É lançado o Coletivo Bancário Antirracista no Sindicato dos Bancários do Pará

0

Na quarta-feira, dia 27 de novembro, ocorreu o lançamento do Coletivo Bancário Antirracista do Sindicato, com o tema “As lutas antirracistas e a classe trabalhadora”, em uma reunião on-line via Zoom, de 2h de duração. Estiveram presentes no lançamento a presidenta Tatiana Oliveira; a diretora e mediadora do debate, Ghyslaine Cunha; a convidada Kota Mulanji, dra. Regina Nogueira, que é médica e vice-presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional; o convidado Júlio César Santos, dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo e vice-presidente do Instituto Luiz Gama, além da diretoria da entidade, e bancárias e bancários sindicalizados.

Com um espaço aberto de diálogo e resgate da luta antirracista, o lançamento do coletivo buscou aproximar a categoria do histórico dessa luta e os caminhos a serem percorridos.  A reunião,  iniciou com saudações ancestrais que resgatam a cultura de matriz africana. O debate teve início com a questão do letramento racial e a importância de se ter o Dia da Consciência Negra, que neste ano foi pela primeira vez um feriado nacional.

Letramento racial 

Para Júlio César Santos, dirigente sindical, quando se fala na questão do letramento racial, é importante se atentar a esse termo porque ele passa por uma questão política, dos micro poderes, e por uma questão social. Segundo ele “O grande desafio dentro do letramento passa pela conscientização”.

Júlio relata que há dados sobre heteroidentificação no estado do Pará que mostram que a maioria da população se declara como parda, o que segundo ele, demonstra uma dificuldade para os indivíduos se autodeclararem como pessoas negras.

O letramento apresenta para as pessoas negras, desde a infância, o seu valor e desconstrói essa ideologia de que a população negra é a minoria. “Essa é uma luta do conjunto da sociedade. Nós vivemos um cenário em que somos minorizados, mas não somos minoria, somos a maior parte da população. A palavra tem força e quando nos vemos como minoria, parece que somos menores”, defende o dirigente.

Dia da Consciência Negra

“A grande forma de discriminação mantida a partir da escravidão foi desumanizar as pessoas, ou seja, tirar delas a sua humanidade. É por isso que ainda temos o Dia da Consciência Negra, porque ainda não atingimos esse status de humanidade”, afirma Kota Mulanji ao falar sobre a importância desta data e o porquê de não termos o “Dia da Consciência Humana” como é pedido pelas pessoas que criticam este novo feriado.

“A gente tem ainda uma categoria muito embranquecida, e o coletivo pode contribuir no avanço desse debate também”, afirma a presidenta do Sindicato, Tatiana Oliveira, que também reforçou a importância de se ter cotas nos concursos bancários, e que um dos objetivos do coletivo é aumentar a quantidade de bancárias e bancários negros.

Representatividade 

“Não sou a única pessoa negra na minha agência, mas ainda assim sei que a categoria ainda é muito embranquecida. Eu trabalho com empresários e estar sempre provando pra alguém que é capaz, é desgastante, mas é muito importante quando penso na representatividade”, disse a bancária do Itaú, Erika Tavares.

A bancária da Caixa, Danielle Santos é a única pessoa negra em sua agência e por esse motivo se sente sozinha. Ela afirma que sofre racismo todos os dias e diz estar muito feliz com a ideia do coletivo. Ela já passou por uma situação de conflito sobre a cor de sua própria pele durante o trabalho.

“Em um atendimento social, uma mulher chegou e quando perguntei sobre a cor dela, ela disse que tinha a minha cor, e quando eu disse que eu era preta ela disse que eu não era preta porque não tinha o cabelo ruim e também porque trabalhava em banco e eu não soube o que dizer”, relatou Danielle durante o debate. A bancária também expôs que a sua ausência de resposta se dava por causa da realidade que ela vivenciava, pois não havia nenhuma outra pessoa negra além dela na agência para que ela pudesse dizer o contrário.

A luta continua

“Esse é um momento importante de conscientização e que a gente deve fazer não só em novembro”, defende a diretora Heidiany Moreno.

“A gente tá muito tardiamente nessa luta, mesmo que já tenhamos participado dessa discussão antes”, afirma o diretor Márcio Saldanha em relação à participação do Sindicato na luta antirracista.

Kota Mulanji defende que a luta antirracista não é imediatista, que não podemos fazer ações que resolvam só uma questão individual, de uma pessoa apenas. Segundo ela, esse momento é extremamente importante para que se possa fazer a “pedagogia da encruzilhada”, que consiste em olhar para trás, para a frente e para os lados. Para Kota, lutar contra o racismo é fazer com que a entidade cumpra a sua missão.

O lançamento do Coletivo Bancário Antirracista terminou com saudações tradicionais de Kota Mulanji  e o convite da diretora Ghyslaine para o aniversário do Sindicato na sexta-feira (29), que celebrou a valorização da cultura negra antirracista.

Quer fazer parte do Coletivo? Manda mensagem pra gente! 91 984261399

Fonte: Bancários PA

Comments are closed.