No mês em memória das vítimas de acidentes e doenças do trabalho, categoria sofre não somente com pandemia

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Dia 28 de abril é o Dia Mundial da Segurança e da Saúde no Trabalho, em memória às vítimas de acidentes e doenças relacionadas à profissão. Data instituída pela Organização Internacional do Trabalho e que no Brasil, a Lei 11.121/2005 estabeleceu a mesma data como o Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho.

Segundo o Ministério da Economia, a Covid-19, causada pelo coronavírus, não se enquadra no conceito de doença profissional (art. 20, I), mas pode ser caracterizada como doença do trabalho (art. 20, II), havendo a necessidade do estabelecimento do nexo causal entre o trabalho e o agravo (doença), a partir de elementos submetidos à análise dos peritos médicos federais do INSS, a quem compete a identificação técnica deste nexo.

Por isso, o Sindicato orienta bancários e bancárias, que forem infectados ou reinfectados, a entrarem em contato com a entidade para emissão do Comunicado de Acidente de Trabalho quando o afastamento for superior a 15 dias, como forma de se respaldar para garantir os direitos trabalhistas.

Mas antes mesmo da pandemia surgir, a categoria bancária sempre foi uma das que mais adoecidas em decorrência do trabalho, seja fisicamente ou psicologicamente.

Dados do INSS mostram que, de 2009 a 2018, mais da metade (56%) dos afastamentos de bancários foram reconhecidos como doença do trabalho, sendo as mais comuns: depressão, ansiedade, estresse e as Ler/Dort. De 2013 em diante, as doenças psicológicas foram progressivamente tornando-se prevalentes e passaram a ser maiores que as Ler/Dort.

Segundo o Observatório de Saúde do Trabalhador, do Ministério Público do Trabalho, a incidência das doenças mentais e tendinites entre bancários é, no mínimo, de 3 a 4 vezes maior que a da maioria da população. O que demonstra que o fator trabalho é crucial para a incidência da doença na categoria.

Umas das doenças mentais que atinge 30% dos mais de 100 milhões de trabalhadores e trabalhadoras brasileiros, segundo pesquisa realizada pela International Stress Management Association (Isma), é a síndrome de burnout, que tem como principal sintoma a sensação de esgotamento físico e emocional, e por isso a doença é conhecida como a síndrome do esgotamento profissional.

As oito profissões, apontadas por especialistas, que mais são diagnósticas com a síndrome são: professores, advogados, jornalistas, bombeiros, policiais, advogados, agentes penitenciários e bancários, por conta do excesso de exigência da atividade profissional e também da autoexigência.

“Eu comecei a perceber que eu estava em um grau de irritação e aceleração muito além do suportável até para mim mesma, foi quando comecei também a me dar conta que tudo eu tinha que fazer com pressa, inclusive necessidades básicas, como comer e as fisiológicas também, mas isso já estava acontecendo há algum tempo, até que depois surgiram sintomas físicos que eu não conseguia controlar. O meu corpo começou a tremer, os olhos, as bocas, repuxavam e também tremiam. A fibromialgia começou a atacar de forma absurda, sobretudo nos ombros, no pescoço, na nuca e nos pés. Até minha memória foi abalada drasticamente, esquecia coisas que tinha acabado de fazer, tinha que anotar com riqueza de detalhes e depois sair ticando o que tinha feito. Tiveram várias vezes que eu esqueci onde tinha estacionado o meu carro”, conta a diretora de bancos estaduais do Sindicato e também bancária do Banpará, Ghyslaine Cunha, diagnosticada com a síndrome de burnout no ano passado.

Mudanças bruscas de humor; irritabilidade; lapsos de memória; ansiedade; depressão; são algumas das atitudes negativas causadas pela síndrome, por isso a confirmação da patologia é basicamente clínico e leva em conta o levantamento da história do paciente e seu envolvimento e realização pessoal no trabalho.

“No home office passei a trabalhar muito mais, não tinha mais o trânsito, que era um estresse diário, mas em compensação eu tinha uma cobrança muito grande para que eu desse conta da equipe, conta das tarefas e houve até momentos de exposição em grupo, por conta disso. Eu lembro de vários momentos em que eu parava, sentava na minha cama, colocava as mãos na minha cabeça e tinha a sensação de que ia enlouquecer”, recorda.

Paralelo a todas essas sensações, vieram as crises de choro e “uma sensação de não ter mais controle sobre o próprio corpo”, como ela define. Foi quando a bancária foi em busca de ajuda profissional.

“Procurei um psiquiatra e quando cheguei ao consultório, eu tentei manter o controle pra conversar, mas eu desabei, tive uma crise de choro incontrolável e quando comecei a falar, não era de uma forma muito lógica o que eu dizia, mas quando o médico conseguiu compreender ele me afastou”, relembra.

O tratamento da síndrome de burnout inclui o uso de antidepressivos e psicoterapia. Atividade física regular e exercícios de relaxamento também são altamente recomendados para ajudar a controlar os sintomas.

“No meio de tudo disso, pandemia e meu diagnóstico com afastamento, entrei na chapa do Sindicato que de certa forma me deu motivação, me trouxe energia positiva, além da medicação, terapia e fisioterapia, inclusive momentos de lazer são recomendados como parte do tratamento, mas que estamos impossibilitados por conta das medidas de prevenção contra a Covid-19. Caso algum colega se identifique com algum dos sintomas que eu tive, não deixe de procurar ajuda o quanto antes, inclusive o Sindicato pode orientá-lo”, finaliza a bancária.

 

Fonte: Bancários PA com MPT, Ministério da Economia e Em Tempo

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