2ª Feira Feminista Solidária é símbolo de resistência e autonomia das mulheres

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A Feira Feminista Solidária é muito mais que uma feira onde as mulheres empreendedoras podem comercializar seus produtos, é um espaço onde elas podem trocar experiências construindo a própria autonomia financeira.

“A gente acha importante ser realizada nessa segunda edição d a feira, porque além de ser uma alternativa para geração de renda, fortalecer a autonomia financeira e política das mulheres, é um espaço para gente se articular, dialogar sobre a situação do país e as mulheres no meio disso tudo, das reformas que atacam nossos direitos”, conta uma das organizadoras do evento, a bancária e Secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Tatiana Oliveira.

A 2ª Feira Feminista Solidária, no dia 15 de maio, reuniu mais de 20 expositoras de várias idades e histórias de vida, como a artesã, Rosalina Castro, que encontrou no artesanato a saúde perdida em outra profissão. “Fui cabeleireira por 30 anos, parei por motivos de saúde. Por não poder ficar muito tempo parada apelei pro artesanato fazendo bonecas, pinturas, tudo que eu possa tirar pro meu dia a dia, que eu possa trabalhar a minha mente”, explica.

Do campo ou da cidade, as mulheres trouxeram para a feira o que sabem produzir de melhor como a agricultora Antônia Rita Gomes. “Tem 15 anos que moro no assentamento, eu produzia e não tinha para quem vender, agora com essas feiras é uma oportunidade muito boa para eu conseguir vender os meus produtos. Lá dentro eu não tinha condição, tem que sair pra fora pra vender e é assim que eu vivo, produzo e vendo”, define.

A divulgação do evento foi longe e trouxe mulheres de outros municípios. “Essa feira é muito importante porque as mulheres trazem os produtos delas, dá visibilidade para as mulheres, empodera as mulheres, enquanto empreendimento, economia e também para que outras pessoas conheçam o trabalho do artesanato, o trabalho da agricultura familiar”, avalia a professora do interior de Barcarena, Beatriz Lima.

A segunda edição do evento repetiu atrações do ano passado que foi sucesso de público, como a aula de defesa pessoal com a professora de karatê, Adélia Rocha; mas também trouxe novidades e cultura indígena da tribo Kayapó, da Aldeia Juari, que fica em Ourilândia do Norte, sul do Pará. A índia Irerax Kayapó, que na aldeia trabalha como merendeira, deixou um pouco da fauna na região no corpo de várias mulheres através da pintura manual e corporal.

Já para aquelas que queriam uma arte permanente na pele teve flash tatoo. A universitária e uma das organizadoras do evento, Liliani Nascimento, demorou algumas horas para criar coragem em fazer a primeira tatuagem. “Sempre tive vontade, mas o medo da dor meio que não deixava. Apesar do nervosismo valeu à pena levar marcado na minha pele o símbolo que representa o universo feminista”, conta.

Ela tatuou o símbolo “Woman Power”, uma combinação do símbolo de Vênus, aquele que a gente usa para designar o feminino, com o punho em riste, usado para vários movimentos ao redor do mundo, desde o movimento negro até a revolução comunista.

Durante o evento teve também o lançamento do livro “O que é encarceramento em massa?”, seguido de debate. A autora, Juliana Borges, que também é colunista e pesquisadora em Antropologia na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP), e feminista negra interseccional, não escondeu a emoção de voltar ao Pará, depois de 10 anos, para divulgar um trabalho de anos de produção, pesquisa e vivência.

“A gente resolveu discutir encarceramento que é um fenômeno que se coloca de maneira muito forte, principalmente nos países que passaram pelas experiências coloniais de encarceramento de pessoas negras e de mulheres negras. Portanto, discutir o cárcere, discutir a prisão, discutir o sistema punitivo tem que ser uma prioridade, uma emergência do feminismo negro, que como diz Angela Davis, ‘a gente só vai ter liberdade de fato quando não houver mais prisões, quando a gente não tiver mais prisões e quando nenhuma pessoa negra for privada de liberdade’. Então é pouco isso que o debate do livro vem trazer para gente discutir, e por isso eu estou muito feliz em fazer essa discussão, tem sido muito gratificante um encontro com mulheres negras, com a população negra debatendo esse tema”, celebra.

 

 

Fonte: Bancários PA

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