Entidades se articulam para evitar ‘apagão’ de monitoramento do Inpe no Cerrado

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O monitoramento via satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o desmatamento no Cerrado corre o risco de ser descontinuado após o fim do convênio com o Banco Mundial, que financiava o programa. Para evitar um “apagão de dados”, entidades criaram um sistema de alerta para manter a fiscalização sobre o bioma.

Embora o atual diretor do Inpe, Clézio De Nardin, tenha declarado nas redes sociais que o monitoramento do Cerrado não vai parar, o instituto já desmobilizou a equipe de pesquisadores voltados ao bioma e prevê a manutenção dos dados apenas até abril. De acordo com reportagem da DW Brasil, fontes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) afirmaram que, até o momento, não há garantia de dinheiro para a continuidade do sistema, que pode sofrer um apagão.

Segundo o coordenador-geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, sua equipe vem desenvolvendo um Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) específico para o Cerrado, que poderá ser ativado a qualquer momento para garantir o monitoramento do desmatamento no bioma. “O Cerrado é o berço das águas. Oito das 12 grandes bacias brasileiras nascem lá, é uma área muito importante para protegermos. O sistema que estamos criando não pode substituir o do Inpe, mas foi possível pegar os alertas de desmatamento e detalharmos esse problema. Ao analisar a possibilidade de haver o apagão, reproduzimos os trabalhos para manter funcionando esse sistema durante o hiato deles”, afirmou, entrevista a Marilu Cabañas, no Jornal Brasil Atual.

Entre agosto de 2020 e julho de 2021, o Cerrado perdeu 8,5 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa, o que significa uma alta de quase 8% em relação ao período anterior, segundo dados do Prodes Cerrado. Embora o levantamento tenha sido finalizado no fim de novembro passado, a informação foi divulgada apenas no último dia de 2021.

“O Cerrado é o bioma que perdeu sua vegetação mais rápido por causa do desmatamento”, pontuou Azevedo. “A vegetação nativa do bioma tem raízes profundas, que permitem levar umidade de baixo para cima. Quando você substitui isso por pasto, esse efeito acaba. A pastagem é importante para a economia, mas precisa ser feita de maneira parcimoniosa, sem acabar com a qualidade ambiental.”

Desgoverno e desmatamento

O monitoramento via satélite do Inpe está em operação desde 1988 para a Floresta Amazônica, porém, o sistema oficial de vigilância começou a ser estruturado para o Cerrado em 2016. Para financiar sua manutenção, foi assinado um convênio entre ministérios e Banco Mundial, que garantiu US$ 9,5 milhões até 2021. O projeto permitiu que em 2018 fosse lançado o sistema de alertas de desmatamento para o Cerrado (Deter) e, a partir de 2019, os dados anuais passaram a ser divulgados pelo Prodes-Cerrado.

O coordenador do MapBiomas lamenta a má vontade do governo de Jair Bolsonaro para lidar com a questão socioambiental. De acordo com Azevedo, há recursos federais que poderiam garantir a manutenção do projeto. “Não há vontade política de manterem esses dados. O convênio com o Banco Mundial terminou em 2019 e já havia a sinalização para o Brasil financiar esse projeto. Não há falta de recursos. Temos mais de R$ 1 bilhão no Fundo Amazônia, que pode financiar ações de monitoramento nos biomas brasileiros. Entretanto, o governo federal mudou as regras do fundo e fez ele parar de funcionar”, disse.

Com o avanço do desmatamento, o cenário pode ficar ainda pior. “O atual governo despreza a questão ambiental e socioambiental. Não tem empatia com o próximo. É uma visão extremista do liberalismo, colocando os interesses individuais acima do coletivo. O papel do governo é garantir que o interesse comum esteja alinhado e é do interesse público a preservação das áreas indígenas, onde a Amazônia é melhor cuidada e protegida”, finalizou o especialista.

 

Fonte: Rede Brasil Atual

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