Bancárias debatem desafios no 2º Encontro de Mulheres da Fetec-CUT/CN

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A história contada por suas protagonistas foi o que se viu e ouviu durante o 2º Encontro de Mulheres Bancárias da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Centro Norte (Fetec-CUT/CN), realizado nesta quinta e sexta-feira, dias 12 e 13, no Auditório da CUT Brasília.

Além de levantar a história e a organização das mulheres bancárias, o Encontro serviu para refletir sobre o que é o feminismo e debater sobre a crise pela qual atravessa o movimento sindical e social.

Para o secretário nacional de Organização e Política Sindical da CUT, Jacy Afonso, o encontro serve para refletir sobre a composição das atividades sindicais que sempre contou com a maioria de homens. “A CUT foi pioneira na criação da cota de 30% de participação de mulheres na direção. Agora iremos ampliar esta participação para 50%”, destacou.

A diretora da Fetec-CUT/CN Vera Paoloni destacou que o Encontro foi organizado apesar de todas as adversidades inerentes aos movimentos das mulheres. “A mulherada quer reafirmar que a classe trabalhadora tem dois sexos e que, por isso, temos que trabalhar em conjunto. A crise pela qual atravessamos serve para aprofundarmos o debate e criar um plano de luta para os próximos anos. Desafio é o que não falta”, concluiu.

“As dificuldades acabam contribuindo para enriquecer a luta”, complementa a diretora responsável pela Secretaria da Mulher no Sindicato dos Bancários, Helenilda Cândido. “A crise ajuda a encontrar o elo que nos trará para a realidade. As mulheres que não se calaram estão aqui hoje, lutando para evoluir nas conquistas dos nossos direitos e pelo desenvolvimento do nosso país”, analisou.

O presidente da Fetec-CUT/CN, José Avelino, lembrou que as proposições aprovadas durante o evento serão debatidas no próximo congresso da entidade, previsto para acontecer em maio próximo. “A Fetec vai se esforçar para implementar as deliberações encaminhadas neste encontro. Nossa meta é liberar mais bancárias para participar da direção das entidades e das dinâmicas que envolvem o movimento sindical”, afirmou.

Segundo a diretora da Fetec-CUT/CN e uma das organizadoras do evento, Christianne Rodrigues, a formação das mulheres depende muito delas próprias. “Nós estamos sempre lutando pelo nosso crescimento individual e coletivo. Nesse sentido, tenho buscado exemplos na militância feminina para construir a autonomia na categoria bancária”.

A deputada federal Erika Kokay (PT/DF), que participou do debate na tarde da quinta-feira 12, fez uma análise de conjuntura sob a ótica das mulheres que ocupam espaços políticos e de poder. “As mudanças feitas pelo governo foram unilaterais e acabaram por contribuir para instituir a crise atual. Essas mudanças deveriam ser discutidas e negociadas com a sociedade organizada para, só depois, serem implementadas”, avaliou.

‘Papo reto’ com mulheres
A história e a organização das mulheres bancárias foi contada pela diretora da Secretaria da Mulher da Contraf-CUT, Deise Recoaro. “Esta é uma ótima oportunidade para refletir sobre os rumos do movimento social e sindical. Somos corresponsáveis pela manutenção e história de luta da nossa categoria”, enfatizou Deise.

A palestra, como Deise definiu, foi um o ‘papo reto’ com as mulheres, numa alusão à linguagem usada da periferia de São Paulo. “Quero mostrar a importância da nossa missão como mulher, que também tem valor para o coletivo. Queremos que as pessoas se vejam e se apropriem dessa história”.

Segundo Deise, a categoria bancária foi a primeira a conquistar uma mesa temática de igualdade de oportunidade em toda a América Latina, já em 1988. Entre os principais temas estavam campanhas contra assédio sexual no trabalho, a discriminação de gênero e de raça e as relações compartilhadas. “Os bancos reagiram negativamente quando falamos da discriminação de mulheres e de negros, pois a mesa era, majoritariamente, formada por homens”, apontou.

Entre os desafios gerais da categoria para os próximos anos, apontou a palestrante, estão: relações compartilhadas entre homens e mulheres, composição da diretoria com aumento do percentual de mulheres, plano de cargos e salários sob a perspectiva de gênero e inclusão de mulheres negras. “As mulheres negras ainda são as maiores vítimas da discriminação na categoria bancária, segundo diagnóstico produzido pelo Dieese”.

Feminismo: atitude individual e coletiva
O que é o feminismo foi o ponto central da oficina promovida por Silvia Camurça, representante da Articulação das Mulheres Brasileiras (AMB), pesquisadora e educadora em políticas femininas. “Há um consenso sobre o que é o feminismo no movimento. Feminismo é uma atitude individual e coletiva das mulheres por liberdade, que tem como ponto central atitudes de enfrentamento aos comportamentos machistas e de não aceitação da banalização das mulheres”.

Para Sílvia, o feminismo não quer apenas incluir as mulheres na sociedade. “Queremos mudar a sociedade e transformar o modo de fazer política. Não é apenas repetir o que é feito”, afirmou. Ela também apontou para mudanças na relação dos homens frente à violência contra as mulheres. “Nesse sentido, o pacto de lealdade entre eles está rompido. Mesmo correndo risco de sofrerem preconceito entre seus pares, os homens têm denunciado esses crimes”.

Sobre a lei que classifica o feminicídio como crime hediondo (Lei 8.305/2014), sancionada nesta semana pela presidente Dilma Rousseff, Silvia diz que esse é um ponto positivo para o Brasil. “O grande mérito é que essa lei denuncia o aumento da perversidade e do crime de ódio contra a mulher. Lança para a sociedade um olhar sobre a misoginia, sobre a aversão ao feminino. Para o debate público, é muito mais eficiente que outras leis”, avaliou.

Rosane Alves com Fetec-CUT

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