Guido Mantega quer que bancos privados baixem juros em até 40%

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O ministro da Fazenda, Guido Mantega, deu um mês de prazo para os bancos privados reduzirem suas taxas de juros em 30% a 40%. Ele disse que haverá fiscalização para evitar que as instituições financeiras compensem os juros menores aumentando as tarifas cobradas pelos serviços prestados aos clientes.

Mantega disse esperar que a redução atinja especialmente as taxas mais altas cobradas pelos bancos atualmente. No caso de empréstimos para compra de automóveis, ele reconhece ser impossível fazer um corte de 30%, porque os juros já são baixos.

“Em mais um mês, tudo isso tem que estar rodando”, afirmou Mantega, em entrevista à Folha e ao UOL. “Nossa intenção é ter um acompanhamento semanal dessa história. E eu vou cobrar.”

Segundo o Banco Central, os cinco maiores bancos cobram taxas de juros de até 54,11% ao ano no crédito pessoal para pessoa física, em média. Um corte de 40% reduziria a taxa para 32,46% ao ano. A seguir, trechos da entrevista feita na última quinta no Ministério da Fazenda.

Bancos e juros – Os bancos privados estão se organizando. Em mais um mês, tudo isso tem que estar rodando. Temos uma pesquisa semanal do Banco Central que mostra a taxa de juros que está sendo cobrada e o volume de crédito liberado. Se os bancos privados reduzirem 30%, 40% e aumentarem o volume, 30%, 40%, já estarão prestando um serviço à economia. Nossa intenção é ter um acompanhamento semanal dessa história.
E eu vou cobrar.

Tarifas bancárias – Eu vou fiscalizar a tarifa. Temos um sistema para fiscalizar isso. Os bancos públicos têm 44% do mercado interno. Isso se chama concorrência. Se eles [bancos privados]bobearem, a concorrência vai pegar os clientes. Acho que ninguém quer perder cliente.

Inadimplência – As regras atuais não favorecem o pagamento. Quando você tem uma inadimplência, o banco já provisionou e descontou 40% dos tributos que teria que pagar. Quando você faz a renegociação da dívida e se torna adimplente, teria que pagar os 40% na cabeça. Aí fica muito cara a transação. O cliente não vai querer pagar os 40% e o banco também não quer pagar.

O que vai ser feito é o seguinte: diferir ao longo do tempo o pagamento real. Aí fica viável. Já fizemos a legislação para até R$ 30 mil. Vou estender para até R$ 80 ou R$ 100 mil.

PIB em 2012 – Minha previsão [para o crescimento da economia]não é mais 4,5%, porque não dá. É exequível pensar em 3,5% a 4%. Nós temos sempre que perseguir mais.

“Levantador PIB” – Não tenho característica de animador de auditório. Não tenho essa virtude, essa qualidade. Agora, levantador de PIB é a minha função desde que eu assumi. Eu me considero um “levantador de PIB”.

Demanda sem fôlego – Acho isso quase uma piada. O endividamento das famílias brasileiras é dos menores do mundo. Sabe qual é o comprometimento de orçamento das famílias brasileiras [com o pagamento de dívidas]? Em torno de 20% a 22%. Sabe quanto é nos Estados Unidos? Na maioria dos países, é acima de 80%. Nós somos o lanterninha em termos de endividamento.

Em segundo lugar, a economia brasileira continua gerando empregos. Massa salarial é capacidade de consumo. Como a economia já está voltando a acelerar, o crédito está voltando a ser liberado. No mês de abril, houve um aumento de 8% no crédito de pessoa física e 4,5% no de pessoa jurídica. Está dando certo. Vai funcionar.

Plano B para crise – Nós temos todos os instrumentos para neutralizar. Temos o dobro de reservas que tínhamos em 2008. A crise não será igual à de 2008, será mais branda. Mas será séria do mesmo jeito.

Podemos liberar divisas em moeda estrangeira a partir dos leilões. A situação fiscal é melhor que em 2008. Temos já a expertise. Aprendemos em 2008 e 2009. Ali, a gente estava começando. Então, às vezes, demorava um mês, dois, para bolar uma medida. Agora somos muito rápidos.

Redução do superavit – Não vejo necessidade [de reduzir a economia feita pelo governo para pagar sua dívida]. Se houver uma hecatombe, aí claro usaremos todos os instrumentos para não deixar a economia derrapar.

Crise na Europa – [Hecatombe seria a] Grécia sair do Euro de uma forma desorganizada. Isso causa um problema em outros países da periferia que têm o sistema financeiro fragilizado e pode causar a saída de capitais de vários países. Pode criar um problema no comércio internacional, um travamento.

Inflação em 2012 – Será menor que a do ano passado. Por enquanto, está na casa do 5,2%, 5,1%. No ano passado, foi 6,5%. Se ficar onde está, fica bom para nós.

Lula x Dilma – A [presidente]Dilma [Rousseff] é mais um estilo técnico. É economista. O presidente Lula tem mais da classe política. Tem mais semelhança do que diferença entre os dois. Um governo é continuação do outro.

É claro que a Dilma tem a vantagem de que ela fez o aprendizado. Passou oito anos com o presidente Lula e com isso aprendeu um monte de coisa. Ficou preparada.

Ambos são sanguíneos. Personalidades fortes. Isso é necessário para dirigir grandes equipes e administrar o Brasil. Não dá para botar uma pessoa mole, que não cobre.

Sátiras de Dilma na TV – Assisti. Achei engraçado. Às vezes tem um pouco de baixaria, né? Por isso que eu não mostrei para ela [Dilma]. Não tive coragem. Acho que alguém disse que ela assistiu. Eu ouvi dizer que ela olhou e achou engraçado também.

Fonte: Folha de S.Paulo

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