Troca de experiências e novos conhecimentos, com certeza esses foram os dois maiores aprendizados que dirigentes sindicais levaram consigo após os três dias da I Jornada de Formação Sindical em Belém, que contou com a participação de mais de 15 sindicatos e associações.
A abertura do evento, na sede do Sindicato dos Urbanitários, começou com um breve histórico sobre a evolução da classe trabalhadora no mundo. A diretora executiva da Solidarity Center, Jana Silverman relembrou os principais fatos que marcaram a luta dos trabalhadores e trabalhadoras durante a formação dos primeiros sindicatos de categorias. “O movimento sindical avançou primeiro na Europa e nos Estados Unidos e na segunda metade do século XIX alcançou países da América Latina até chegar ao Brasil, onde também sofreu fortes repressões que duram até hoje”, lembra.
Para Jana, as dificuldades que os movimentos encontraram e encontram até hoje servem de estímulo para o fortalecimento, crescimento e organização das classes. “No Chile, qualquer empresa que tenha 3 ou mais fábricas é obrigada a ter negociação coletiva com os trabalhadores. Por isso é importante conhecermos essa história de lutas e conquistas passadas, para que hoje possamos construir a nossa, unindo forças, trocando e fomentando experiências, pois só assim poderemos enfrentar o capitalismo”, afirma a dirigente sindical.
Sindicalização x Sindicalismo – Segundo a diretora executiva da Solidarity Center, a média de sindicalizações no mundo atinge pouco mais de 20% dos trabalhadores e trabalhadoras. As estatísticas atuais levaram os dirigentes sindicais a discutir os motivos que podem estar ou não contribuindo para esse afastamento da categoria de sua base e o que deve ser feito para mudar essa realidade.
Na contramão das filiações, o Sindicato dos Bancários do Pará tem mais de 60% de sua base sindicalizada. “Nosso objetivo é filiar mais bancários e bancárias em todo o Pará. Para isso, seguimos com nossa Campanha de Sindicalização, Caravanas Bancárias, pois estar próximo da base, no dia-a-dia dos bancários e bancárias, é o segredo para termos uma entidade fortalecida e representativa dos direitos e demandas dos trabalhadores e trabalhadoras do ramo financeiro no Estado”, destaca a presidenta da entidade, Rosalina Amorim.
Sistema Financeiro Nacional – O atual Sistema Financeiro Nacional (SFN) foi outro tema bastante discutido durante a formação. O debate foi organizado pelo ex-presidente do Sindicato dos Bancários do Pará e atual diretor da Fetec-CN, Alberto Cunha.
“O Banco Central tem hoje todo poder de regular o SFN e isso deveria ser feito em conjunto com a sociedade que utiliza diariamente os serviços oferecidos pelo sistema que deveria ser controlado democraticamente pela população, direcionando efetivamente ao desenvolvimento do país e aos interesses da coletividade. O Sistema Financeiro não estimula a produtividade na sociedade, pelo contrário, ele é um parasita da sociedade”, destacou o dirigente sindical.
Para ele, é preciso democratização e controle do Sistema Financeiro Nacional, prestações de contas (do Cade e Bacen) nos processos de fusões e aquisições, direcionamento do créditos, regulação dos juros e universalização dos serviços financeiros. “Já foi entregue à presidenta Dilma uma proposta para a realização de uma Conferência do Sistema Financeiro”, informou Alberto Cunha.
Para os bancários e bancárias, enquanto a democratização do SFN não acontece, o atendimento prestado à população fica cada vez mais precário. “O que vemos hoje é um surgimento desenfreado de correspondentes bancários sem um mínimo de segurança necessária. Não é a toa que as farmácias têm sido alvo frequente de criminosos”, destacou o diretor do Sindicato dos Bancários, Sandro Mattos.
“Imagine se a sociedade não tivesse o Banco do Brasil e a Caixa para conseguir financiamento e empréstimos com juros menores. A situação seria bem pior do que é hoje, por isso temos que lutar pelo fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional”, defendeu o diretor de saúde do Sindicato, Gilmar Santos.
“Queremos um SFN controlado democraticamente pela sociedade, direcionado, efetivamente, ao desenvolvimento do país e aos interesses da coletividade, fazendo os bancos cumprirem a sua função social”, ratificou a presidenta do Sindicato dos Bancários, Rosalina Amorim.
Terceirização – A I Jornada de Formação Sindical encerrou com o debate sobre a terceirização. O diretor do Sindicato dos Bancários e funcionário do Banco do Brasil em Belém, Gilmar Santos foi quem coordenou a mesa. O dirigente começou o debate falando sobre o Projeto de Lei 4330, do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), e o substitutivo do deputado Artur Maia (PMDB-BA), relator do projeto conhecido como o PL da Terceirização.
“Esse projeto é uma forte ameaça à classe trabalhadora em todo o país, pois coloca em risco o emprego de cada trabalhador que pode perder o emprego fixo e se tornar um prestador de serviço eventualmente, em condições precarizadas. Pois o principal objetivo da terceirização é a redução dos custos com pessoal, o que para os empresários significa aumento da lucratividade. Devemos lutar contra a aprovação desse projeto através de mobilizações, paralisações e conscientização da classe e da sociedade em geral”, explica Gilmar Santos.
A categoria bancária também sofre outra ameaça que vem dos próprios banqueiros: os bancos, em parceria com as empresas de telefonia, começam a lançar uma nova modalidade de serviços e operações financeiras via celular.
A Medida Provisória (MP) 615, que foi assinada sem qualquer diálogo com o movimento sindical, cria uma espécie de “moeda virtual”, ou seja, o indivíduo poderá realizar praticamente todo o tipo de operação financeira em seu próprio celular: pagamentos, transferências e aplicações.
Os bancos brasileiros utilizarão duas tecnologias para oferecer serviços bancários via celular: uma, que já está sendo aplicada no Quênia e na Nigéria, para os clientes mais pobres.
O outro modelo, utilizado no Japão, será para os grandes correntistas. As parcerias entre bancos e operadoras de telefonia celular já estão firmadas e o novo modelo de atendimento já está pronto para funcionar, inclusive nos bancos públicos.
A Contraf-CUT já solicitou uma audiência com o governo para discutir o assunto.
Fonte: Bancários PA
Fotos: Carol Bernardo