Saúde mental e trabalho juntos? É possível!

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A cobrança de metas é o principal elo entre os casos de afastamento por assédio moral que passam pela área de saúde do Sindicato todos os anos. Com a disputa acirrada por mais lucros através da oferta de serviços das instituições financeiras, sobra para o bancário e a bancária a imposição do cumprimento das metas.

“O grande problema das metas são elas por si só, e mais ainda na forma como são colocadas e principalmente cobradas, quase sempre, sem qualquer pudor ou respeito ao trabalhador e trabalhadora, que vai adoecendo fisicamente e psicologicamente, sem saber o motivo. O sentimento de culpa, de incapacidade oprime tanto a ponto de interferir na vida pessoal, familiar e social; e mesmo assim, o colega não entende que está sendo vítima de assédio moral”, explica o presidente do Sindicato, Gilmar Santos.

Crises de choro, irritação, medo exagerado, sede de vingança, alterações de sono, tristeza, sensação de inutilidade, vontade de beber, diminuição da libido, distúrbios digestivos, pensamentos e tentativas de suicídio são alguns dos sintomas apresentados por quem é vítima de assédio moral; mas como são sinais parecidos com problemas pessoais, sentimentais e financeiros, a identificação nem sempre é fácil.

Heládia Carvalho

“É muito difícil caracterizar assédio no ambiente de trabalho, até o INSS, não faz essa relação do adoecimento com o trabalho, considerado o afastamento por algum tipo de doença comum. Mas nós, enquanto Sindicato, emitimos a CAT por entender que a doença está sim relacionada ao trabalho, conforme relato dos adoecidos. Ano passado registramos 29 CAT’s em todo o Pará”, destaca a diretora de saúde do Sindicato, Heládia Carvalho.

Suely Belém

“Falar de assédio moral é falar de sofrimento, então para identificar se eu estou sendo alvo de assédio moral eu tenho que ficar atento a todas as formas que o meu chefe e os meus colegas me tratam. Me isolar, não falar diretamente comigo, tirar minhas funções de trabalho, me dar tarefas que são inferiores ao cargo que ocupo, e se for algo persistente, e se for algo contínuo, eu provavelmente estou sendo vítima de assédio moral. Então toda vez que eu me sinto humilhada, que eu me sinto emocionalmente abalada e que eu percebo que eu estou sendo excluído de algo, eu posso estar sendo, sim, vítima de assédio moral”, explica a psicóloga, ouvidora da Universidade do Estado do Pará e professora do curso de medicina da Unifamaz, Suely Belém.

A especialista abriu o seminário “Saúde Mental e Trabalho” ontem (23), na sede do Sindicato, com a palestra “O que é assédio moral?”. O evento foi uma parceria entre a entidade sindical com o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST).
Uma pesquisa feita pela Federação Nacional dos Bancos, em 2016, apresentada pela psicóloga, 38,1% dos entrevistados que trabalham na Caixa acreditam que metas elevadas causam problemas psicológicos.

Já no Bradesco, 27,9% dos funcionários acreditam que metas elevadas geram problemas familiares. Enquanto que no Santander, 54,2% dizem receber ameaças de punição ou demissão caso não entreguem as metas.

Laura Nogueira

“Não negar as primeiras reações físicas e psicológicas que aparecem já é um importante passo, e muito mais que isso, buscar ajuda com os órgãos especialistas na saúde do trabalhador, como os centros de referências e o próprio sindicato, que dão as orientações e suportes necessários ao trabalhador e trabalhadora nesse momento difícil de se compreender e encarar”, orienta a psicóloga da Fundacentro, Laura Nogueira.

Mas para a especialista, o combate ao assédio pode começar no próprio local de trabalho com espaços de diálogo, mudanças na organização do trabalho, grupos de saúde do trabalhador e parcerias entre os centros de referências e as entidades sindicais.

‘Reforma’ da Previdência e Trabalhista

A tarde, a programação continuou com temáticas sobre a ‘reforma’ da Previdência e Trabalhista, com a palestra “As consequências da ‘reforma’ Trabalhista na saúde dos trabalhadores”, ministrada pela auditora fiscal do trabalho da Superintendência Regional do Trabalho (SRT), Edna Rocha, que relembrou a importância de debater o atual momento político do país.

“Nós (trabalhadores) não tivemos atitudes para buscar mudanças. Não é hora de dar aquele passo para trás para refletir, precisamos agir. Nesse processo, é preciso ler e conhecer a ‘reforma’ Trabalhista, para compreender o motivo da luta e como lutar”, ressaltou Edna.

A auditora também reforçou que a extinção do Ministério do Trabalho prejudica o processo de detectar fatores que vão do trabalho análogo a escravidão a problemas de saúde mental. Inclusive, de acordo com ela, a saúde mental do trabalhador está cada vez mais fragilizada devido à perda do contato humano e o costume de levar trabalho para casa, e até mesmo por conta da tecnologia e grupos de Whatsapp, que tornam o trabalho sempre presente, até nos fins de semana e momentos de lazer.

Antes do coffee break que finalizou o evento, ocorreu um bate-papo entre os participantes onde foi recordada a importância de cuidar da saúde (principalmente a mental) e ponderados meios para que a classe trabalhadora reivindique seus direitos e não esteja exposta a múltiplas fontes de adoecimento.

 

Fonte: Bancários PA

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