Com 5 milhões de km², a Amazônia concentra 20% da água doce superficial do planeta e milhões de espécies — muitas ainda desconhecidas, e este imenso bioma fundamental para a preservação da humanidade tem no calendário o seu próprio dia, 5 de setembro. Mas a data não tem sido motivo de celebração e sim de preocupação com sua devastação provocada por criminosos.
Neste ano, a data acentua o contraste entre a importância estratégica do bioma e o legado de um ministro acusado de fragilizar a proteção da floresta: o ex-ministro do Meio Ambiente do governo de Jair Bolsonaro (PL), e atual deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) que se tornou réu, no último dia 29 de agosto, numa ação que investiga um esquema de exportação ilegal de madeira.
Para a secretária de meio ambiente da CUT, Rosalina do Socorro Ferreira Amorim, ” a preservação da floresta está diretamente ligada ao modo de vida e trabalho de milhares de pessoas. Manter a floresta em pé significa preservar a vida das pessoas. O julgamento de Ricardo Salles, por envolvimento no contrabando de produtos florestais nos revela o quanto a pauta ambiental faz parte da luta de classes, como dizia o sindicalista Chico Mendes”.
E acrescentou: “Ricardo Salles e seus aliados não representam os interesses da classe trabalhadora e nem do Brasil. Seu discurso e ações têm sido pelo desmonte dos órgãos em defesa do meio ambiente favorecendo o agronegócio e madeireiras que operam de maneira ilegal”.
A devastação
Nos últimos meses, o governo federal reforçou a fiscalização com brigadistas, helicópteros e planos de prevenção em todos os biomas. No entanto, o bioma segue sob pressão. De agosto de 2024 a julho de 2025, as áreas sob alerta de desmatamento chegaram a 4.495 km², aumento de 4% em relação ao período anterior, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe.
Segundo reportagem do site socioambiental.org, o desmatamento na Amazônia cresceu 91% em maio de 2025, com 960 km² devastados — o segundo pior índice da série histórica para o mês.
Já as áreas queimadas diminuíram com queda de 65,8% no primeiro semestre, segundo levantamento da UFRJ.
PL do Desmatamento
Para agravar o quadro de devastação ambiental do país, o Congresso Nacional, aprovou na madrugada de 17 de julho de 2025, o Projeto de Lei nº 2159/2021, apelidado de “PL da Devastação”, que contraria os compromissos do país de zerar o desmatamento até 2030.
A Direção Executiva Nacional da CUT, à época, em nota, repudiou veemente o PL da Devastação: “essa decisão criminosa ignora não apenas o histórico recente de tragédias, mas também compromete os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil no enfrentamento à crise climática. Em um momento em que o país se prepara para sediar a COP 30, é inadmissível que o Congresso aprove medidas que caminham na contramão da justiça climática e ambiental”, publicou em seu site.
O caso Salles
Ricardo Salles se tornou réu em ação que investiga um esquema de exportação ilegal de madeira. A denúncia do Ministério Público Federal (MPF), aceita pela 4ª Vara Federal Criminal do Pará, também atinge o ex-presidente do Ibama Eduardo Bim e outros 20 servidores e empresários.
As apurações indicam que Salles, à frente da pasta responsável pela proteção ambiental, participou de um “grave esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais”. O MPF sustenta que houve manipulação de pareceres e emissão de documentos sem validade para liberar cargas de madeira apreendidas nos Estados Unidos.
Em fevereiro de 2020, o então ministro se reuniu com representantes de empresas investigadas e parlamentares. Pouco depois, parecer técnico atendeu às demandas do setor de forma quase imediata, regularizando retroativamente milhares de exportações irregulares. Para os procuradores, a cúpula do ministério e a direção do Ibama atuaram em benefício de interesses privados, em prejuízo direto do patrimônio ambiental brasileiro.
Salles responderá por facilitar contrabando, obstruir a fiscalização e integrar organização criminosa. Bim foi acusado de corrupção passiva e associação criminosa. Nas redes sociais, o ex-ministro classificou a denúncia como “falácia”, embora o processo exponha contradições entre seu discurso público e sua prática à frente da pasta.
Para lembrar
É do ex-ministro Ricardo Salles a tenebrosa a fala, numa reunião no governo Bolsonaro: “Precisa ter um esforço nosso aqui, enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só se fala de covid, e ir passando a boiada, e mudando todo o regramento (ambiental), e simplificando normas”.
Fonte: CUT Brasil