‘Vivemos abolição inacabada e morte segue sendo estratégia de extermínio’, diz yalorixá e ativista após Marcha das Mulheres Negras

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A luta por reparação, bem viver e transformação estrutural do Estado orientou a participação das mulheres negras que ocuparam Brasília nesta terça-feira (25), com a Marcha das Mulheres Negras. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, a yalorixá Adriana Ti Omolu, coordenadora nacional de mulheres do Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana, afirmou que o movimento retornou à capital do país para reafirmar que o Brasil segue operando sob os pilares da escravidão.

“Nossa luta em reparação ao holocausto da escravidão se dá porque nós entendemos que vivemos uma abolição inacabada”, disse. Para ela, a violência estatal contra mulheres, jovens e mães negras continua determinando quem tem direito à vida no Brasil. “A morte é a estratégia principal de extermínio e de subjugação de uma condição em que manter privilégios é acima da vida”, declarou.

Ao comentar a presença de mães que perderam filhos para a polícia, a liderança religiosa se emocionou. “Não é qualquer coisa. Morremos porque os companheiros morrem, morremos cada dia um pouco mais, mas nos recusamos a morrer totalmente”, declarou. Ela relatou cenas vistas ao longo do ato, como a de uma jovem negra com um bebê no colo vestindo uma camiseta pedindo justiça para Sana, vítima de violência obstétrica. “Não nos olham como seres humanos”, lamentou.

A yalorixá explicou que reparação não é um conceito abstrato, mas uma política de redistribuição material e presença negra real nas instituições. “Queremos que os recursos que bancam a riqueza de poucos sejam distribuídos com justiça para todos”, defendeu. Ela lembrou que, enquanto escravocratas receberam indenizações após a abolição, a população negra saiu “com uma mão na frente e outra atrás”.

Uma reparação efetiva, apontou, inclui educação de qualidade, moradia, acesso à saúde sem discriminação e participação política. “Estar nos espaços de poder é um direito nosso. Até o direito de ter direito nos é negado”, criticou.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

 

Fonte: Brasil de Fato

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