio às importações, estaria entre R$ 2,50 e R$ 2,70; outros propuseram R$ 3,00 como forma de aumentar a competitividade das empresas nacionais).

Porém, o BC não ficou só nessa afirmação (como quase todas as outras dessa ata, desacompanhada de provas ou demonstrações).

Na segunda-feira, logo pela manhã, o BC forçou a queda na cotação do dólar, ou seja, manteve o real artificialmente valorizado, e mesmo aumentou essa “valorização” manipulada. Para não complicar o entendimento do leitor com expressões tais como “swap cambial”, etc., basta dizer que o BC fez isso leiloando US$ 1,847 bilhão (!) no mercado futuro de dólar, de uma única vez. Com isso, derrubou a cotação do dólar, que desceu ao menor preço em reais desde julho de 2012 (caiu para R$ 2,00, subindo depois para R$ 2,03).

Como disseram alguns consultores financeiros de bancos, “… é mais uma indicação de que o Banco Central está interessado em deixar o câmbio numa banda bem estreita, com R$ 2,05 como teto das cotações”; “o leilão do BC não era esperado e sinaliza que, para ele, um dólar entre R$ 2,05 e R$ 2,10 não é mais desejável”.

Nenhum deles estava infeliz com isso, pois no dia 1º de fevereiro vencem alguns bilhões de dólares em “derivativos” cambiais. Quanto menor a cotação do dólar, maiores os ganhos dos bancos, que estão na chamada “posição vendida”: em suma, venderam papéis que não tinham, e agora irão recomprá-los por um preço muito menor (se o leitor, sujeito normal, acha esse tipo de operação uma loucura, tem razão; a isso, e a coisas piores, chegou a especulação nos tempos de hoje).

Um neoliberal, desses que estão na diretoria do BC, sempre diz o contrário do que faz: dizem eles que não foi para favorecer os bancos, assim como os monopólios externos e suas importações, que eles, premeditadamente, rebaixaram a taxa de câmbio. Isso, dizem, seria apenas um subproduto do combate à inflação.

Já se sabe qual o remédio deles para a inflação, sobretudo quando esta é falsa. Assim, toda a argumentação da ata do Copom (parágrafos 21 a 36) é uma arenga pela alta de juros. P. ex.: “O Copom avalia que a política monetária deve contribuir para a consolidação de um ambiente macroeconômico favorável em horizontes mais longos. (…) Embora reconheça que outras ações de política macroeconômica podem influenciar a trajetória dos preços, o Copom reafirma sua visão de que cabe especificamente à política monetária manter-se especialmente vigilante, para garantir que pressões detectadas em horizontes mais curtos não se propaguem para horizontes mais longos” (“política monetária” e alta de juros, para o BC, é exatamente a mesma coisa).

Portanto, a única razão porque os juros nominais permaneceram em 7,25% é que até a diretoria do BC percebe que não existem quaisquer condições políticas para um aumento de juros no momento.

Mas, se é assim, eles resolveram atacar o câmbio, que melhorou substancialmente depois que os juros básicos baixaram, mas ainda, segundo o professor Nakano e outros, estava longe do equilíbrio.

Com isso, agravam a situação das empresas nacionais, em especial das indústrias, que haviam começado a respirar um pouco, com a diminuição do subsídio cambial às importações.

Naturalmente, é inútil procurar na inflação a causa desse ataque do BC à taxa de câmbio. Tanto isso é verdade que a própria ata do Copom, depois de registrar que “a inflação em 2012 foi de 5,84% (6,50% em 2011) e, pelo nono ano consecutivo, situou-se dentro do intervalo de tolerância estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN)”, diz que o problema é que “a inflação de serviços segue em níveis elevados”.
Os preços dos serviços são exatamente aqueles que não são afetados pelos preços das importações. Por isso os serviços são chamados “não-tradable”, ou seja, produtos não comercializáveis internacionalmente. Portanto, subsídios cambiais, através da valorização artificial da moeda local e desvalorização do dólar são totalmente inúteis, até do ponto de vista do ilusionismo neoliberal.

Logo, aumentar os ganhos de bancos e especuladores, diminuídos com a queda nos juros básicos, parece ser o objetivo do BC, mais uma vez à custa do setor produtivo nacional.

Com a inflação é que esse ataque ao câmbio nada tem a ver.

Fonte: Hora do Povo

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