Concurso Literário de crônicas da CUT-PA premia temas sobre o meio ambiente

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A CUT/PA realizou o Concurso Literário de Crônicas voltado a trabalhadoras e trabalhadores sindicais com o objetivo de fomentar o debate e refletir sobre a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, também chamada de COP30, prevista para ocorrer em novembro de 2025, na cidade de Belém, no Pará. Além disso, analisar a relação com as divergentes realidades da classe trabalhadora do campo, da cidade e das águas e o legado que este evento proporcionará ao ser realizado na Amazônia em 2025. Por isso a escolha do tema; “COP-30, trabalho, meio ambiente… o que isso tudo tem a ver com as nossas vidas?”

São quase 170 entidades abrangidas, entre sindicatos, federações e confederações participantes no Pará, e um time de júri, que analisou os seguintes critérios: Explora aspectos considerados na chamada; Relação com o tema do Concurso Literário; Domínio da escrita formal em língua portuguesa; Compreensão das questões a serem exploradas; Relação com a vida dos sujeitos amazônicos entre outros, para escolher três trabalhos, os textos com as melhores avaliações receberam premiação em dinheiro como incentivo e valorização dos talentos e dedicação a escrita nesta semana em se comemora o dia do Meio Ambiente.

“O objetivo do concurso é relacionar nossas pautas, incluir o olhar sobre as diferentes realidades paraenses com a voz da classe trabalhadora”, explica a presidenta da CUT/PA Vera Paoloni.” Foi com muita alegria que recebemos os textos e o resultado da competição, são histórias emocionantes e criativas. A premiação será concedida aos três primeiros colocados, as histórias serão compartilhadas com o público. E já te adianto que todas valem a leitura”, completou.

O resultado da competição contou com duas mulheres e um homem que já receberam suas respectivas premiações. A primeira colocação foi Caira Alves, agricultora, Secretária de Mulheres do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabá e Secretária de Juventude da CUT/PA, que escreveu a crônica intitulada “É pelo bem viver que devemos viver”, e alcançou nota máxima do júri.

Em segundo lugar ficou o texto “Do chão da fábrica”, de autoria do Marcelo Santos, do município de Santarém, e em terceiro “O menino do mato”, da Ghyslaine Cunha, de Belém, ambos servidores do Banpará e sindicalistas do Sindicato dos Bancários e Bancárias do Pará.

“É notório que quando fazemos a inscrição num concurso temos a perspectiva de alcançar as premiações, mas eu não imaginei que ganharia o 1º lugar, foi uma surpresa maravilhosa e ainda na semana do meu aniversário”, destacou Caira Alves ganhadora do concurso. “Vejo a escrita como um espaço de explanar nossas dores, ilusões, nossas críticas e contribuições em relação a tantos problemas, sobretudo atuais. Vale enfatizar que a crônica é o resultado das minhas vivencias em um território em que os agentes sociais resistem todos os dias à força do capital que cada vez mais se reinventa e se expande, à minha militância no movimento sindical e a realidade vista no percurso da viagem para o “Grito da Terra Brasil” e a “Marcha das Centrais”, completou.

Parabéns a Caira Alves, Marcelo Santos e Ghyslaine Cunha que se dedicaram a escrever as crônicas e também a todo time que participou e ajudou a escolher os textos.

As crônicas vencedoras

1 º lugar – É Pelo bem viver que devemos viver

Sabe, ao atravessar esse país de norte, nordeste, centro-oeste, sul e sudeste é inevitável a paisagem nos chamar a atenção, seja pelas belezas naturais, culturais, pelas desigualdades sociais, seja pela devastação ambiental. Fazendonas…soja,milho,sorgo…caminhões cheios degrãos, desmatamento! É um ecocídio o que tem acontecido no nosso país.

Diversidade de culturas, identidades,vivências sendo substituídas pelas “grandes” plantações. Será o fim de uma geração? Enquanto me desloco de Marabá-PA à Brasília-DF de ônibus rumo ao 24º Grito da Terra Brasil e a Marcha das Centrais de um lado simples casas, olho para o outro me perco no horizonte da imensidão dos plantios que horas se entrecruzam com uma árvore em seu meio, seria representação da resistência ou um pedido de socorro? As florestas deram lugar ao gado (as obrigaram sem dó nem piedade), o gado tem dado lugar à soja, e quem esteve antesdisso?-Ah! O que importa? Dizem muitos.

Eles emprecisam desse tanto de terras. Outros tantos repetem, alguns nem sabem o significado do que os sons de suas vozes estão emitindo. Me pergunto, o que virá depois? 2025 se aproxima, mas me parece que ele começou bem antes, é ano de COP30 no Brasil, no norte do país, no Pará, na Amazônia…Será que as pessoas que mais são afetadas com os problemas ambientais sabem que “bicho” é esse, essa COP30? Será que os trabalhadores e trabalhadoras que acordam cedo pegam horas de transporte “público” para chegar aos seus trabalhos, os que labutam sol à sol no campo para suprir nossas mesas de alimentação,todos aqueles que tem sofrido pela “uberização” do trabalho tem tido tempo para pensar, debater e entender a COP?

Dentro desse processo evidencia-se que a Central Única dos Trabalhadores e Trabalhadoras tem o papel fundamental de levar a esses agentes sociais a importância do trabalho decente, dos seus direitos, da necessidade de se somar na luta, da não precarização do trabalho, mas também de levar para toda a nossa classe esclarecimentos do que é,qual é o papel e de que forma a COP30 na Amazônia afetará a vida de cada um e de cada uma.

A CUT tem papel central nesse processo de sensibilização, como já tem feito, precisamos ampliar. São tantas coisas a dizer, mas por agora, ressalto, a questão do trabalho não pode mais ser desligada da questão ambiental, a região do sudeste do Pará, por exemplo não tem mais o mesmo inverno da década de 1980, anos 2000, e eu diria mais, não precisa mais dedéca das para se perceber as mudanças climáticas, de uma no para o outro as mudanças nas temperaturas e a diminuição u aumento das chuvas são intensos. De que mé a culpa de tudo isso?

Dos que lutam para manter as florestas que ainda existem em pé? Ou dos que desmatam em nome do “desenvolvimento” e do “progresso”? A Central Única dosTrabalhadores e Trabalhadoras desde a Conclat na década de 1980, estar do lado dos que lutam pelo bem viver e continuará sua jornada. E nós, agentes sociais da bas e não teremos assento na COP30, mas temos assento na luta e na resistência por um país mais justo e que respeite os povos, as águas e as florestas, pois é pelo bem viver que devemos viver.

(Caira Alves)

2º lugar – Do Chão de Fábrica à Conferência Mundial: A Jornada de Maria pela Sustentabilidade

Maria acordou naquela manhã ensolarada em Belém, uma cidade vibrante às margens da Amazônia, onde as cores e os sabores se misturam em um mosaico cultural único. Ela era uma mulher de estatura mediana, cabelos negros como a noite amazônica e olhos castanhos que refletiam sua determinação e bondade. Sua pele morena revelava traços de uma vida dedicada ao trabalho e à luta por um mundo melhor.

Maria era uma trabalhadora incansável. Há anos, ela dedicava suas manhãs a uma fábrica de produtos alimentícios, onde a rotina era marcada pelo barulho das máquinas e o cheiro adocicado das mercadorias sendo produzidas. Ela era admirada pelos colegas pela sua habilidade e pela sua simpatia, sempre pronta a ajudar quem precisasse.

Mas havia algo mais em Maria. Ela não era apenas uma operária comum. Maria era uma ativista, uma defensora apaixonada pelo meio ambiente e pelos direitos dos trabalhadores. Ela participava ativamente de movimentos sindicais e comunitários, sempre buscando formas de melhorar a vida das pessoas ao seu redor. Militava ativamente na CUT, a Central Única dos Trabalhadores.

Naquele dia, enquanto se preparava para o trabalho, Maria pensava sobre a COP30, a conferência internacional sobre meio ambiente e mudanças climáticas que estava prestes a acontecer em Belém. Ela sabia que o que estava em jogo nas negociações climáticas tinha tudo a ver com a sua vida e a de milhões de trabalhadores ao redor do mundo.

A CUT, Central Única dos Trabalhadores, tinha um papel crucial nesse contexto. Há décadas, a CUT vinha defendendo o trabalho decente, que não se limita apenas a salários justos e condições dignas de trabalho, mas que também inclui um meio ambiente saudável e sustentável. Para a CUT, não há como falar em emprego digno sem considerar o impacto das mudanças climáticas e a degradação ambiental.

Durante o dia, Maria conversava com os colegas sobre a COP30. Ela percebia que muitos deles não entendiam a importância da conferência e como ela poderia afetar suas vidas. Mas Maria estava determinada a mudar isso. Ela organizava pequenas rodas de conversa, explicando de forma simples e clara a relação entre meio ambiente, trabalho e qualidade de vida.

Finalmente, chegou o dia da COP30. Maria estava lá, no meio da multidão, com um sorriso no rosto e a esperança no coração. Ela viu líderes mundiais e ativistas renomados discutindo sobre o futuro do planeta, e sentiu-se parte daquilo tudo. Nos dias que se seguiram, Maria acompanhou de perto os desdobramentos da COP30. Ela viu os acordos sendo firmados, as promessas sendo feitas. Ela também viu as críticas e os desafios que ainda estavam por vir. Para Maria, cada pequena vitória era motivo de comemoração.

Após a COP30, Maria continuou engajada na luta por um meio ambiente saudável e por empregos dignos. Ela participava ativamente de iniciativas locais para promover a sustentabilidade e pressionava as autoridades por políticas mais justas e sustentáveis.

Hoje, Maria olha para trás e vê o quanto sua vida mudou desde aquela manhã ensolarada em Belém. Ela se orgulha da mulher forte e determinada que se tornou, e sabe que, enquanto houver pessoas como ela lutando por um mundo melhor, há esperança para o futuro.

Maria continuou seu trabalho na fábrica, mas agora com um novo propósito. Ela se tornou uma líder entre seus colegas, incentivando-os a se envolverem em questões ambientais e trabalhistas. Sua voz ecoava pelos corredores da fábrica, inspirando outros a se juntarem à luta por um mundo mais justo e sustentável. Ao mesmo tempo, Maria se envolvia cada vez mais nas atividades da CUT. Ela participava de reuniões, ajudava a organizar eventos e representava o sindicato em diferentes fóruns. Maria se tornou uma figura importante na luta pelos direitos dos trabalhadores e pela preservação do meio ambiente.

Com o passar do tempo, Maria viu os frutos de seu trabalho. A fábrica onde ela trabalhava passou a adotar práticas mais sustentáveis, reduzindo seu impacto ambiental e melhorando as condições de trabalho dos funcionários. Ela também viu um aumento na conscientização da comunidade sobre a importância de se proteger o meio ambiente.

Maria sabia que ainda havia muito a ser feito, mas sentia-se feliz por estar contribuindo para uma mudança positiva. Ela acreditava que, com determinação e trabalho duro, poderíamos construir um futuro melhor para todos.

(Marcelo Santos)

3º lugar – O Menino do Mato

Certo dia estávamos em uma boa roda de conversa em família, tocava um samba das antigas, Roberto Ribeiro, se não me pisca a memória, e falávamos sobre a então primeira eleição do Edmilson Rodrigues para prefeito de Belém. Era 1996. Estávamos felizes, éramos jovens e borbulhávamos em sonhos e projetos para a cidade, quando, de repente, meu padrinho calou, passou a vista sobre mim, mirou os olhos do meu pai e, em tom saudoso, soltou a seguinte frase: “É, Dionelpho, enquanto tantos estavam lutando contra a ditadura, tu estavas lutando pra sustentar a tua família lá, em São Paulo… foi dureza, não foi?” e o olhar do papai se perdeu no tempo por uns instantes. Tentei acompanhá-lo, adivinhar suas lembranças misturadas às minhas, da primeira infância e, no mergulho das memórias, tantas dessas lembranças me tomaram inteiramente, e ainda hoje me povoam dos mesmos sonhos de meu pai que, ao se aposentar, desejava ir morar no mato.

Papai havia trabalhado muito, sempre. Caixa bancário a vida toda, lutava pra fechar o movimento do dia; o seu e o dos colegas, ali, na ponta do lápis, com a luxuosa ajuda de uma calculadora. Quando saía da agência do Basa, na Pedreira, já a noite, pegava o trânsito menos pesado e, no caminho pra casa, escutando Agepê, Wando ou Beth Carvalho, vinha sempre pensando que, um dia, ia se libertar do caixa, do trânsito, da rotina, das buzinas, da calculadora, do pisca-pisca e ia morar no mato.

Esse sonho era seu maior projeto de vida e, por ele, andou comprando uns terrenos. Perdeu todos: em Benevides, Castanhal, Colares, no Borralho em Santo Antônio do Tauá… E depois foi perdendo a memória, as lembranças recentes, mas manteve intactas, até seus últimos dias, as histórias dos sonhos do menino do mato que subia em árvore, comia fruta do pé, tomava banho de rio e queria a velhice liberta no meio do mato, após a tão ansiada aposentadoria, para voltar ser menino.

Talvez, aqui no fundo do meu coração, falar de clima, meio ambiente, sustentabilidade, COP30, Cúpula dos Povos é, também, reencontrar meu pai menino da baixada da 14, minha mãe menina do Marajó e a possibilidade de outras meninas e meninos terem rios e árvores pra comerem fruta do pé e alimentarem-se de sonhos que possam ser construídos, por toda a vida, desde que ainda existam vida, rio, fruta do pé, sonhos…

(Ghyslaine Cunha)

Fonte: CUT-PA

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