Desinformação: Médicos defendem tratamento precoce da covid-19 em artigo em jornais

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Os jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Zero Hora publicaram, nesta quarta-feira (23), um informe publicitário sobre um “tratamento precoce” contra a covid-19, sem comprovação científica ou recomendação de agências de saúde. O texto foi enviado pela Associação Médicos pela Vida, com sede em Recife.

Com o título Manifesto pela vida, o artigo foi replicado em 11 veículos de imprensa do país e defende uma espécie de “coquetel” de medicamentos, que pode incluir hidroxicloroquina, azitromicina e corticosteroides – sem efeito comprovado contra a covid-19.

No segundo semestre do ano passado, planos de saúde passaram a adotar o ‘Kit Covid’, que incluía os medicamentos do coquetel. Especialistas criticaram o “tratamento” e alertaram que remédios podem causar efeitos colaterais graves aos pacientes. Laboratório alemão Merck, fabricante da ivermectina, já informou que não há nenhuma base científica que aponte efeitos positivos em pacientes contaminados pelo novo coronavírus.

A publicação paga do material nos jornais foi criticada por outros especialistas e comunicadores. O professor do Instituto de Física da Unicamp Leandro Tessler chamou os autores de “charlatões”. “Tem alguém financiando essa excrescência. A única referência é o errado c19study e correlatos”, disse no Twitter, ao citar um site que divulga informações falsas sobre a covid-19.

A editora-chefe do Portal Drauzio Varella e jornalista de saúde, Mariana Varella, lembra que o tratamento precoce contra a covid-19 “não é recomendado por nenhuma organização internacional de saúde, nem por órgãos americanos ou europeus”. “O coletivo de médicos (que assina o texto) parece bem financiado, já que desembolsou não menos de 200 mil reais pelo anúncio”, acrescentou.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) já rejeitaram a utilização da hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiciclina no cuidado de pessoas que tenham sido contaminadas pelo coronavírus, uma decisão que é corroborada por instituições como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e da Europa, e mesmo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A jornalista Luiza Bodenmüller criticou a falta de critério dos jornais para publicar o artigo negacionista. “Para manter a máquina girando vale imprimir qualquer coisa por dinheiro? Mesmo que seja mentira e vá de encontro à produção e às estratégias editoriais do próprio jornal?”, questionou.

 

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Fonte: Rede Brasil Atual

 

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