Brasileiros apostam no uso de plantas medicinais e meditação em busca de bem-estar na pandemia

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Ansiedade, angústia, tristeza, desesperança. A pandemia do novo coronavírus desestabilizou pessoas em todo o mundo e no Brasil, onde mais de 566 mil brasileiros já perderam a vida, a procura por práticas que ajudam a equilibrar o corpo e mente foi utilizada por mais da metade da população brasileira (61,7%) no primeiro ano da pandemia da covid-19.

A informação é o resultado de uma pesquisa elaborada pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fiocruz, que analisa desde 2017, o uso de práticas integrativas no país.

O Sistema Único de Saúde (SUS) reconhece 29 Práticas Integrativas e Complementares (PICs), que são recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como política pública (confira a descrição e lista aqui).

A constatação foi de que, em 2020, as plantas medicinais e fitoterapia e a meditação empataram como a maior procura com 28%, seguido de reiki em segundo lugar, (21,6%); aromaterapia (16,4%); homeopatia (14,5%); terapia de florais (14%); yoga (13%), apiterapia, ou seja, o uso de mel de forma terapêutica (11%), imposição de mãos (10%) e medicina tradicional chinesa / acupuntura (7,8%).

O Coordenador do observatório PIC-Covid, Cristiano Boccolini esclarece que as práticas não substituem tratamentos tradicionais para doenças já estabelecidas, elas servem para integrar o tratamento para que o paciente alcance o bem-estar.

“A ideia é reconhecer e agregar diversos saberes, sejam culturais ou sociais, a pesquisa também permitiu constatar os tipos de práticas que as pessoas mais utilizam de acordo com a região em que vivem”.

No total 12.136 brasileiros com mais de 18 anos responderam ao questionário, considerado o mais amplo desde a sua implantação.

O resultado foi de que as pessoas das regiões Centro-Oeste (71%) são as que recorreram às práticas, seguido do Sul (70,8%), Sudeste (63,4%), Norte (52,3%) e Nordeste (45,6%).

O pesquisador diz ainda que o objetivo é retratar, por meio dos dados, que as práticas integrativas são uma demanda da própria população.

“Se é uma demanda da população, o SUS pode e deve se organizar para incorporar isso dentro de um consultório médico quer seja um agente comunitário de saúde, um enfermeiro, um conjunto de profissionais de saúde que possam se sensibilizar e se informar, se capacitar para oferecer esse tipo de prática para a população.”

Segundo o Ministério da Saúde, o uso dessas práticas vem aumentando no país: em atividades coletivas, a yoga e o tai chi chuan tiveram crescimento de 46% entre 2017 e 2018.

A procura pelo bem-estar

Nathália Borges é naturóloga e acupunturista de formação, ela trabalha com práticas integrativas focadas no cuidado integral e afirma que o resultado da pesquisa pode ser, de fato, observado no dia a dia da sua profissão.

Desde o início da pandemia, Nathália percebeu no seu dia a dia, o aumento da procura por práticas integrativas com destaque para a medicina ayurveda, que inclui a prática de yoga e meditação. “Elas se tornaram ferramentas de fácil acesso por ser algo que é possível replicar pelo modelo virtual e também por trazer não só o cuidado do nosso corpo físico por meio dos exercícios e posturas que o oga propõe, mas também de auxiliar a nossa mente a se acalmar.”

Na análise da naturóloga, o aumento da procura pelas práticas integrativas se deu, sobretudo, porque as pessoas se viram sem saber lidar com a pandemia fisicamente e psicologicamente.

“Essas técnicas ajudam as pessoas a se conectarem com elas mesmas, a trazerem esse benefício que as práticas respiratórias propõem de ampliar a consciência corporal de ampliar a percepção de tudo o que a gente sente e trazer um ponto de equilíbrio. Não é algo que o nosso dia a dia nos ensinou a fazer, mas hoje a disponibilidade de recursos para ensinar, replicar isso no dia a dia acabou aumentando e servindo de suporte para as pessoas desde essa adaptação nossa nesse modelo pandêmico.”

Nathália relata que as pessoas a procuraram, no contexto da pandemia com queixas diversas, desde problemas físicos, que surgiram com o trabalho em home office como as dores musculares e na coluna, por passar muito tempo sentado, até questões relacionadas a saúde mental como ansiedade, mudanças de apetite e dificuldade de conseguir expressar o que se sente.

“Essas foram as principais queixas que as pessoas me traziam e ainda trazem. Um processo que acabou sendo discutido foi a gente aprender a lidar com a nossa saúde mental. A nossa medicina tem diferentes recursos por meio de medicamentos, por meio das abordagens psicológicas e no caso das práticas naturais, elas entram como auxílio e forma de cuidado tanto da nossa saúde física, quanto emocional.”

 

 

Fonte: Brasil de Fato

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