Uma pesquisa nacional inédita vai mapear a situação socioeconômica da população LGBTQIA+ no Brasil, com o objetivo de dimensionar o impacto econômico da exclusão e oferecer dados concretos para orientar políticas públicas e ações de inclusão no mundo do trabalho. A pesquisa “O Custo da Exclusão LGBTI+ no Brasil” é um levantamento realizado pelos Institutos Matizes e Mais Diversidade, em parceria com o Banco Mundial, direcionado à toda a comunidade LGBTQIA+. Aberto até 12 de setembro de 2025, o questionário pode ser respondido por qualquer pessoa maior de 18 anos, de forma totalmente online, anônima e segura.
Para participar, acesse o formulário oficial da pesquisa. A participação é voluntária, anônima, sem custo e protegida pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
A proposta é preencher uma lacuna histórica. O Brasil carece de dados oficiais abrangentes sobre a comunidade LGBTQIA+, em especial no que se refere à renda, inserção no mercado formal e situações de discriminação no ambiente de trabalho. Sem essas informações, políticas públicas ficam no campo das intenções ou são baseadas em estimativas pouco precisas, o que compromete sua eficácia.
Para Walmir Siqueira, secretário de Políticas LGBTQIA+ da CUT Nacional, essa é uma oportunidade única. “Nós não temos ainda um direcionamento do Estado em saber quem somos e onde estamos. O IBGE, por exemplo, não nos incluiu no último Censo. Então, todas as pesquisas com esse objetivo são importantes, porque precisamos mostrar que existimos e quais são nossas necessidades e especificidades”, afirmou.
Walmir lembra que, embora a CUT e seus coletivos estaduais já realizem levantamentos internos, o alcance e a legitimidade de um estudo conduzido com metodologia rigorosa e reconhecimento internacional fazem diferença.
“Essa é a primeira pesquisa nacional pós-pandemia e pós-golpe com dados econômicos e do trabalho sobre nossa comunidade. Ela vai permitir termos dados atuais, oficiais e qualificados, elaborados externamente, não apenas levantamentos internos”, explicou.
O dirigente destaca que os resultados terão impacto direto na atuação sindical e no diálogo com governos. “Vamos poder usar esses dados para criar propostas internas, fortalecer as secretarias nos estados, dar formação e informação para nossas direções. E, para fora, reforça a necessidade de políticas de Estado para nossa comunidade”, disse.
Entre os resultados esperados, Walmir cita a abertura de novas frentes de negociação coletiva. “Quando identificarmos onde estamos, quais são as necessidades e em quais ramos de atividade trabalhamos, poderemos incluir cláusulas específicas de proteção e inclusão nas negociações coletivas. Hoje, essa preocupação ainda não é geral; ela aparece onde há militância, mas sem dados concretos não conseguimos ampliar para todo o país”, ressaltou.
A pesquisa investiga temas como perfil sociodemográfico, atividade econômica, renda de emprego e discriminação no trabalho. Para Walmir, esses dados terão força para exigir mudanças concretas. “Quando não há políticas públicas adequadas de saúde, por exemplo, aumentam os casos de adoecimento e até suicídio. Falta prevenção, falta qualificação no atendimento, falta preparo para lidar com demandas específicas — como homens trans que precisam de ginecologista ou mulheres trans que necessitam de atendimento especializado”, afirmou.
Ele observa que a ausência de estrutura adequada para acolhimento em casos de violência também é um reflexo do custo da exclusão. “Não temos, oficialmente, delegacias com estrutura para lidar com casos de violência contra pessoas LGBTQIA+. Muitas vezes usamos a estrutura da delegacia da mulher, mas ela não foi criada para atender todas as especificidades da nossa comunidade”, pontuou.
O secretário também vê a pesquisa como ferramenta para fortalecer a própria organização sindical. Os dados poderão subsidiar a criação de coletivos nos estados onde ainda não existem — atualmente, faltam seis — e orientar formações específicas.
“Esses números vão abrir várias negociações e possibilidades de melhorar nossa vida como trabalhadores e trabalhadoras LGBTQIA+. Eles também fortalecem nossas secretarias estaduais e a nacional, e nos dão argumentos para defender propostas dentro da CUT e junto ao poder público”, afirmou.
Segundo Walmir, a parceria com o Banco Mundial dá ao estudo um peso político que poderá influenciar decisões governamentais. “O peso que o Banco Mundial tem quando apresenta dados para o governo é enorme. Isso pode impulsionar políticas públicas e fortalecer parcerias, por exemplo, com o Ministério do Trabalho, que participou da elaboração da pesquisa”, disse.
O levantamento também é visto como oportunidade de mensurar, com base científica, o quanto a exclusão custa ao país. “A exclusão não prejudica apenas quem sofre discriminação. Ela impacta diretamente a economia e o desenvolvimento. Com dados concretos, podemos cobrar políticas de Estado sérias e duradouras”, reforçou.
Para que a pesquisa alcance esse potencial, a participação ampla é essencial. “Cada pessoa que responde ajuda a construir um retrato real da nossa comunidade. É a partir desse retrato que vamos conseguir fortalecer nossas secretarias, criar propostas concretas e melhorar a vida de trabalhadores e trabalhadoras LGBTI+”, disse Walmir.
Fonte: CUT Brasil