Afinal, o que e quem nos representa no mundo homofóbico?

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Adilson Barros*Por Adilson Barros, secretário executivo da Contraf-CUT e militante LGBT

Resolvi polemizar este debate porque ainda nos sai tão caro, isto foi devido à aprovação do casamento de pessoas do mesmo sexo em alguns estados ocorridos no último período, e com um a impressão que a sociedade já avançou e as coisas estão muito bem, obrigado. Pelo contrário, cada vez mais, mesmo com toda a nossa luta, avanços e conquistas, aumentam, infelizmente, o ódio aos homossexuais e a toda comunidade LGBT. A única justificativa plausível é a existência de uma legislação para entrar em vigor (PL-122/06), e com um sentimento de que as pessoas poderão silenciar ou pensar antes de fazer qualquer tipo de manifestação preconceituosa e discriminatória ao atacar setores menos favorecidos, principalmente os LGBTs.

“Como é que se pode terminar com esta situação? A solução não é apelar à moral e à justiça, já que no estado natural estas ideias não fazem sentido. O nosso raciocínio leva-nos a procurar a paz se for possível, e a utilizar todos os meios da guerra se a não conseguirmos. Então como é que a paz é conseguida. Somente por meio de um contrato social. Temos que aceitar abandonar a nossa capacidade de atacar os outros em troca do abandono pelos outros do direito de nos atacarem. Utilizando a razão para aumentar as nossas possibilidades de sobrevivência, encontramos a solução.” (O Leviatã-Thomas Hobbes)

As leis controlam as pessoas, porém não mudam sua forma de pensar e de agir. Thomas Hobbes, afirma que “a justiça passa a ter sentido já que os acordos e as promessas passam a ser obrigatoriamente cumpridos”.

As leis que criminalizam o racismo inibiram a discriminação e fizeram com que muito racista de plantão pensasse duas vezes antes de fazer qualquer pronunciamento ou manifestação contra a comunidade negra. Racismo é crime, porém os racistas ainda estão pelas ruas fazendo piadinhas contra os negros e negras.

O casamento entre pessoas do mesmo sexo ou união estável sinalizam um momento de reflexão. As estatísticas apresentam que o modelo de família mudou, e nós estamos inseridos neste modelo, mesmo não sendo padronizado ou tradicional. Esta situação não é imposta a ninguém.
A sociedade caminha a passos largos, com todos os avanços e alguns retrocessos, o mundo moderno está aí, as famílias já não são as mesmas, já não é mais um modelo imposto. Ora, existem famílias de casais separados que juntam as famílias de relações anteriores, de mães e pais que resolvem ”segurar a barra sozinhos”, e muitas vezes cumprem um papel de pai e mãe, filhos(as) adotivos(as), e porque não casais de lésbicas ou de gays formarem uma família e viverem felizes para sempre?

É necessário ter uma vagina e um pênis pra poder ser um casal completo? Obvio que não. É necessário percebermos o que esta por traz de tudo isso: as relações homoafetivas já existem há milhões de anos. Em algumas sociedades eram comuns tais relações, em outras existiam regras, em outras eram sabidas e com a compreensão cidadã.

Os setores conservadores, e lamentavelmente incluindo religiões ou seitas, fazem julgamento e condenam o que é diferente socialmente, ou o que não é senso comum. E se esforçam, em fazer “lobby” no Congresso e no Parlamento instigando e incitando o ódio e a perseguição a toda comunidade LGBT.

Quando constatamos que pessoas públicas, como o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias se presta ao serviço em representar uma parcela da sociedade – especial a bancada pentecostal e neopentecostal- e pior, sem ter sequer nenhum conhecimento de causa, ou saber como “sobrevivem” os setores considerados minorias. Não vejo necessidade de salvação para quem não precisa ser julgado e condenado sem fundamentação e muito menos sem crime. Por isso, esse senhor e seus seguidores de plantão não nos representam!

E voltando a Hobbes com seu Leviatã, “ele parte do princípio que os homens são egoístas e que o mundo não satisfaz suas necessidades”, sendo assim, uma situação diferente ou considerada transgressora, cria uma situação desesperadora, sem um norte e sem saber o que fazer.
Não quero aqui fazer juízo de valor das religiões ou seitas, mas se afirmam que são contrários a posição deste parlamentar e pastor, porque o mantém na sua igreja? Já basta o deputado do Rio de Janeiro e sua corja de aliados fazer um grande movimento contra nós, os LGBTs.

Afinal o que e quem nos representa?

*Adilson Barros é secretário executivo da Contraf-CUT e militante LGBT

Fonte: CUT

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