20 de novembro: Quantos negros trabalham com você?

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Você já foi confundido com um cargo inferior ao que ocupa por causa da cor da sua pele ou de outros traços físicos? O bancário do Banco do Brasil em Marabá, Wyo Robson Silva, já.

Wyo Robson Silva (Arquivo pessoal)

“Uma vez quando comprei um buquê de flores e passei em duas lojas para fazer outra compra e as moças do atendimento pensaram que eu era o entregador, mas tirei isso de letra. Preconceito diretamente, ainda não senti, mas sempre tem piadinhas de mau gosto, demonstração de superioridade branca. Outro dia um suposto amigo falou que meu cabelo era ruim, respondi que meu cabelo era crespo e ruim era o preconceito dele, ele ficou super sem graça e nunca mais puxou esse tipo de papo”, comenta.

As duas situações acima vivenciadas e relatadas pelo bancário são exemplos de racismo, é a prova de que ainda vivemos em um país racista que tem o dia 20 de novembro, como o Dia da Consciência Negra. A data foi instituída durante o governo Lula, através da Lei nº 10.639.

20 de novembro é a data da morte de Zumbi dos Palmares. Palmares era o nome do quilombo que Zumbi comandou por quase 15 anos e liderou a resistência de milhares de negros contra a escravidão.

De lá pra cá, muita coisa mudou, mas o racismo continua a fazer vítimas todos os dias, no último dia 19, João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi espancado e morto por dois homens brancos, seguranças de uma rede de supermercados em Porto Alegre.

“Creio que as coisas evoluíram muito, as sociedades caminham para um crescimento moral e intelectual, mas mesmo com tudo isso, ainda vemos muitas situações que nos remetem aos tempos obscuros e de muita intolerância por parte de muitos que ainda estão presos na ignorância e falta de respeito. O movimento ‘Vidas negras importam’ e tantos outros no mundo nos relavam isso. Essas lutas constatam uma busca de afinação e valorização dos negros no mundo, não só dos negros, mas de todos considerados minorias”, afirma Wyo.

Wyo faz parte também de outra minoria, a minoria dos negros com trabalho formal e carteira assinada. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C) trimestral, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a taxa geral de desocupação entre os pretos alcança 17,8%. Considerando apenas os brancos, é de 10,4%.

Os números apontam que cerca de 11 milhões de trabalhadoras foram para a inatividade, sem condições de trabalhar ou procurar emprego; outros 8 milhões foram para o trabalho em casa (home office); quase 10 milhões tiveram seu contrato de trabalho suspenso ou redução da jornada de trabalho. Outros 13 milhões continuaram desempregados.

Igualdade de Oportunidades

Na semana da Consciência Negra, durante a retomada da mesa permanente de Igualdade de Oportunidades foi proposto na reunião que a mesa bipartite também passasse a ter ações permanentes de combate ao racismo.

A mesa concordou que é necessário que, tanto na questão de gênero como no combate ao racismo, sejam feitas duas frentes de trabalho. Uma de atendimento às vítimas e outra educativa e de conscientização, dentro dos bancos.

“A educação é a principal forma que temos para combater o racismo, precisamos entender o que é racismo, como ele se dá, e a importância em resistir e não ficar calado. A luta antirracista é dos brancos também, que mesmo do seu lugar de privilégios, pode combater o racismo sem ser a vítima. Lugar que nós mulheres sofremos duas vezes, pelo gênero, pela raça, pelo simples fato de ser mulher, em locais privados e públicos, algumas dentro da própria casa”, destaca a dirigente do Sindicato em Marabá e bancária do Banpará, Heidiany Moreno.

De acordo com o Atlas da Violência de 2019, houve um aumento de 30,7% no número de mulheres assassinadas entre 2007 a 2017, ano em que foram mortas 4 936 mulheres (a maior quantidade desde 2007), ou seja, cerca de catorze por dia. As mulheres negras são as que mais sofrem violência doméstica no Brasil e elas são também as que mais denunciam agressões.

A participação da mulher no mercado de trabalho no país caiu ao menor nível em 30 anos. No segundo trimestre deste ano, segundo dados do IBGE, as mulheres representaram 46,3% da força de trabalho. O índice considera as mulheres que trabalham e procuram emprego. É o menor número desde 1990, quando o índice foi de 44,2%.

As mulheres negras foram fortemente afetadas. Mais de 887 mil trabalhadoras com carteira assinada foram demitidas, 620 mil sem carteira, 886 mil trabalhadoras domésticas e 875 mil trabalhadoras por conta própria.

Wyo confessa que não sabia que o tema Igualdade de Oportunidades, de gênero e raça, era uma das pautas da mesa permanente de negociação da categoria.

“Fico feliz que está sendo feito algo para mudar essa realidade. Todas as formas de fomentar esse respeito, nem que seja por força de lei são bem-vindas, não só para negros, mas para todos, LGBTQI+ e mulheres. Busco conscientizar-me e sempre que possível me impor diante de situações que há a falta de respeito comigo ou com qualquer semelhante. Busco sempre fazer frente contra esse desgoverno ou qualquer outro que tenha esse viés racista, homofóbico, machista e preconceituoso”, finaliza o bancário.

 

Fonte: Bancários PA com Contraf-CUT

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