Feminista e Solidária: Complexo Cultural vira Feira e reúne mulheres em busca da autonomia financeira

0

Uma tatuagem, vários significados. “Eu escolhi um réptil, um réptil melancólico, porque é um réptil da minha vida, é o réptil que anda nas paredes de Belém, é o réptil da vida, é o réptil que tem memória, e é o réptil que dá sentido a muita coisa na vida da gente”, explica a professora Marina de Castro que escolheu se riscar, pela primeira vez, na 4ª Feira Feminista Solidária, um evento do Sindicato dos Bancários do Pará em parceria com a Marcha Mundial das Mulheres no Pará e a Rede Economia Solidária & Feminista (Resf), que aconteceu no último dia 5, na sede do Sindicato em Belém.

Além das tatuadoras, mais de 10 expositoras, todas mulheres, vendiam produtos feitos por elas mesmas. Mais do que retorno financeiro, a Feira é também sinônimo de satisfação. “Para além da questão econômica, que fortalece a economia, principalmente nesse período tão complicado, pós pandemia; é a questão cultural, política em si, essa vivência com o outro, visualizar um novo espaço, porque a maioria das mulheres são de periferia, mulheres negras, e pra mim ocupar espaços como esse é de uma felicidade enorme”, conta uma das artesãs, a Cristina Silva, do Coletivo Elza’s.

Essas experiências são estampadas em boa parte dos produtos que estavam à venda na Feira, como as blusas bordadas com a fauna e flora do Pará e rostos de mulheres negras.

O Coletivo é formado por 12 mulheres, a maioria mães solo que se reúnem, pelo menos uma vez ao mês, em Ananindeua, Região Metropolitana de Belém, onde funciona a sede do Coletivo, para formações cultural e política.

Um estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), realizado com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc), mostrou que após recuar para um total de 8,6 milhões, no segundo trimestre de 2020, o número de mulheres à frente de um negócio no país fechou o quarto trimestre de 2021 em 10,1 milhões, mesmo resultado registrado no último trimestre de 2019, antes da pandemia.

“É importante a gente levar e a gente divulgar também essas mulheres que produzem, essas mulheres que estão aqui trabalhando, confeccionando. Daqui a pouco eu vou divulgar para que outras pessoas venham ou então comprem delas depois da Feira. A Feira não fica só por aqui”, comenta a enfermeira, Danielle Cruz.

Para a profissional de saúde, iniciativas como a Feira Feminista Solidária, são importantes para a autonomia financeira feminina. “É uma porta de libertação das mulheres na sociedade; exatamente isso, quando ela tem uma autonomia financeira, é a liberdade financeira que se inicia também pra liberdade realmente da mulher na sociedade”, avalia.

Segundo o Dicionário de Filosofia, em sentido geral, o termo liberdade é a condição daquele que é livre; capacidade de agir por si próprio; autodeterminação; independência; autonomia.

“Um dos principais objetivos da Feira Feminista Solidária é justamente dar oportunidade para que mulheres solos, chefes de família, empreendedoras tenham uma oportunidade gratuita de venderem seus produtos; e também de proporcionar a elas e quem veio ao nosso evento, entretenimento e aprendizado, para quem sabe conquistar uma vaga no mercado de trabalho a partir de um currículo bem feito”, relata a presidenta do Sindicato, Tatiana Oliveira.

E foi para ajudar nessa disputa que a especialista em encarreiramento feminino, Camile Pina, realizou a palestra “Tchau, desemprego! Os segredos para conquistar uma vaga no mercado de trabalho”.

De acordo com o último levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres são a maioria dos desempregados do país e menos da metade das brasileiras em idade de trabalhar está ocupada no país.

“Pra mim foi uma experiência incrível falar de empregabilidade feminina para profissionais e para empreendedoras. Nós devemos colocar esse assunto na mesa, e é dessa maneira que nós vamos alcançar o próximo nível”, observa Camile Pina.

Mais oficinas

Enquanto umas mulheres vendiam, outras compravam; algumas faziam batucada na oficina de iniciação à percussão com Bia Arcanjo. “A gente pensou essa oficina exatamente para as mulheres, mas quando a gente chegou aqui também tinham crianças, pessoas idosas; e o carimbó é pra todo mundo. A gente pensou nessa oficina pra falar um pouco sobre o ritmo do carimbó. As meninas daqui, elas saíram tocando; uma base, que era o nosso objetivo que elas conhecessem, tocassem maraca, tocassem curimbó, e eu acho que a gente atingiu o nosso objetivo hoje”, acredita a instrutora.

“Roupa não é descartável”

E se tem feira, tem brechó, o brechó da Marcha Mundial das Mulheres, uma das parceiras da 4ª Feira Feminista Solidária. Além de contribuir para o consumo consciente, o brechó ajuda nas ações realizadas pela Marcha como explica uma das militantes do movimento feminista, Jade Leão.

“O brechó da Marcha acontece dentro das feiras ou quando a gente faz uma atividade de arrecadação financeira mesmo pra subsidiar as atividades do movimento. A gente acredita que roupa não é descartável e que a gente tem essa capacidade de reciclar; e inclusive isso é uma forma de a gente conseguir alcançar outras mulheres, outras pessoas a ajudar, e a gente arrecadando esse dinheiro, a gente consegue também se auto-organizar, porque os movimentos precisam de subsídio financeiro”, esclarece.

Solidariedade e internacionalismo. Mudar o mundo e mudar a vida das mulheres em um só movimento. Igualdade para todas. Fortalecimento de espaços coletivos das mulheres: populares, autônomos e diversos. Ações com criatividade para enfrentar o capitalismo patriarcal, racista e lesbobifóbico. Construção de alianças com os movimentos sociais em luta para transformar o mundo. Vincular o trabalho permanente em âmbito local com os temas e processos globais. São estas as principais características que levaram à construção da Marcha Mundial das Mulheres como um movimento permanente no Brasil e em todo o mundo.

Confira aqui, em imagens, um compilado de tudo que rolou

 

Fonte: Bancários PA com sites de notícias e MMM

Comments are closed.