No final de dezembro, o governador da Califórnia, Gavain Newsom, declarou estado de emergência por conta de um aumento nos casos de gripe aviária entre o gado leiteiro local. O anúncio ocorreu junto ao registro do primeiro caso grave da doença em humano.
Ambas situações acenderam um alerta de uma possível expansão da doença causada pelo vírus H5N1. E, para entender esse avanço e quais os riscos, Opera Mundi conversou com Cláudio Maierovich, médico sanitarista da Fiocruz de Brasília.
Para Maierovich, não é possível ainda ter certezas do que pode resultar desse avanço de casos da gripe aviária. Porém, o especialista afirmou que o “risco vem aumentando progressivamente”. “E o mundo precisa estar preparado para a possibilidade de epidemias”, completou.
O médico sanitarista recordou que o vírus influenza H5N1 foi identificado como perigo importante no final da década de 90, quando “se espalhou nas criações de aves e houve alguns casos de transmissão para humanos, muito graves, com alta letalidade”.
À época, contou Maierovich, houve um temor de que o vírus sofresse uma mutação que o tornasse transmissível de uma pessoa para outra, “o que aparentemente não aconteceu até hoje, exceto em raríssimas ocasiões de contato familiar intenso com pessoas doentes”.
Vírus em gado nos EUA
Maierovich disse à reportagem que, nos últimos cinco anos, o vírus espalhou-se mais, atingindo aves de vida livre e de criação em todos os continentes.
Segundo ele, essa situação fez “crescer a preocupação, passou a causar doença e surtos em mamíferos, as chamadas epizootias, em mamíferos de vida marinha, como focas e elefantes marinhos, e esporadicamente em mamíferos de criação”.
Agora, com o avanço de casos nos Estados Unidos, e possivelmente em outros países, de acordo com o especialista, a situação pode significar que há uma “versão do vírus em ampla circulação” que é “facilmente” transmitido entre animais de algumas espécies de mamíferos.
“Essa ampla circulação aumenta a probabilidade de que alguma mutação favoreça a transmissão entre humanos e isso possa desencadear epidemias de doença grave, com alta letalidade”, disse.
Maierovich recordou que, com o inverno no hemisfério norte, “é um período em que aumenta a circulação dos vírus mais comuns causadores de gripe”. “[Essa] circulação simultânea intensa aumenta também a possibilidade de que interações entre os tipos favoreçam a adaptação do H5N1 para a transmissão interpessoal”, declarou.
Qual o risco do H5N1 no Brasil?
Opera Mundi questionou Maierovich sobre os riscos de que a gripe chegue ao Brasil.
O especialista entende que o país é um local de muitas interações com os Estados Unidos, sejam elas comerciais ou de turismo. Nesse sentido, afirmou que, caso o vírus passar a ser transmitido entre pessoas por via respiratória, “é grande a chance de que se torne pandêmico”.
“É importante que haja monitoramento dos vírus em circulação, planos de resposta e preparação com produção de vacinas e estoque de medicamentos antivirais”, declarou.
Fonte: Opera Mundi