AUSÊNCIA: Como um banco que alardeia aos quatros cantos sua presença pode ser tão ausente com seus funcionários?

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Neemias Souza Rodrigues*


Após uma Campanha Nacional exitosa os trabalhadores e trabalhadoras dos bancos retomam as discussões específicas com os patrões. Porém, no Bradesco a situação é diferente. O que retorna são os superficiais bate-papos. Os representantes dos trabalhadores são recebidos na Cidade de Deus, conversam com a direção, mas a empresa não abre nenhum canal de negociação.

O auxílio educação, por exemplo, está na pauta dos trabalhadores há anos. O banco, por sua vez, já tem a resposta pronta na mesa de seus representantes. Segundo a empresa, “o Bradesco apresenta vantagens que outros bancos não apresentam, temos a Fundação Bradesco e não exigimos curso superior para ingressar no banco”.

Por se tratar de uma resposta padrão, não há espaço para discutir nada. O resultado disso é que o Bradesco continua sendo o único grande banco do Brasil que não oferece nenhum tipo de auxílio educacional. 

Com o Plano de Cargos e Salários (PCS) não é diferente. O banco informa que tem carreira fechada e que todos têm oportunidade de crescer na empresa. A resposta pronta é uma meia verdade. Quem realmente tem oportunidade dentro do banco? Aonde são discutidos os critérios de crescimento na carreira e quem os define? Por que os funcionários são impedidos de opinar sobre suas próprias carreiras e o preenchimento dos cargos do banco? São apenas algumas das muitas dúvidas dos trabalhadores não respondidas pelo Bradesco porque não há negociação.

E quanto à saúde? Quando tratamos dos problemas com o plano de saúde, que se chama Bradesco Saúde, a resposta da empresa é a seguinte: “Este é um problema do plano de saúde”. Como assim? O plano não é do próprio banco? Se não, então que seja substituído. O que queremos é resolver os problemas pelo qual os trabalhadores estão submetidos, como a eterna falta de profissionais credenciados no interior dos estados e até em algumas capitais. Atualmente estamos conversando sobre o assédio moral. Houve duas reuniões sobre o tema, com trabalhadores e empresa expondo seus pontos de vista. Esta é uma ótima oportunidade para que o Bradesco comece a negociar de fato.

Ainda sobre a questão da saúde, o Bradesco distribuiu aos funcionários o livro “Presença e Superação”, de Wanderley Pires. O autor elabora alguns pontos com objetivo de melhorar o desempenho dos funcionários no trabalho e na qualidade de vida.

O fato é que as ações propostas no livro se traduzem numa política incompleta, unilateral e no mínimo duvidosa para tratar da saúde e qualidade de vida dos trabalhadores. Em um dos trechos, o autor diz que “as organizações precisam renovar continuamente o seu quadro de funcionários” e que cada trabalhador deve se posicionar como uma unidade de negócios, como uma marca (Pires, 14).

Na prática, renovar com frequência o quadro de funcionários significa demitir constantemente, uma vez que para se aposentar no Bradesco é preciso bem mais do que superação.

Contudo, como a leitura foi recomendada a todos os empregados, destaco aos iluminados executivos do banco uma das citações contidas no livro para que repensem a forma de relacionamento com os trabalhadores e seus representantes: “Os problemas do mundo não serão resolvidos por céticos cujos horizontes se limitam à realidade evidente. Precisamos de homens capazes de imaginar o que nunca existiu” (John Fitzgerald Kennedy).

 

*Neemias Souza Rodrigues é vice-presidente da Contraf-CUT e funcionário do Bradesco.

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