Mulheres empreendedoras ocupam Complexo Cultural Bancário na 5ª Feira Feminista Solidária

0

Maria Fernandes, 24 anos, moradora do assentamento João Batista que fica lá em Castanhal, nordeste paraense, foi uma das expositoras, todas mulheres, que ocuparam o Complexo Cultural Bancário na 5ª Feira Feminista Solidária, nesta quinta-feira (23).

“É a primeira vez que participo deste evento e estou muito feliz com a oportunidade de vender alimentos saudáveis, sem veneno, da agricultura familiar, de lá da minha comunidade, onde nasci e moro. Obrigada Sindicato e Marcha Mundial das Mulheres”, agradece a assentada que também é estudante de licenciatura em educação do campo.

O evento é realizado pelo Sindicato dos Bancários do Pará, em parceria com a Marcha Mundial das Mulheres, movimento feminista internacional, junto com a Rede de Economia Solidária e Feminista, que tem como foco a participação das mulheres no contexto da economia solidária e também do empreendedorismo feminino.

“Eu acho muito importante para nós, eventos como esse; ainda mais a gente que vem discutindo a questão do empoderamento financeiro da mulher. E a Marcha junto com o Sindicato dos Bancários, fazendo parceria com a Rede de Economia Solidária Feminista, eles vêm nos dando possibilidades em ter mais autonomia, começar a pensar em realmente ser empreendedora de fato, porque tem mulheres que às vezes não levam a sério o seu empreendimento, e aí a partir do momento que a gente começa a discutir essa questão da economia feminista, a gente já começa a pensar que o trabalho é importante para a mulher, seja qual for, desde que seja digno”, comenta a empreendedora, Gercina Araújo, que participa desde a primeira edição do evento lá em 2019.

De acordo com a pesquisa Empreendedorismo Feminino 2022, realizada pelo Sebrae, a quantidade de mulheres donas de negócios no Brasil chegou a 10,3 milhões, um aumento de 30% de 2021 para 2022 e um recorde desde que o acompanhamento começou a ser feito, em 2016.

O levantamento do Sebrae aponta ainda que as empreendedoras atuam majoritariamente no setor de serviços e representam 34,4% do universo total de proprietários de empreendimentos no país.

“Não é a primeira vez que eu participo da Feira Feminista promovida pela Marcha e pelo Sindicato; e eu acho extremamente importante esse tipo de iniciativa porque muitas das vezes as mulheres empreendedoras não têm espaço para vender os seus produtos, e nesses espaços a gente consegue não somente o acolhimento, mas também expor os produtos para que outros consumidores também possam aproveitar e conhecer melhor o trabalho dessas pessoas”, avalia a advogada, Rosiane Trindade.

Muito mais que uma Feira

A 5ª Feira Feminista Solidária vai além da venda de artesanatos, comidas e bebidas, o evento é também de formação política, social e cultural. “Nós enquanto entidade sindical, eu como mulher, trabalhadora, mãe, feminista, militante da Marcha; temos que pensar além da nossa bolha e inserir nos nossos espaços de atuação, realidades do cotidiano não só da mulher bancária, mas das desempregadas, das mães solo, das vítimas de violência doméstica e familiar; e foi exatamente tudo isso que tentamos reunir em um só evento que durou mais de 5h aqui na nossa sede em Belém”, destaca a presidenta do Sindicato, Tatiana Oliveira.

Para a advogada Luanna Tomaz, espaços como a Feira, os sindicatos são fundamentais para o acolhimento de mulheres em situação de vulnerabilidade social e violência familiar e doméstica. “Porque em regra muitas vezes nós vamos estar sozinhas, porque a gente vai ser julgada pela mãe, a mãe julga, a vizinha julga, a cunhada que vai julgar ‘ah porque terminou aquela relação, ah como é que pode terminar uma família, você acabou com tua família’; então tem toda uma série de pessoas para te julgar. Então é muito importante que essa mulher tenha uma rede de solidariedade e apoio; e isso envolve os centros comunitários, os movimentos feministas, os movimentos sindicais. Nem toda mulher vai romper a relação, que seja conjugal, que seja familiar, de uma hora para outra”, explica a especialista e também professora de Direito Penal.

De acordo com o art. 5º da Lei Maria da Penha, violência doméstica e familiar contra a mulher é “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”.

E por falar na Lei Maria da Penha, a advogada Luanna Tomaz é pós-doutora em Violência contra a Mulher e autoria do livro “Lei Maria da Penha Comentada”, onde faz reflexões de anos de pesquisas sobre o tema, e uma delas é sobre a falta de mais políticas públicas e a implementação delas.

“Aqui no Pará, temos poucas delegacias especializadas, por exemplo, e a maioria delas se concentra na Região Metropolitana; além disso, não temos equipes multidisciplinares efetivas e que a vítima possa encontrar em um mesmo espaço quando for em busca de atendimento; tampouco ambientes voltados à recuperação de agressores”, avalia.

Assim como na área do direito penal, a da saúde também necessita de investimentos e formação dos profissionais para atender às vítimas de violência. “Quando a mulher agredida vai na instituição de saúde, é porque ela tem alguma coisa a dizer, mesmo sem abrir a boca e falar verbalmente, ela tem uma história a nos contar. E aqui no município de Belém, infelizmente a nossa rede, ela ainda não é estruturada para que a gente possa realmente detectar o que de fato ela precisa, porque não é só a violência física, nem só a violência sexual. E a gente, com formação específica, também pode ter esse indício, a gente pode conseguir levantar esse indício de que realmente ela esteja sofrendo uma violência, especialmente às equipes de saúde da família”, ressalta a enfermeira, Danielle Cruz.

Ela e a advogada, Luanna Tomaz, foram uma das convidadas para a roda de conversa ‘Cuidado ligado à Saúde e Violência’.

‘Basta! Não irão nos calar!’

O movimento sindical bancário conquistou, em 2020, um aditivo à CCT que dá as diretrizes para a criação de um programa de prevenção à prática de violência doméstica e familiar contra bancárias, incluindo a criação de canais de acolhimento, orientação e auxílio às vítimas, através do projeto “Basta! Não irão nos calar!”. E, finalmente, em 2022, a cláusula de combate ao assédio sexual.

“Quero dizer que a nossa categoria, nós bancárias e bancários, trabalhadores do ramo financeiro fomos uma das primeiras categorias a provocar a questão do debate do assédio sexual e do assédio moral no trabalho; nos orgulhamos muito disso. Mas achamos que isso não é o suficiente, nós achamos que é importante garantir que todas as mulheres, independente de serem assalariadas ou não, tenham acesso à informação, tenham acesso à oportunidade. Enquanto o Sindicato que se considera cidadão, que tenha responsabilidade social, não apenas com a luta salarial e econômica, nós trabalhamos para garantir que esse espaço esteja sempre ativo, cada vez mais participativo. Muito obrigada”, afirma a diretora de Mulheres do Sindicato, Salete Gomes.

A iniciativa “Basta! Não irão nos calar!” ainda não chegou ao Pará, mas está na lista de prioridades da gestão ‘Unidade pra Avançar’, que pela primeira na história do Sindicato, tem uma diretoria paritária.

A 5ª edição da Feira Feminista Solidária ainda trouxe oficina de percussão com a mestra Antonia Conceição; e encerrou a programação ao som da cantora paraense Alba Mariah que trouxe um repertório musical que fez jus ao nome do evento e abriu o show entando ‘Mulheres do Brasil’ de Maria Bethânia.

 

Fonte: Bancários PA com Contraf-CUT

Comments are closed.