CUT e Dieese apontam precarização e informalidade nos empregos verdes no Brasil

0

Estudo inédito mostra que 74% dos trabalhadores em ocupações verdes estão na informalidade e recebem salários inferiores à média nacional

Os efeitos da crise climática já se manifestam concretamente em todo o planeta, com enchentes, secas, queimadas e ondas de calor que impactam diretamente a classe trabalhadora. Nesse cenário, ganha relevância o debate sobre os chamados “empregos verdes”, frequentemente usados por setores empresariais sem compromisso com a justiça social.

Para enfrentar essa distorção, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), por meio das secretarias Nacional de Meio Ambiente e de Relações Internacionais, em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), elaborou o “Estudo: Empregos Verdes 2025”:  sobre o tema.

O objetivo é defender a criação dos chamados “bons empregos verdes” — aqueles que conciliam preservação ambiental com direitos, proteção e qualidade de vida para trabalhadoras e trabalhadores.

O estudo destaca que a transição para uma economia de baixo carbono precisa ser justa, democrática e inclusiva, com foco no trabalho decente e em políticas públicas voltadas ao bem-estar da população – uma discussão que ganha importância diante da COP30, que será realizada no Brasil, e deve colocar o país no centro do debate global sobre clima e desenvolvimento sustentável.

Para a secretária do Meio Ambiente da CUT, Rosalina Amorim, a ideia de “verde” e “ecologia” na totalidade deve estar relacionada à justiça social. “Para nós, emprego só pode ser verde se cumprir a agenda do trabalho decente. Quando se propõem a esforços na redução das emissões de gases de efeito estufa, isso significa que precisa aumentar a formalização dos empregos e criar uma política robusta de valorização do salário mínimo
”, disse a secretária.

Sobre o estudo

O “Estudo: Empregos Verdes 2025”, baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) e da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), dimensiona o tamanho desse setor e examina a qualidade das ocupações ligadas à sustentabilidade. A análise aponta que a expressão “empregos verdes” tem sido amplamente utilizada pelo setor empresarial como instrumento de marketing, muitas vezes dissociada de condições dignas de trabalho e de políticas voltadas à justiça social.

“O primeiro apontamento desse estudo traz essa sinalização que o ambiental e o social precisam andar juntos, então a qualidade desses empregos precisa melhorar. O segundo ponto é que isso não se faz sem estar atrelado e com o suporte de políticas públicas, de trabalho e renda para a geração de empregos verdes”, afirmou Nelson Karan, economista e coordenador de estudos e pesquisas sobre trabalho e meio ambiente do Dieese.

Quem são os trabalhadores verdes

O levantamento mostra que, no primeiro trimestre de 2025, 2,9 milhões de pessoas atuam em trabalhos chamados verdes no país, o equivalente a 2,8% da população ocupada.

Essas ocupações concentram-se, em sua maioria, em atividades de economia circular, como manutenção e reparação de equipamentos. As seis mais comuns são:

Mecânicos e reparadores de veículos a motor (1,24 milhão de pessoas); condutores de ônibus e bondes (346 mil); classificadores de resíduos (333 mil); mecânicos e reparadores de máquinas agrícolas e industriais (198 mil); trabalhadores florestais (136 mil); instaladores e reparadores em tecnologias da informação e comunicação (134 mil).

O perfil revela desigualdade estrutural: 57,2% são homens negros e mais da metade (51,2%) não concluíram o ensino médio. A presença de mulheres e pessoas com ensino superior é reduzida, o que reforça a necessidade de políticas inclusivas.

Informalidade e baixos rendimentos predominam

A pesquisa evidencia um quadro de precarização. A taxa de informalidade entre os trabalhadores de ocupações e setores verdes é de 73,7%, quase o dobro da média nacional (38%). Mesmo nos empregos formalizados, 48,9% não possuem vínculo regular.

Os rendimentos também estão abaixo da média. No primeiro trimestre de 2025, o salário médio nacional foi de R$ 3.318, valor 29% superior ao dos trabalhadores em empregos verdes. Nas ocupações de setores potencialmente verdes, a diferença chega a 62%.

“É preciso gerar empregos, mas também qualidade de vida, ganhos justos e sem a destruição de modos de vida”, afirma Rosalina.

Crise climática aumenta riscos e exige proteção laboral

A crise ambiental, que já ultrapassou seis dos nove limites planetários, amplia os riscos à saúde e à segurança de milhões de trabalhadores. Agricultores, coletores de resíduos e operários da construção civil estão entre os mais afetados pela exposição a altas temperaturas, que agravam casos de doenças cardíacas, câncer de pele e estresse térmico.

Setores dependentes de combustíveis fósseis, como o carvão, também enfrentam perda de postos de trabalho, o que exige políticas de requalificação profissional e de transição justa para novas atividades sustentáveis.

O relatório orienta três eixos principais de ação governamental

Emprego e renda (MTE): estímulo à geração de empregos verdes em setores essenciais — saneamento, agricultura orgânica, reflorestamento e transporte coletivo — e combate à informalidade.

Qualificação profissional (FAT): programas de formação e reconversão profissional para trabalhadores impactados pela transição ecológica.

Saúde do trabalhador: revisão das Normas Regulamentadoras (NRs) e fortalecimento das políticas de prevenção a doenças relacionadas a eventos climáticos extremos.

Para a secretária de Meio Ambiente da CUT “o protagonismo sindical é essencial para que a transição ecológica seja também uma transição social, com redistribuição de renda e valorização do trabalho”.

Relevância estratégica para a COP30

O tema ganha ainda mais peso com a COP30, que será sediada no Brasil. O estudo oferece subsídios técnicos e políticos para que o movimento sindical participe ativamente das discussões internacionais sobre descarbonização da economia e taxonomia dos investimentos sustentáveis.

“A nossa contribuição na COP30 será voltada para a implementação do Programa de Trabalho sobre Transição Justa e para que esse tema seja incorporado pela classe trabalhadora. Hoje, a agenda climática deixou de ser um assunto restrito a ambientalistas e passou a envolver governos, sindicatos, o campo e as cidades”, afirmou Rosalina Amorin.

Para ver o estudo completo clique aqui.

Fonte: CUT Brasil

Comments are closed.