Dados do Novo Caged, do Ministério do Trabalho e Emprego, mostram que o emprego bancário seguiu em queda no primeiro trimestre deste ano. Ao todo foram eliminadas 1.197 vagas — número 67,8% superior ao registrado no mesmo período de 2024.
A análise por área ocupacional revela que o maior impacto ocorreu nas atividades diretamente relacionadas à função bancária, com retração de 9.105 postos em um ano, atingindo principalmente caixas, escriturários e gerentes. As áreas administrativa e de atendimento ao público também apresentaram saldos negativos, ainda que em menor escala.
“Aqui no Pará, segundo levantamento feito pelo nosso Sindicato, somente no primeiro semestre de 2025, o Bradesco já demitiu 74 empregados e empregadas, além de fechar várias agências e transformar outras em unidades de negócios. O fechamento de agências impacta em dois púbicos: na categoria bancária e na sociedade como um todo; porque não tem como desassociar uma coisa da outra, apesar de os impactos serem de forma diferentes. A população, por exemplo, têm sido vítima de fraudes e golpes, que se disseminaram e crescem a cada ano, pela ausência de atendimento presencial por um bancário”, explica a presidenta do Sindicato, Tatiana Oliveira.
“Esta reunião, construída em parceria com o Sindicato dos Bancários do Estado do Pará, nasce do compromisso coletivo de refletir e dialogar sobre a realidade do setor bancário. Um encontro que se torna ainda mais urgente diante do cenário de demissões em massa e do processo de reestruturação em curso, que impacta não apenas a categoria, mas também toda a sociedade que depende desses serviços essenciais. Estamos aqui para refletir de forma crítica e coletiva sobre um processo que tem transformado profundamente o setor bancário: as demissões em massa e a reestruturação em curso já há alguns anos. Um processo que não pode ser visto apenas como uma estratégia de mercado, mas que precisa ser compreendido em seus efeitos diretos sobre a vida humana, sobre as famílias e sobre a sociedade”, explica o deputado estadual, Carlos Bordalo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor.
Mais lucro no Bradesco, menos emprego
O Bradesco encerrou o primeiro semestre de 2025 com um Lucro Líquido Recorrente de R$ 11,931 bilhões, resultado que representa um crescimento de 33,7% em relação ao mesmo período de 2024. Mesmo com os resultados expressivos, o banco segue promovendo cortes de pessoal e de unidades físicas de atendimento, o que afeta negativamente tanto os trabalhadores quanto os clientes.
Em todo o Brasil foram fechadas 342 agências, 1.067 postos de atendimento (PA e PAE) e 127 unidades de negócios em doze meses.
Santander e Itaú também lucram às custas dos trabalhadores (as) e fechamento de agências
O Banco Santander lucrou R$ 7,520 bilhões no Brasil no primeiro semestre de 2025, um crescimento de 18,4% em relação ao mesmo período de 2024. Apesar do desempenho positivo, o banco eliminou 1.173 postos de trabalho nos últimos 12 meses — sendo 1.385 somente no 2º trimestre deste ano — e fechou 561 pontos de atendimento, o que escancara a contradição entre os ganhos crescentes e o desmonte da estrutura física e humana.
Já o Itaú Unibanco obteve um lucro líquido de R$ 22,6 bilhões no primeiro semestre deste ano, resultado 14,1% superior ao registrado no mesmo período de 2024 e 3,4% maior em relação ao trimestre anterior.
Apesar do lucro bilionário e da queda na inadimplência para 1,9% (redução de 0,8 p.p.), a holding fechou 518 postos de trabalho em doze meses, sendo 504 deles apenas no segundo trimestre de 2025. No mesmo período, foram encerradas 223 agências físicas.
“O Itaú demitiu, semana passada, de uma vez só, cerca de 1.000 bancários e bancárias em São Paulo alegando baixa produtividade, por terem em média cerca de 2 horas e 30 minutos de movimentação no mouse e no teclado. Estamos vivendo na categoria um processo muito acelerado de enxugamento de postos de trabalho; sendo criadas as instituições financeiras estritamente online, que deixam na mão, só não os trabalhadores como os seus clientes. O Nubank, por exemplo, tem cerca de 100 milhões de clientes e cerca de 7.000 funcionários; é humanamente impossível de 7.000 pessoas darem conta de atender, e por isso, tantas reclamações e problemas com esse tipo de instituição. A gente está vivendo um processo onde a tecnologia vem não para melhorar a qualidade de vida, não para reduzir a jornada do trabalhador, mas vem para exercer um nível de vigilância doentio sobre os trabalhadores, e isso tem adoecido muito a categoria”, alerta Tatiana Oliveira.
“Hoje, 75% das transações são feitas pelo celular, pelo sistema mobile. A gente está vendo. A gente está vendo cada vez mais outras transações em agências diminuindo, algumas se mantêm, mas cada vez mais, esse mundo digital, que cabe na palma da mão, ele vem fazendo com que você tenha impactos diretos, não só em relação às transações bancárias, mas até o dia a dia dessa categoria, e com reflexo também para a sociedade como um tudo”, exemplifica o economista do Dieese, Everson Costa.
Categoria adoecida
Em 2024, a saúde mental foi a principal causa dos afastamentos na categoria bancária. Segundo levantamento do Dieese, com base em informações da plataforma Smartlab, produzida com registros do INSS, naquele ano, as doenças mentais e comportamentais foram responsáveis por 55,9% dos afastamentos acidentários e por 51,8% dos afastamentos previdenciários de bancárias e bancários do país. Em segundo lugar ficaram as doenças conhecidas como Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), responsáveis por 20,3% dos afastamentos acidentários e 15,2% dos afastamentos previdenciários na categoria, em 2024.
“Saúde mental não está separada da saúde coletiva, que está ligada à equidade nos direitos sociais, alimentação, lazer, transporte, direitos trabalhistas; produzindo saúde. Se eu estou reduzindo tempo de lazer, porque eu estou com tempo de trabalho maior, porque eu estou sob pressão de maiores metas; eu estou também reduzindo saúde coletiva e saúde mental”, analisa a dra em psicologia, Flávia Lemos, professora da UFPA.
Nos três primeiros meses deste ano, com base nas emissões de Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT) feitas pelo Sindicato, dos 28 documentos emitidos, 24 foram de bancos privados, sendo 23 deles por motivos psicológicos.
“Eu tenho 22 anos de banco e foram 19 mudanças de endereço neste tempo”, o trecho é parte do depoimento marcante da bancária do BB, Joslaine Macedo, que só percebeu o grau adoecimento quando às 21h20, ao sair do trabalho, ainda no estacionamento do banco, não conseguia lembrar onde estava o carro e qual era o seu próprio endereço. Minutos antes, ela estava realizando o lançamento de uma operação no sistema do banco.
Encaminhamentos
. Criação de um GT Saúde Mental
. Elaboração de um projeto de Lei Estadual
. Discutir as Normas Regulamentadoras NR-1 e NR-17 – que estabelece a estrutura para a gestão da saúde e segurança no trabalho, e define os requisitos específicos para adequar as condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores e trabalhadoras, fornecendo os dados ergonômicos que devem ser incorporados ao Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) previsto na NR 1; respectivamente.
. CUT: coordenar uma proposta de ação permanente pelo movimento sindical para apresentar ao Ministério da Saúde
. Reunião com jurídico do Sindicato, Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), GT Saúde Mental, Superintendência Regional do Trabalho, Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda do Pará (Seaster), através do Conselho da Pessoa Idosa e Fundacentro.
. Assinatura do Termo de Compromisso elaborado pelo Sindicato com o objetivo de assegurar estabilidade mínima para trabalhadores e trabalhadoras em processos de reestruturação e transformação digital; mitigar impactos negativos na saúde mental por meio de programas de acompanhamento psicológico, ergonomia digital e prevenção ao adoecimento; garantir transparência e negociação coletiva em casos de demissão em massa, transferência de atividades para subsidiárias ou uso de inteligência artificial; além de promover responsabilidade social das instituições financeiras, evitando a exclusão bancária e assegurando atendimento adequado em todas as regiões.
Bancos não compareceram
Os bancos foram convidados, chegaram a indicar nomes das pessoas que iriam, mas ninguém compareceu.
Fonte: Bancários PA com Contraf-CUT e Dieese