Seminário da CUT destaca que grandes projetos são ameaça à vida na Amazônia

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Durante a realização do 1° Seminário dos Povos das Águas e das Florestas da Margem Esquerda do Baixo Amazonas, que se iniciou nesta segunda-feira (23) e segue a quarta-feira (24), no município de Oriximiná, no Oeste do Pará, a tônica das participações durante a manhã foi destacar a importância de organizar os movimentos sociais que representam quilombolas, indígenas, ribeirinhos e sindicais da região contra a realização dos projetos de infraestrutura que o governo de Jair Bolsonaro (PSL) pretende para a região.

“Muitos não sabem o que prepararam para nós aqui na região. Por isso, precisamos empoderar a população. É uma disputa muito pesada na Amazônia. Uma sanha do capital nacional e internacional sobre as riquezas daqui. Muitos vendem a ideia que o projeto é maravilhoso. Não somos contra o desenvolvimento, mas temos de pensar: a energia vai pra quem? Os estragos da barragem vão atingir quem? Estamos com um sentimento de comprometimento da CUT que sozinhos a gente não da conta. É uma luta do poder econômico contra nós”, afirmou Carmen Foro, vice presidenta da CUT Brasil.

O Seminário é promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) em parceria com o Movimento dos Atingidos pela Barragem do Trombetas (MABT), entidade que reúne 25 organizações sociais da região, e o Solidary Center, órgão de cooperação sindical internacional ligada a Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais, conhecida por sua sigla em inglês, AFL-CIO.

Na Mesa de abertura, “Grandes Projetos – Impactos e Ameaças à Vida”, foi apresentado um histórico da resistência dos povos contra a instalação de grandes projetos na região e o contexto de perdas de direitos sociais, trabalhistas e humanos que acontecem a partir destes projetos.

José Cortes, padre que acompanhou todo o processo de resistência contra a instalação da hidrelétrica de Cachoeira Porteira na década de 1980, fez um resgate histórico da luta dos povos da região contra a construção da barragem e sentenciou: “A importância de nosso encontro aqui está na realização de alianças locais, nacionais e internacionais para impedir mais esse ataque. É bom lembrar de uma outra aliança importante que temos de fazer que é com as universidades, muito importantes nesse processo”.

A professora da Universidade Federal do Oeste do Pará, Raimunda Monteiro, lembrou que as obras de construção da hidrelétrica de Cachoeira Porteira, em Oriximiná, o prolongamento da BR-163, que vai de Santarém até a fronteira com o Suriname, e a construção de uma ponte sobre o rio Amazonas com 1,5km de extensão, na cidade de Óbidos, que hoje estão reunidos dentro do Projeto Barão do Rio Branco, coordenado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos, da Presidência da República, foram gestados durante a ditadura militar. E que hoje fazem parte do jogo geopolítico internacional, onde as riquezas da Amazônia estão em disputa não só pelos Estados Unidos, um grande incentivador da exploração local, mas também pela China, um novo jogador que surge nesta nova realidade.

“O que está acontecendo é uma lógica capitalista entre os países industrializados que trabalham as regiões que possuem as riquezas, apenas como estoque para retirar o que precisa de acordo com a realidade do momento. De uma forma perversa porque nós somos sempre impedidos de nos industrializar, somos condenados a sempre fornecer a matéria prima e desta forma, exportar nossas riquezas e empregos”, completou a pesquisadora.

Raimunda Monteiro disse ainda que a partir da chegada das hidrelétricas surgem em seguida novos empreendimentos na região. Em Tucuruí, com a construção da barragem, surgiu em seguida a exploração do silício. Em Belo Monte, a mineração de ouro, através da empresa Belo Sun, que hoje está com o projeto parado a partir da pressão local.

“A gente vê de uma forma muito rápida e violenta de transformação de nossos rios”, afirmou a professora. Segundo ela, projetos que antes levavam dez anos pra serem finalizados, hoje acontecem em até quatro anos. “Vivemos hoje com este governo uma nova onda de ataque à Amazônia e ao que nós temos hoje preservado”.

“Nós temos de construir um projeto alternativo ao que está previsto. O projeto tem de ser um grande escudo de sustentabilidade que combata a pobreza. Com nossos conhecimentos tradicionais e o nosso conhecimento científico nas Universidades já mostramos que podemos gerar riqueza. Podemos ser o maior produtor do mundo de alimentos saudáveis, sem agrotóxicos, sem contaminar o rio. Podemos produzir para o mundo. Podemos dizer: formem uma rede de compra que nós vamos formar nossa rede de produção.”

Jandyra Uehara, secretária Nacional de Direitos Humanos, da CUT Brasil, destacou a importância de se falar sobre o tema ao se discutir os grandes projetos na região amazônica e a questão da concentração de renda no país e a perda de direitos neste contexto.

Jandyra também fez um apanhado de nossa realidade política recente com o golpe que retirou da presidência uma candidata eleita pelo povo e mantém ainda hoje o ex-presidente Lula preso, sem que haja contra ele uma prova de crime que possa ter cometido. As recentes reformas que provocaram perdas de direitos dos trabalhadores, como a Trabalhista e a da Previdência e que só fizeram aumentar a concentração de riquezas, ampliando a desigualdade social no país.

Situação que foi constada por recente pesquisa do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA). A desigualdade de renda no Brasil aumentou no segundo trimestre de 2019. Segundo o estudo “Escalada da Desigualdade”, de 2014 a 2019, a renda do trabalho da metade mais pobre da população caiu 17,1%. Já a renda do 1% mais rico subiu 10,11%.

“Temos que refletir, De que adianta a produção de riqueza se a concentração de riqueza é ainda maior? Importante resgatar essa história de luta que não começou ontem. E como se articula essas experiências do passado e se atualiza agora com esta nova realidade. Resgatar essa experiência é fundamental. Importante não só pra região da margem esquerda do Rio Amazonas, mas é fundamental para todo o país”.

 

Fonte: CUT Nacional

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