16ª Conferência Bancária do Pará defende organização da resistência no ramo financeiro

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Evento ocorreu novamente de forma virtual e se dedicou a analisar as transformações do trabalho e a organizar as lutas no ramo financeiro

A pandemia do novo coronavírus ainda não acabou e, por esse motivo, a 16ª Conferência Bancária do Pará foi realizada na manhã deste sábado, 21 de agosto, de forma virtual. Mesmo assim o evento contou com a participação de dezenas de bancários e bancárias de diversas regiões e municípios paraenses, além de delegados e dirigentes sindicais.

A abertura dos trabalhos foi feita pela presidenta do Sindicato dos Bancários do Pará, Tatiana Oliveira e pela presidenta da Contraf-CUT, Juvândia Moreira, que gravou um vídeo de saudação aos participantes da Conferência, onde destacou a necessidade de organizar os milhões de trabalhadores e trabalhadoras do ramo financeiro para enfrentar os ataques diários do governo Bolsonaro aos direitos trabalhistas e aos bancos e empresas públicas.

“Essa Conferência precisa aprovar resoluções que apontem para o enfrentamento com o governo de Bolsonaro e tudo o que ele representa, precisamos apontar caminhos para um Brasil inclusivo, que valorize a democracia, que respeite seu povo e nossos direitos. Na Amazônia e em toda a base bancária do Centro Norte, nossa tarefa deve ser derrotar a MP 1052, defender nossos bancos públicos regionais e estaduais, e que estes estejam a serviço do povo e geridos dentro de uma perspectiva democrática e popular. Fora Bolsonaro! E viva as lutas da categoria bancária!”, destacou a presidenta da Contraf-CUT, Juvândia Moreira.

Em tempos sombrios, como a classe trabalhadora pode resistir e revidar?

Esse foi o tema do painel de conjuntura que ocorreu logo após aprovação, por unanimidade, do regimento da 16ª Conferência. O secretário de relações internacionais da Contraf-CUT, Roberto Von Der Osten, diretamente de Curitiba, abriu o painel e destacou que o sistema capitalista tem trabalhado pela fragmentação das legislações trabalhistas e dos direitos dos trabalhadores e pela maximização dos lucros dos bancos e grandes corporações, tudo isso associado à digitalização dos serviços e substituição de trabalhadores e locais de trabalho físicos por serviços home office e ambientes digitais de relacionamento.

Roberto Von Der Osten também observou que o golpe de 2016 colocou em crise o antigo modelo sindical, sobretudo pelas aprovações de Emendas Constitucionais como a Terceirização, as reformas trabalhista e da previdência, e que avançam no governo Bolsonaro com a reforma administrativa (PEC 32) e com Medidas Provisórias que aprofundam a reforma trabalhista, como a MP 1045.

“É por conta dessas transformações no mundo do trabalho que o Comando Nacional dos Bancários e Bancárias quer que a gente discuta o futuro do emprego bancário, a organização dos trabalhadores do ramo financeiro e o próprio sistema financeiro que a gente quer, além de percebermos a importância da nossa comunicação para trazer a diversidade de trabalhadores e trabalhadoras do ramo financeiro para as nossas lutas. Precisamos de sindicatos fortes para organizar as lutas da classe trabalhadora”, pontuou.

Transformações no Ramo Financeiro e seus impactos

O painel de conjuntura teve continuidade com a economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – DIEESE/Contraf-CUT, Vivian Machado. Ela falou sobre o marco regulatório dos meios de pagamentos eletrônicos no Brasil (Lei nº 12.865/2013), que criou novos participantes do Sistemas Brasileiro de Pagamentos, dentre eles: Instituições de Pagamento; Arranjos de Pagamento; Moeda Eletrônica.

“Para o Banco Central, a medida visava a inclusão financeira da população sem acesso ao sistema bancário convencional. Mas, para os bancos, uma expressiva redução de custos e maiores ganhos”, ressaltou a economista.

Ela demonstrou como os bancos têm investido em tecnologia para aumentar seus lucros, com digitalização de transações financeiras e áreas de apoio, automação bancária com inteligência artificial e chatboats, expansão das Fintechs e Startups de tecnologia financeira, crescimento das cooperativas de crédito; além de novos modelos de negócios (banco em aplicativos, PIX, Open Banking, Operações financeiras por whatsapp) e novos modelos de trabalho (home office, agências digitais, agentes autônomos de investimento, pejotização e uberização dos serviços bancários).

Dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostram que os bancos gastam em média R$ 20 bilhões em tecnologia. Em 2020 o investimento foi de R$ 26 bilhões. Hoje, 67% das transações bancárias ocorrem em ambientes digitais, sendo 51% via celular. O PIX já supera as operações de cheque, boleto, TED e DOC, com 300 milhões de contas e 100 milhões de usuários. E 1.065 instituições financeiras estão obrigadas a operar em Open Banking no Brasil, que é um sistema de compartilhamento padronizado de dados de clientes entre instituições financeiras.

Vivian Machado também mostrou que a digitalização tem ampliado o desemprego bancário e hoje a categoria representa 50% dos trabalhadores do sistema financeiro nacional. Por outro lado, aumentou o número de agentes autônomos dentro do sistema financeiro, principalmente com as Fintechs. Além disso, as agências físicas têm sido fechadas e substituídas por agências digitais e no lugar do trabalho nas agências entra o sistema home office. Os bancos diminuem e as cooperativas de crédito crescem.

“Tudo isso impacta em uma diminuição de sindicalizações e enfraquecimento dos sindicatos, enquanto que os bancos tiveram uma diminuição de custos de mais de R$ 1 bilhão com a digitalização e outras medidas durante a pandemia, o que resultou em um lucro na ordem de R$ 54,7 bilhões para os bancos, o que representa alta de 61,4% em 12 meses”, concluiu.

Organizar as lutas do ramo financeiro

A parte final da Conferência Bancária do Pará foi dedicada a aprovação de propostas de organização das lutas dos trabalhadores e trabalhadoras do ramo financeiro, as quais serão apresentadas para os debates na Conferência Bancária Regional Centro Norte, no dia 24/08; e na Conferência Nacional dos Bancários e Bancárias nos dias 03 e 04 de setembro.

Dentre as propostas aprovadas, destaque para a rediscussão do cálculo da PLR e sua tributação, observar as sequelas da covid-19 na saúde da categoria, organizar um plano de formação e organização do ramo financeiro, criar núcleo sindical de apoio psicossocial à categoria bancária, estabelecer regras para o trabalho home office que evitem adoecimentos e perda de direitos aos bancários e bancárias, entre outras.

Também foram aprovadas 3 moções: de gratidão aos municípios paraenses que vacinaram a categoria bancária; de repúdio com solicitação de nota pública de desagravo ao racismo, à misoginia e ao machismo estrutural praticado pelos vereadores que atacaram, no plenário da Câmara de Vereadores, as vereadoras Enfermeira Nazaré e Lívia Duarte, ambas do PSOL; e pelo Fora Bolsonaro, contra a MP 1045.

Delegação eleita

O Pará elegeu uma delegação com 21 representantes às Conferências Regional e Nacional Bancária, sendo a presidenta do Sindicato Tatiana Oliveira representante nata do Pará no Comando Nacional da categoria e mais 10 bancárias e 10 bancários eleitos na Conferência Estadual. Confira abaixo:

Delegada Nata

– Tatiana Oliveira (Caixa)

Delegadas Bancárias

– Rosalina Amorim (Banco do Brasil)

– Érica Fabíola (Caixa)

– Suzana Gaia (Banco da Amazônia)

– Salete Gomes (Banpará)

– Rafaela Carleto (Banco do Brasil)

– Odinéa Gonçalves (Banpará)

– Patrícia (Bradesco)

– Heládia Carvalho (Bradesco)

– Vera Paoloni (Banpará)

– Cristiane Aleixo (Caixa)

Delegados Bancários

– Gilmar Santos (Banco do Brasil)

– Márcio Saldanha (Santander)

– Paulo Maurício (Caixa)

– Sandro Mattos (Itaú)

– Cristiano Moreno (Banco da Amazônia)

– Paulo César Farias (Santander)

– Paulo Lima (Caixa)

– Ronaldo Fernandes  (Banco da Amazônia)

– Denison Martins (Banpará)

– Sergio Trindade (Banco da Amazônia)

Suplentes

– Ghyslaine Cunha (Banpará)

– Heidiany Moreno (Banpará)

– Wellington Bonfim (Banco do Brasil)

– Eliana Lima (Bradesco)

– Ivete (Previ)

Presente do Dia dos Bancários e Bancárias

A presidenta do Sindicato, agradeceu a participação de todos e todas na manhã de sábado e informou sobre o presente que o Sindicato dos Bancários dará à categoria paraense no próximo dia 27 de agosto, às 9 horas, um dia antes do Dia Nacional da categoria: a inauguração da usina de energia solar da entidade, em um café da manhã na sede do sindicato.

O evento não será aberto ao público devido às restrições sanitárias, mas terá a presença de delegados e delegadas sindicais e autoridades convidadas, além dos dirigentes e funcionários do sindicato.

O investimento deve gerar em médio prazo uma economia de 80% nos custos de energia elétrica para a entidade e vai abastecer a sede de Belém e as subsedes de Marabá e Santarém.

“Estamos muito felizes em entregar esse presente para a categoria na véspera do Dia Nacional dos Bancários e Bancárias. Essa foi uma proposta que apresentamos durante a nossa eleição para o sindicato e conseguimos colocar em prática justamente em um momento de crise econômica e aumento desenfreado dos custos com energia elétrica, combustíveis, alimentos e muito mais em plena pandemia. Essa conquista nos ajudará a fortalecer ainda mais as lutas da nossa categoria”, destaca Tatiana Oliveira.

 

Fonte: Bancários PA

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