“Esse ano, é um ano que a gente não tem Campanha Salarial propriamente dita, em termos de negociar índices de reajuste, de salário, a nossa Convenção Coletiva; mas nós temos questões importantes nos bancos públicos sendo discutidas. E se eu for pontuar aqui, na Caixa: Saúde Caixa, mas também vários outros assuntos relacionados às condições de trabalho, mudanças que a Caixa tem feito, reestruturações que passam pela tecnologia. No Banco do Brasil tem o desafio da CASSI, de outros temas também. De condições de trabalho, porque a cobrança no Banco do Brasil está muito grande. No Banco da Amazônia, a gente está com a discussão da PLR, do Plano de Cargos e Salários, do próprio Programa Amazônia Saúde, da situação da Casf. No Banpará, os embates aí entorno da tecnologia também, o cumprimento do Acordo Coletivo de Trabalho. Os bancos privados, nem se fala, porque a agenda dos bancos privados para a categoria é enxugamento do máximo de cargos e de postos de trabalho possíveis”, elencou a presidenta do Sindicato e membra do Comando Nacional, Tatiana Oliveira.
Nos dias 1º e 2 de agosto, abrindo o mês da categoria bancária, mais de 90 delegados, delegadas e dirigentes sindicais, de todo o Pará, se reuniram na sede do Sindicato em Belém para a 20ª Conferência Estadual Bancária e juntos construírem o calendário de lutas e mobilizações dos próximos meses.
“O que nós fazemos agora, nos define no futuro. É muito importante saber disso, é que esses períodos históricos, que a saída desse período, vai definir o mundo, por um período longo. Então, a gente está no meio dessa disputa e nós, do movimento sindical fazemos parte dessa disputa em um universo muito mais amplo do que a nossa categoria. E uma maneira mais efetiva de vocês organizarem, não é só ter uma categoria organizada; isso vocês fazem muito bem; mas é dar o sentido de classe. Nós temos que voltar à ideia de juntar a classe trabalhadora frente aos desafios que a gente tem. A melhor forma de os bancários fazerem isso é ajudar as centrais sindicais, participar; sozinhos a gente não consegue”, explicou o secretário-geral da Central Sindical das Américas (CSA), Rafael Freire.
A mesma tecnologia que possibilitou a participação online de Rafael lá do Uruguai é a que faz o setor bancário crescer duas vezes mais rápido do que a média mundial. Segundo o economista do Dieese, Gustavo Cavarzan, tal crescimento pode ser explicado pela pouca oferta de instituições financeiras no Brasil, que ganham clientes oferecendo os melhores serviços através da tecnologia, que também tem impactado na redução do emprego bancário.
“A tecnologia junto com outros processos, como reforma trabalhista, terceirização, têm contribuído para o desemprego no setor financeiro quando se fala em ocupação bancária. Essa teve uma redução de noventa mil pessoas, isso não é pouco; em contrapartida, as cooperativas de crédito estão crescendo. Tem um seguimento aqui que eu classifiquei como categorias genéricas, que são vínculos de trabalho, que estão inseridos em empresas financeiras”, comentou Gustavo.
Mas os impactos no trabalho vão além. “Cresce a terceirização, cresce a externalização de determinados serviços que antes eram feitos dentro dos bancos para outros tipos de instituições, mas também uma mudança profunda no processo de trabalho, uma sobrecarga de trabalho, metas abusivas, assédio; as denúncias de assédio moral, assédio sexual nessas últimas décadas; é uma coisa que cresceu exponencialmente. Nos anos 90 quando a gente estudava as doenças ocupacionais, a gente falava de LER/ Dort; o quê que a gente fala hoje? A gente fala de doenças psicossociais. No Brasil, só no ano passado, tiveram 500.000 afastamentos do trabalho motivados por doenças psíquicas, nós estamos vivendo um outro contexto”, pontua a pesquisadora da Unicamp e também economista, Marilane Teixeira.
Além do debate sobre as “Transformações no mundo do trabalho e seus impactos, jornada, avanços tecnológicos, desigualdade de gênero”, no segundo dia de Conferência, teve também um bate-papo com a jornalista do Sindicato, Daiane Coelho, sobre “Comunicação e Mobilização: Desafios e Potências na Era Digital”. O quê que é a comunicação sindical na era das redes? É divulgar ação; mas ela não é só isso. Ela também é construir consciência de classe, fortalecer a organização e disputar sentidos. A gente costuma dizer que onde em um sindicato forte, com certeza tem uma comunicação presente”, destacou a jornalista.
Conferência como espaço de formação e também de certificação
O primeiro dia de evento encerrou com a certificação de mais de 50 delegadas e delegados eleitos em todo o Pará, alguns assumindo pela primeira vez a missão em ser o representante do Sindicato no local de trabalho, como Leonardo Damasceno, bancário da Caixa em Igarapé-Miri.
“Eu já conhecia o Sindicato dos Bancários de outras épocas, e para mim sempre foi um sindicato de luta, um dos mais fortes do Brasil historicamente. Para mim era algo automático, eu lutar pelas melhorias da categoria, da sociedade como um todo. Eu acho que eu não teria como eu não ser delegado sindical, não importa o tempo, se fossem nove meses de Caixa, um ano, vinte ou trinta anos. E aí coincidiu, quando eu entrei na Caixa, entrei em ano de eleição para delegado sindical, e aí foi automático, e por isso que eu estou aqui hoje”, lembrou Leonardo.
Outro bancário e delegado pela primeira veio de Itaituba. Mineiro, chegou há pouco mais de dois anos no Pará para trabalhar no Banco da Amazônia e seguir a luta da Pessoa com Deficiência (PCD). “Eu já sou velhinho, sessenta anos de idade, e aí tem pouco tempo na área do banco, mas eu tenho um histórico de mais de trinta anos militando nas questões da Pessoa com Deficiência. Então, toda a minha vida eu sempre tive esse lado social, e no banco, assim que eu me habituei, passaram os dois primeiros anos, que eu já me situei, eu falei – eu tenho que voltar para o que eu amo fazer, e o caminho vai ser o Sindicato”, comenta o bancário Eustáquio de Oliveira que também visitava a sede da entidade pela primeira vez.
“Mais do que um espaço físico é a recepção e a preocupação de toda a equipe com a questão da acessibilidade; com a questão do que já tem e do que precisa ser melhorado. Eu saio daqui satisfeito, satisfeito em ver o empenho do Sindicato em fazer o seu melhor pelos filiados”, reconheceu Eustáquio.
“Bom mesmo é ser um realista esperançoso”
“O sistema quer que a gente vire um bagaço, quer espremer a gente, quer que a gente perca toda a esperança. Quem está desesperançoso, não se organiza. Porque se eu não acredito que eu posso interferir e mudar a realidade de alguma forma, o quê que eu estou fazendo aqui numa sexta-feira à noite? Se a gente acredita, é isso que nos move. É a vontade de se organizar e que a gente junto consegue exercer alguma mudança, então é isso que vai nos mover; esperança é fundamental”, afirmou Tatiana Oliveira.
Rumo à 27ª Conferência Nacional Bancária
Ao final dos dois de eventos, a categoria elegeu a delegação que irá representar o Pará na 27ª Conferência Nacional Bancária nos dias 22 a 24 de agosto, em São Paulo.
Tatiana Oliveira – delegada nata (Belém)
Cristiano Moreno (Belém)
Eustáquio de Oliveira (Itaituba)
Everton Cunha (Belém)
Heidiany Moreno (Marabá)
Erika Tavares (Belém)
José Ribamar Nascimento (Belém)
José Maria Gonçalves (Belém)
Lia Karla Pereira (Belém)
Maria Marcelina Portela (Altamira)
Salete Gomes (Belém)
Otoniel Costa (Belém)
Rafaela Carletto (Santarém)
Serginho, presente!
Na semana seguinte da Conferência, fez 5 meses que a categoria bancária perdeu um companheiro de luta, dirigente sindical, pai, avô, amigo, esposo, Serginho Trindade, como era carinhosamente chamado.
Se estivesse vivo, Serginho com certeza estaria presente na Conferência, e de certa forma esteve. A 20ª Conferência Estadual Bancária encerrou com um minuto de palmas em homenagem a ele seguido de “Serginho, presente, hoje e para sempre em nossos corações!”
Confira alguns registros da Conferência
Fonte: Bancários PA