Falta controle social em transição energética do Norte e Nordeste, aponta pesquisa

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A Secretaria Nacional de Meio Ambiente da CUT apresentou nesta quinta-feira (11) os dados parciais do Diagnóstico de Transição Energética Justa na Perspectiva da Classe Trabalhadora nas Regiões Norte e Nordeste, realizada pela Central em parceria com o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural de Biocombustíveis (Ineep).

O secretário nacional de Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio, explicou que o objetivo da pesquisa é produzir mais subsídio teórico para que trabalhadores e trabalhadoras possam participar de maneira qualificada do debate sobre as transições de matrizes energéticas.

“Para ser justa, como pregamos, a transição tem que contar com a participação e contribuição da classe trabalhadora. O que estamos vendo até agora é que essa agenda está sendo sequestrada quase que exclusivamente pelas empresas, pelo interesse do capital”, alertou Gaio.

O secretário chamou atenção ainda para a pressão que os países do Sul Global sofrem em produzir e exportar energia para o restante do mundo, e que a produção de energia verde, ou energia renovável, terá impacto negativo para os brasileiros se não contar com amplo debate social.

Apesar das discussões, programas e investidas acerca da transição energética ainda circularem com maior força a partir dos interesses das empresas, tanto o secretário quanto os outros participantes do seminário afirmam que o momento atual, a partir da eleição do presidente Lula e com a iminência de eventos internacionais de impacto como o G20, é propício para a incidência dos trabalhadores e trabalhadoras.

O seminário foi realizado de forma virtual e fechado para os sindicatos, centrais e outras organizações sociais que estão fazendo o debate das transições de matrizes energéticas.

Interesse econômico contra o controle e a proteção social

Com base nos relatos das populações diretamente atingidas pelos grandes empreendimentos de energias renováveis nas regiões Norte e Nordeste, em especial os parques eólicos e fotovoltaicos, para o pesquisador do Ineep, Mahatma Santos, responsável técnico pelo diagnóstico, já é possível afirmar que todas as etapas envolvendo a implantação desses parques giram em torno do interesse econômico da produção de energia de baixo carbono.

A primazia do interesse econômico, por sua vez, ainda segundo Santos, expõe a fragilidade da proteção e do controle social sobre o tema, permitindo o avanço acelerado desses parques sem a devida discussão.

“Percebemos que na maioria dos casos o Estado e as empresas atuam juntas, numa parceria público-privada, então há uma conivência, em especial de governos regionais, para que os interesses das populações locais sejam colocados de lado”, disse o pesquisador.

Entre os principais problemas levados para os moradores do entorno desses empreendimentos estão acidentes rodoviários, excesso de ruído, estradas destruídas pelo maquinário, rachaduras nas casas e cisternas.

Ainda sobre os impactos sociais e na vida dessas pessoas, está o aumento do trabalho doméstico, uma vez que as obras produzem muita sujeira, um impacto sentido especialmente pelas mulheres. A poeira levantada pelas obras fez crescer os índices de doenças respiratórias e doenças de pele.

A pesquisa mostrou ainda que sobre as mulheres foi verificado aumento do abuso sexual e de violência doméstica. Nas entrevistas, os moradores relataram aumento da ansiedade e de depressão depois que os empreendimentos chegaram às comunidades.

Santos afirmou, por fim, que nas relações de trabalho foi verificado um alto índices de assédio moral e políticas antissindicais praticadas pelas empresas responsáveis pelos parques, e que em boa medida são empresas com sede fora do Brasil.

 

Fonte: CUT Brasil

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