Funcionários do Google criam sindicato para lutar por direitos

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Uma verdadeira revolução tem se espalhado pelo Vale do Silício, região localizada na parte sul da Baía de São Francisco, na Califórnia, que concentra startups e gigantes globais do mercado de tecnologia como, por exemplo, a Google. O “sonho” de muitos profissionais de tecnologia passou a apresentar graves problemas nas relações de trabalho como assédio moral e sexual, salários defasados, sobrecarga de trabalho, discriminação contra minorias e perseguições de trabalhadores que ousam denunciar tais questões. Para lutar por melhores condições de trabalho, os profissionais de diversas empresas como, por exemplo, Google, Amazon, Pinterest e SalesForce recorreram a uma solução que já é uma velha conhecida dos bancários brasileiros: a organização em sindicatos.

Google

O movimento mais recente no sentido de fomentar a organização dos trabalhadores de tecnologia, empregados de gigantes globais do setor, partiu dos funcionários da Alphabet, empresa-mãe do Google, que criaram no início do ano o Sindicato dos Trabalhadores da Alphabet e, no fim de janeiro, constituíram uma aliança sindical global, a Alpha Global, para lutar pelos direitos de trabalhadores e trabalhadoras da empresa em mais de dez países. A Alpha Global é filiada à UNI Global Union, a mesma entidade de organização global dos trabalhadores a que o Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região é filiado.

“Queremos que este sindicato torne a Alphabet e o mundo lugares melhores e queremos defender nossas condições de trabalho para que isso aconteça”, diz o engenheiro de riscos cibernéticos Alan Morales, um dos idealizadores do Sindicato dos Trabalhadores da Alphabet. “Temos consciência de que o Google e outras empresas da internet têm produtos que são muito relevantes em nosso dia a dia e acreditamos que podemos tornar o mundo um lugar melhor com o uso de nosso poder de negociação coletiva”, acrescenta.

A formalização de um sindicato pelos trabalhadores da Alphabet é fruto de uma construção coletiva de luta contra graves problemas identificados pelos funcionários da empresa.

Em 2018, cerca de 20 mil funcionários a Alphabet fizeram greve em protesto contra a forma como a empresa lidava em casos de assédio sexual. Já outros se opuseram a decisões de negócio consideradas por eles antiéticas, como por exemplo o desenvolvimento de inteligência artificial para o Departamento de Defesa dos EUA e tecnologias para a Alfândega e Proteção de Fronteiras. Além disso, casos de perseguição na empresa já chegaram ao Nacional Labor Relations Board (conselho nacional de relações trabalhistas), que supervisiona negociações coletivas nos EUA. Recentemente, o órgão entendeu que a Alphabet violou lei trabalhista ao monitorar e demitir funcionários que criticaram publicamente a empresa.

Os trabalhadores da Alphabet que optarem por se associarem ao sindicato contribuirão com 1% da sua remuneração para financiar as ações da entidade.

Surpresa?

Para a secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Neiva Ribeiro, a organização dos trabalhadores do Vale do Silício em sindicatos não é algo inesperado, apesar da resistência do setor a organização sindical.

“A organização de profissionais de tecnologia do Google e de outras gigantes tecnológicas é uma ótima notícia – uma vez que o setor, assim como os EUA como um todo, é muito resistente à organização sindical – mas não é bem uma surpresa. Nós sabemos as condições as quais os trabalhadores de tecnologia são submetidos, seja aqui no Brasil ou nos EUA, com jornadas extenuantes, níveis de pressão absurdos e algumas vezes com modelos de contratação precários e sem garantias, apesar de aparentemente ser um setor descolado e que remunera bem. Por óbvio, quando essa condições tornam-se insuportáveis, a única e melhor solução é a luta coletiva, a organização dos trabalhadores. Juntos somos mais fortes”, avalia.

De acordo com a dirigente, a percepção de grande parte das pessoas de que o Google é um dos melhores para se trabalhar faz com que também se conclua, de forma equivocada, que um sindicato não seria necessário em uma empresa como essa. “Porém, um sindicato é uma organização coletiva, uma proteção, necessário para que as relações de trabalho ocorram de forma adequada, vigiando e coibindo abusos, reivindicando e conquistando direitos. Portanto, qualquer trabalhador, de qualquer área, de qualquer nível de especialização, precisa de um sindicato”, explica.

“Os ótimos frutos da organização dos trabalhadores em sindicatos e da atuação séria e comprometida destas entidades em favor dos seus representados podem ser facilmente comprovados na nossa categoria. Basta compararmos os direitos de bancários e não bancários que trabalham para o mesmo banco. Recentemente, tivemos uma grande vitória com a incorporação pelo Bradesco de 78 trabalhadores da empresa BBC Processadora, majoritariamente da área de TI (tecnologia da informação), que, a partir de março, passam a ser bancários, da base do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, com todas as conquistas da categoria asseguradas pela Convenção Coletiva de Trabalho e Acordo Aditivo do Bradesco. A organização em sindicatos e o fortalecimento dos mesmos por meio da sindicalização são passos fundamentais para que os trabalhadores conquistem melhores condições não só de trabalho, mas de vida, com uma sociedade mais justa e igualitária para todos”, conclui a dirigente.

 

Fonte: Redação Spbancarios, com informações do The New York Times e Vermelho

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