900 atendimentos por dia: a conta que não fecha e adoece funcionalismo da Caixa em Cametá

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Quinta-feira, 10 de novembro de 2022, o relógio marcava 8h30 pelo horário de Brasília, o mesmo de Cametá, nordeste paraense. Do lado de fora da agência da Caixa, cerca de 650 pessoas aguardavam atendimento, como a lavradora Flávia Arnoud, que saiu 5h de casa localizada na zona rural de Juaba, em busca de atendimento.

Tatiana Oliveira ouve demandas da população de Cametá e região

“Isso é um desrespeito para com todos nós que estamos aqui nessa fila em pé, na rua, debaixo de um sol forte, por horas; e como se não bastasse a desgraça ainda tem gente que vende vez na fila. Na minha opinião esse problema só vai ser resolvido, ou pelo menos amenizado, quando abrir outra Caixa aqui na cidade ou em algum outro município próximo aqui da nossa região”, reclama a cliente.

Até aqui nada de novo em meio a problemas antigos, como o das filas quilométricas. Em março desse ano, dirigentes do Sindicato estiveram na cidade em Caravana Bancária e se depararam com a unidade cheia de clientes e usuários tanto dentro quanto do lado de fora.

De lá pra cá, a difícil e extensa jornada de trabalho do funcionalismo da Caixa só piorou: subiu para 3 o número de bancárias e bancários adoecidos por causa das péssimas condições laborais, uma das portas de vidro da fachada da unidade está quebrada após um incidente no final do mês passado quando um estrondo em decorrência de uma pane elétrica na iluminação pública assustou as pessoas que aguardavam atendimento do lado de fora e correram para dentro da agência forçando a entrada e quebrando a porta. Uma criança ficou ferida sem gravidade.

“Nós já trabalhamos cansadas por conta da rotina diária exaustiva, xingamentos e ameaças da população; e esse dia foi ainda pior, pois pensávamos que eram tiros do lado de fora e que poderíamos estar correndo risco de morte aqui do lado de dentro. Precisamos de ajuda efetiva e definitiva, pois estamos adoecendo aos poucos”, desabafa uma bancária que prefere não ser identificada.

Além do adoecimento em escala, pedidos de demissão, descomissionamentos; e nenhuma solução. “Infelizmente um problema gera outros e todos vão se acumulando. Há uma grande rotatividade de gerentes aqui porque ninguém aguenta a pressão e as condições de trabalho, o que também impacta no clima organizacional do funcionalismo fixo daqui que fica subordinado a um gerente novo a cada troca, com um ritmo de trabalho totalmente diferente do anterior. O nosso retorno aqui, dessa vez eu como presidenta do Sindicato e também bancária da Caixa, visa fazer um relatório para apresentar à superintendência regional e nacional do banco, e órgãos competentes, como Ministério Público do Trabalho, para que providências efetivas aconteçam. A vinda do caminhão no auge da pandemia apenas descentralizou o atendimento. Para nós do Sindicato, essa realidade só vai mudar com a abertura de mais agências da Caixa aqui na região do Baixo Tocantins”, avalia Tatiana Oliveira.

A Caixa em Cametá é a única agência que existe há mais de 40 anos para atender a população do município e também de outros quatro: Baião, Mocajuba, Oeiras do Pará e Limoeiro do Ajuru. A média de atendimento em dias considerados ‘normais’ é de 900 pessoas por dia; quando começa o calendário de pagamento de benefícios, esse número aumenta para 1.400 atendimentos; ou seja, sobram clientes e usuários, faltam bancários e bancárias que para darem conta, e nem sempre, de toda demanda, começam a jornada 8h e encerram às 21h ou algumas vezes até mais tarde. “Não conseguimos pegar nossas coisas e ir embora, pois sabemos que têm muitas pessoas que vêm de longe e dependem às vezes unicamente dessa renda para sobreviverem; mas essa compreensão que temos falta da parte da direção do banco que tem custado nossa saúde”, comenta outro bancário que pediu anonimato.

“Para fins comparativos, se somarmos as populações dos municípios citados, teremos quase 300 mil habitantes, segundo estimativa do IBGE, para uma única agência atender, com um quadro de cerca de 12 empregados no momento (contando com o caminhão baú que é temporário com 2 empregados). Já a cidade de Santarém, no oeste do Pará, com uma população estimada de 308 mil habitantes, possui 3 agências da Caixa com quadro de funcionários bem superior a 10 bancários e bancárias cada, que é o quadro da agência Cametá. Este absurdo tem que mudar e trabalharemos pra melhorar essa situação apresentando soluções de curto, médio e longo prazo”, finaliza a dirigente sindical.

 

 

 

 

Fonte: Bancários PA

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