Spread bancário começa a ser alvo de reações nos países desenvolvidos

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Enquanto o mercado aposta que o Banco Central Europeu (BCE) cortará hoje sua taxa de juros, agora também o spread bancário começa a ser alvo de reações nos países desenvolvidos em meio à deterioração econômica.

A diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa repassada aos clientes nos países industrializados está próxima de 300 pontos-básicos (ou 3 pontos percentuais) na média, o dobro do nível do começo da crise financeira global em 2008, segundo levantamento do Instituto Internacional de Finanças (IIF), que representa as maiores instituições financeiras do mundo.

O IIF atribuiu essa alta a três fatores. Primeiro, maior concentração no setor bancário desde a eclosão da crise. Segundo, o custo de funding aumentou, causado pela contínua tensão nos mercados. E terceiro, os bancos têm sido pressionados a aumentar os ganhos para poderem cumprir com novos requerimentos de capital próprio – para o IIF, a regulação poderia, de fato, explicar 75% da alta dos spreads nos últimos dois anos nos países desenvolvidos.

Nesse cenário, apesar da política monetária ultra-expansionista, com juros próximas de zero ou mesmo negativos, as duras condições de crédito continuam a frear o retorno para um nível mais normal de expansão econômica.

Agora, iniciativas para reduzir o spread bancário e estimular o crédito começam a ser promovidas.

No Reino Unido, o lançamento do programa “funding for lending” visa fornecer funding de longo prazo para os bancos a taxas abaixo do mercado, condicionando a que eles expandam os financiamentos para a economia real.

Nos EUA, o Federal Reserve (Fed, o banco central do país) também indicou que uma iniciativa similar pode ser considerada no futuro, segundo o IIF.

O desenvolvimento do spread bancário nos emergentes tem sido “dramaticamente” diferente. Estima que em Brasil, China e Índia a tendência foi de baixa até o fim de 2010. Desde então, o spread voltou a crescer refletindo a alta do risco, algo que a entidade acredita que pode ser revertido proximamente.

Na China, a expectativa é que a liberalização da taxa de juros provavelmente causará redução na margem entre empréstimo e taxa de depósito. Na Índia, ações do Banco Central estimulam a competição entre os bancos e reduzem os spreads tanto nos bancos públicos como nos privados.

No Brasil, a entidade nota que, apesar do corte de 4 pontos pontos-básicos nos juros desde agosto de 2011, os spreads bancários declinaram só marginalmente para 27% em abril, comparados a 29% de outubro passado.

“Os altos spreads no Brasil, comparados a níveis internacionais, refletem fortes requerimentos de compulsórios e taxação elevada, que são quase totalmente transferidos para a taxa de empréstimo paga pelo cliente”, diz o IIF em relatório.

Globalmente, as políticas monetárias estão sendo flexibilizadas para enfrentar a desaceleração econômica. Mas as condições de financiamento são bem diferentes dentro da zona do euro, por exemplo. Na Alemanha, os empréstimos para as empresas se recuperaram do colapso de 2009. Já na Espanha, bateram nível recorde de baixa.

Boa parte dos analistas acredita que o BCE cortará hoje a taxa de juros de 1% para 0,75%, ou mesmo 0,50%, nível recorde de baixa. Já o Rabobank é mais cauteloso, estimando que pode não haver alterações na taxa hoje. Em todo caso, se houver corte, o banco holandês nota que o impacto será muito rápido no sentimento do mercado sobre a situação econômica da zona do euro.


Fonte: Valor Econômico

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