Ao Sr. Aldemir Bendine, Presidente do Banco do Brasil

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Por Fábio Gian*

No último dia 10 de abril, completou 30 (trinta) dias de um triste episódio: o descomissionamento ilegal de uma bancária do Banco do Brasil ocorrido em Belém na agência Nazaré, fato ocorrido justamente na semana em que se comemorou o Dia Internacional da Mulher.

Desde o início, o Sindicato dos Bancários do Pará buscou resolver a situação junto ao BB, no dia do descomissionamento indo na agência, até uma reunião desmarcada pela Super-Pa, que, de uma maneira infeliz, considerou o caso como um problema menor, “individualizado”, sendo que até o presente momento, o Banco não ouviu a entidade sindical sobre o assunto.

Assim, entramos em contato com a Comissão de Empresa dos Funcionários que acionou a direção do Banco, tendo ainda o Sindicato enviado ofícios a diretoria do BB e às áreas de gestão de pessoas, solicitando o imediato cancelamento da decisão do Banco do Brasil e o retorno da comissão da trabalhadora. A diretoria do BB se resumiu a responder que “o caso está sob avaliação”, desde o dia 24/03.

O-diretor-Gilmar-Santos-durante-o-ato-na-luta-contra-o-assdio-moral-no-Banco-do-BrasilComo forma de pressão, o Sindicato realizou uma manifestação pacífica em frente a agência Nazaré no dia 31/03, quinta, convocando a imprensa para a questão do assédio moral no ambiente das agências, visto que a forma da decisão da empresa contra uma trabalhadora que já fora delegada sindical daquela unidade e que havia retornado de licença saúde de 81 dias por acidente de trabalho, além do teor da carta de descomissionamento, remetem ao problema do assédio moral, aliados ainda ao histórico do gerente geral daquela agência e seus métodos de cobrança: alvos de várias denúncias de bancários por onde ele passou.

No momento da realização daquele protesto, enquanto o Sindicato conversava com um dos gerentes da agência e um advogado do Banco, o gerente geral da agência Nazaré chamou a polícia para “manter a ordem”, conforme divulgamos em matéria recente aqui neste site. O protesto continuou enquanto lembrávamos à polícia que seu papel era garantir a segurança pública, evitando, por exemplo, que os trabalhadores bancários fiquem na mira de armas e/ou sofram sequestros ou, ainda, impedir que clientes sejam vítimas do crime de “saidinha”, etc., não devendo constar nas tarefas da polícia a intimidação de trabalhadores em um ato pacífico.

Das correspondências que enviamos ao Banco, incluímos a auditoria, pois acreditamos que este órgão deve apurar os fatos, visto que o descomissionamento foi irregular e envolveu o primeiro gestor da unidade quando descumpriu o IN 369-1, cuja transcrição refere-se ao acordo coletivo de trabalho, mais especificamente, a Cláusula Quarenta e Dois. Acreditamos também que a AJURE (que enviou um advogado a nossa manifestação para conversar com o Sindicato na calçada da Avenida Rui Barbosa, em meio ao sol, até a chegada da polícia) pode ajudar a resolver parte do problema no sentido de orientar o Banco a cumprir o acordo assinado com as entidades sindicais em outubro passado. Até o presente momento, o Banco nada respondeu além de que o caso está sendo avaliado.

Gerente da Agência Nazaré chamou a polícia para tentar barrar a manifestação pacífica do Sindicato em defesa dos direitos dos trabalhadores do BB
O que fica para os trabalhadores é um sentimento difícil de definir em algumas linhas, capaz, porém, de causar grande perplexidade e angústi a. É importante que os bancários tenham conhecimento que combater o assédio moral não é tarefa das mais simples, especialmente quando o Banco permite que um administrador chame a polícia para impedir uma manifestação pacífica que reivindicava direitos conquistados na luta da categoria.

O Banco do Brasil poderia evitar tais atrocidades contra seus funcionários visto que existem diversas agências que cumprem metas sem descomissionamento, sem ameaças e sem a prática do assédio moral, onde o clima é de paz entre as pessoas e não de medo e adoecimento dos trabalhadores. O Banco também poderia ouvir funcionários e ex-funcionários que trabalharam com aquele gestor em outras agências e mesmo fazer uma reciclagem sobre gestão de pessoal cujo objetivo seja, verdadeiramente, as pessoas, e não apenas lucros. O BB também precisa travar o descomissionamento no SISBB, para evitar que pessoas que não têm noções mínimas de direitos dos trabalhadores utilizem esse dispositivo como ameaça, configurando o assédio moral.

Não se trata de um combate do Sindicato contra o gerente geral da agência Nazaré. Trata-se sim, de uma guerra contra o assédio moral e, obviamente, aqueles que o praticam serão alvos das ações do Sindicato, sejam ações de rua, para denunciar os bancos à sociedade, sejam ações jurídicas.

É importante também lembrar que os sindicatos de bancários filiados a CUT espalhados pelo país, como é o caso do Sindicato dos Bancários do Pará, juntamente com a Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil, a ANABB, foram as entidades que mais lutaram contra a privatização do Banco do Brasil nos anos 90, pois sempre acreditamos que o BB tem uma missão importante junto ao povo brasileiro que é a de contribuir na ampliação das fronteiras do desenvolvimento de nossa nação e de nossa gente, resgatando sua missão social e de Banco público. Assim, jamais concordamos ou concordaremos com um banco cujo modelo de gestão cause adoecimento de seus trabalhadores através de metas abusivas com o objetivo de se manter em primeiro a qualquer custo.

O Banco do Brasil pode e deve resolver questões relacionadas com seus empregados de forma justa. Um exemplo disso observamos na última visita sindical ao prédio do BB da Avenida Presidente Vargas que foi a autorização que o Banco deu a uma funcionária gestante lotada no interior do Estado para que ela trabalhasse no 6º andar daquele condomínio, não necessitando que ela se deslocasse para trabalhar, nesse período de gestação, em uma agência distante de sua residência na capital. Atitudes louváveis como essa devem ser estendidas a todas e todos no Banco.

Dessa forma, como preconizamos na campanha salarial passada, cujo lema era um outro banco é possível: pessoas em primeiro lugar, ainda acreditamos que a decisão tomada de maneira equivocada na agência Nazaré seja anulada, tendo ainda a certeza de que os trabalhadores sairão vitoriosos deste combate contra a violência perversa no cotidiano dos bancários chamada de assédio moral.     


* Fábio Gian é funcionário do Banco do Brasil, Diretor de Comunicação do Sindicato e Diretor Estadual da ANABB no Pará.

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