Azeite, café, chocolate, laranjas, uvas. Até mesmo arroz e feijão. Cada um destes alimentos, em diferentes medidas, corre risco de entrar em escassez graças ao aquecimento global. As mudanças climáticas que crescem ano a ano, mês a mês, colocam em xeque a produção de algumas destas comidas do dia a dia. No Brasil, por exemplo, o preço do protagonista da feijoada pode explodir nos supermercados. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), pode até faltar a partir de 2050.
A falta destes alimentos saudáveis das refeições pode impactar de forma negativa na saúde da população. Em paralelo à pesquisa da Embrapa, a Comissão Global sobre Adaptação – grupo financiado por entidades como a ONU e o Banco Mundial – prevê que o aquecimento global deve reduzir a produtividade das plantações em 30% até 2050. Os cientistas ainda alertam que os principais impactados serão os pequenos agricultores. Justamente quem produz o alimento que o brasileiro come.
Agronegócio e aquecimento global
Não, o agronegócio de larga escala, o latifundio, não alimenta o povo brasileiro. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 70% dos alimentos que chegam á mesa dos brasileiros vêm da agricultura familiar. Além disso, gera emprego e renda a milhões. Enquanto isso, o agronegócio atende a outras demandas. Largas plantações de soja destinados a pasto de gado ou exportação. Poucos empregos para áreas imensas devastadas. Segundo os dados do Censo Agropecuário 2017, 1% dos empreendimentos do agro dominam quase 50% das terras rurais brasileiras.
Para piorar, o agronegócio avança cada vez mais sobre terras preservadas. O resultado são incêndios como vistos neste inverno. Queimadas que amplificam os efeitos do aquecimento global em um efeito bola de neve. Em longo prazo, a devastação dos biomas que contam com grande responsabilidade do agronegócio pode levar, inclusive, à desertificação de algumas áreas no Brasil. Este processo deve afetar, especialmente, áreas de cerrado e caatinga, além do bioma amazônico. Assim, o aquecimento global e a irresponsabilidade dos setores produtivos pode inviabilizar a produção de cacau. Consecutivamente, o chocolate.
Embora estes biomas, além do Pantanal, estejam mais vulneráveis, outra área pode sofrer consequências severas: o Sudeste. Posicionado geograficamente em uma região propensa à desertificação, o regime de chuvas da Amazônia impede a formação de um grande deserto que englobaria o estado de São Paulo, por exemplo.
Alimentos em risco
Os efeitos já são sensíveis. E o Brasil virou um laboratório do aquecimento global. Secas históricas, inundações sem precedentes, geadas fora de época, calor extremo. Tudo isso tem virado rotina nos últimos anos no país. A onda de seca no Sudeste aliado às queimadas na Amazônia e no Pantanal ameaçam as próximas safras de café. Já as inundações no Rio Grande do Sul em maio levaram o governo a analisar a possibilidade de estocar arroz, já que o estado é um dos principais produtores deste alimento básico.
O resultado será a explosão nos preços, com possível escassez. No ano anterior, queimadas no Sul da Europa fizeram o preço do azeite disparar. Ainda em 2023, Reino Unido, Espanha e Marrocos perderam boa parte das colheitas de tomate. Em julho daquele ano, a Irlanda anunciou um prejuízo de mais de 5 milhões de dólares em perdas devido às secas que impediram o crescimento de batatas. Na Índia, tempestades fora do comum impactaram na produção de milho.
De acordo com o levantamento da Comissão Global sobre Adaptação, o aquecimento global pode tornar 30% de toda a área de agricultura do mundo inviável. Então, ao preservar alimentos básicos e monocultura, as produções especiais podem despencar. Isso quer dizer que frutas como pêssego e laranja, além de cacau e azeitona, já citados, podem sofrer de forma mais brusca. Outra produção em xeque é a de uvas em certas regiões. Austrália e América do Sul tiveram, em 2023, a menor produção em 2023 desde 1961.
Agricultura familiar contra o aquecimento global
Então, espera-se ações mais contundentes das autoridades mundiais para evitar estes problemas. Além de medidas bruscas contra o aquecimento global, o caminho, para especialistas, passa por rever as formas de produção capitalista. A ONU alerta que se o ritmo do aquecimento global não for reduzido, teremos insegurança alimentar no mundo nas próximas décadas. Uma das saídas pode ser a ampliação da produção de orgânicos e valorização da agricultura familiar.
Fonte: TVT News