Fechamento de agências, condições de trabalho, home office, PLR e programa SuperCaixa estiveram no centro das críticas e pedidos de solução apresentados pela Comissão. Banco assume compromissos com alguns temas debatidos
Ainda durante a mesa de negociação entre a Comissão Executiva de Empregados da Caixa (CEE/Caixa) e representantes do banco, realizada na última sexta-feira (19), em Brasília (DF), foram debatidos outros temas de interesse na defesa dos direitos dos empregados da Caixa. O primeiro tema em debate na parte da tarde foi sobre o fechamento de agências. Os integrantes da CEE/Caixa demonstraram grande preocupação em relação ao assunto, com destaque para as transformações em agências digitais.
“Os clientes ficam desassistidos, tendo que se deslocar por quilômetros para serem atendidos. Tem aposentado que não tem outro lugar para sacar benefício. É um total descuido com as pessoas. A Caixa não é só um banco para dar lucro, ela tem uma função social muito forte. E, mesmo assim, quando a gente olha os dados, vê que uma parte enorme dos clientes ainda quer e precisa do atendimento presencial. Mas estão cortando isso sem olhar para o impacto”, disse Tesifon Quevedo Neto, representante da Federação dos Bancários de São Paulo e Mato Grosso do Sul (Feeb-SP/MS).
“Todas essas mudanças nas agências, toda essa transição tecnológica impacta fortemente a vida das pessoas. Quando a Caixa deixa de cumprir seu papel social, ela não apenas perde sua razão de existir, mas corre o risco de se descaracterizar”, complementa Cardoso, vice-presidente da Fenae e representante da Fetrafi/MG.
Rogério Campanate, representante da Federação das Trabalhadoras e dos Trabalhadores do Ramo Financeiro do Estado do Rio de Janeiro (Federa-RJ), ressaltou a necessidade de as mudanças serem negociadas com a representação dos trabalhadores para sejam mais efetivas.
“Se a empresa quer realmente ser ágil e eficiente, precisa mudar também a forma de enxergar e valorizar seus trabalhadores. Precisa ouvir a gente, incluir a gente nas decisões, respeitar as pessoas e garantir condições dignas de trabalho. Sem isso, nenhum sistema ou método novo vai dar certo”, enfatizou.
De acordo com Rafael de Castro, diretor da Contraf-CUT e diretor da Fenae, a Caixa deixou claro que o fechamento de agências precisou ser revertido, o que evidencia a desorganização de medidas tomadas sem debate. Por isso, ressaltamos a importância de um diálogo transparente e antecipado com as entidades.
“A Caixa apresentou diversos dados indicando que muitos processos estão sendo realizados fora das unidades físicas — usando cartões e habitação como exemplo — e registrando tudo como operações em canais alternativos. No entanto, nada se concretiza sem a entrevista presencial, assinaturas e autorizações feitas pelos empregados. Ou seja, a demanda continua concentrada nas unidades e isso precisa ser considerado. Mais do que evitar o fechamento, é necessário fortalecer a estrutura das agências para que possamos atender melhor e com mais eficiência”, declarou Rafael de Castro.
Caixas e tesoureiros
De acordo com a representante da Caixa, a questão das funções de caixa e tesoureiro, que já é um problema antigo, está sendo reavaliada. A equipe responsável reconhece a dificuldade enfrentada pelos funcionários que estão nessas funções há anos e se compromete a encontrar uma solução rápida, prometendo apresentar propostas baseadas em dados e números concretos que beneficiem os empregados até o final de outubro.
Tatiana Oliveira, do Sindicato dos Bancários do Pará, relembrou que na última reunião de negociação, realizada no Rio de Janeiro, a Caixa havia se comprometido ao afirmar que nenhum empregado com cargo de minuto ou por prazo perderia sua renda durante o processo de reestruturação da Caixa. “O banco precisa buscar soluções individualizadas para esses trabalhadores. A Caixa precisa manter o compromisso de garantir a remuneração desses empregados até que uma solução definitiva seja encontrada, pois o número de pessoas afetadas não deve ser tão alto e o problema pode ser resolvido com um diálogo”, enfatizou.
Home office
Sobre este tema, o representante do Sindicato dos Bancários de Brasília, Antônio Abdan, demonstrou alguns pontos de preocupação. Ele menciona que o modelo de trabalho híbrido está sendo implementado, mas que há uma falta de clareza nas normas, especialmente em relação à prioridade para empregados com deficiência (PCDs).
“A legislação prevê essa prioridade, mas a norma interna da Caixa não é explícita o suficiente. Isso faz com que a decisão fique a critério dos gestores, resultando em conflitos e reclamações constantes. A cartilha de procedimentos, que deveria orientar os gestores, não deixa essa prioridade clara. Além disso, existe uma regra que proíbe o trabalho remoto para empregados que já foram penalizados com suspensão disciplinar pode ser uma dupla penalização”, informou. Sobre este ponto, a representante da Caixa não soube detalhar e ficou de buscar mais esclarecimentos para próximas discussões.
PLR
A Comissão questionou uma possível mudança na forma de cálculo da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) da Caixa. Em resposta, a representante do banco garantiu que não houve alteração na metodologia. Ela afirmou que a regra foi aplicada exatamente como deveria. Para comprovar a transparência, ela se comprometeu a apresentar uma proposta detalhada na próxima negociação, na qual mostrará todos os cálculos e a metodologia usada para que a comissão entenda por que o valor não chegou ao teto de 45%.
SuperCaixa
A Comissão Executiva de Empregados expressou sérias preocupações com o programa SuperCaixa, alegando que ele não é transparente e pode prejudicar a remuneração dos funcionários, especialmente os de linha de frente nas agências. A principal crítica é que, embora a empresa afirme que a metodologia da PLR não mudou, as regras e limites do novo programa tornam praticamente impossível para a maioria dos funcionários alcançar a remuneração máxima, gerando desmotivação e frustração. A comissão sugere a suspensão temporária do programa para que as regras sejam revistas.
Compromissos assumidos pelo banco
- O representante do banco se comprometeu a deixar todas as agências digitais “no azul” (meta ajustada) até setembro, mas antecipou para julho/agosto/setembro, afirmando que está sendo cumprido e que, se houver distorções, serão corrigidas;
- Outro compromisso é de que as metas das agências digitais serão proporcionais ao número real de clientes atendidos em cada unidade e que serão recalibradas sempre que houver problemas.;
- Orientação para preservar as pessoas no reposicionamento (caixas, tesoureiros, funcionários de agências transformadas em digitais ou sem numerário) para evitar turbulências, também serão preservadas as funções efetivas dos empregados, incluindo a possibilidade da lateralidade (troca de função no mesmo nível e com mesma remuneração);
- Unidades com porta giratória permanecerão m com a estrutura de segurança; colocação ou retirada de portas somente serão realizadas após avaliação de prévia de segurança;
- A Caixa já comprou equipamentos para captura digital/biométrica (digitais) e comprometeu-se a distribuí-los em breve para as unidades, com apoio logístico.
Texto: Raquel Coelho/FENAE