Ver-o-Peso celebra 385 anos de cultura paraense

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385 anos de um dos mais belos pontos turísticos do Brasil

O cartão-postal mais famoso de Belém completa hoje 385 anos. O Complexo do Ver-o-Peso, considerado a maior feira livre da América Latina, faz aniversário sob queixas e elogios da população e dos feirantes. Parte do cotidiano dos belenenses e de expressiva importância econômica para o Estado, a feira representa uma segunda casa e principal fonte de renda para milhares de pessoas. Uma programação da Prefeitura de Belém celebra hoje a data especial.

A programação do aniversário teve início com a qualificação de lideranças do complexo, no período de 20 a 23 de março, com palestras sobre marketing pessoal e comercial, manipulação de alimentos e educação ambiental com ênfase em resíduos sólidos. No último domingo, 25, a terceira edição dos Jogos do Ver-o-Peso testou as habilidades dos feirantes em modalidades como despolpamento do cupuaçu, descascamento de castanha-do-pará e limpeza de peixe.

A partir das 8h da manhã de hoje, a programação prossegue com uma ação de cidadania que beneficiará os trabalhadores do local, com emissão de Carteira Profissional e de Identidade, de Carteira de Saúde e de Manipulação de Alimentos, além de inscrições para cursos oferecidos através do Fundo Ver-o-Sol, da Prefeitura de Belém.

Durante a semana de programação, o Ver-o-Peso recebe ainda uma limpeza geral, desratização, lavagem e recuperação das lonas de cobertura, colocação de lixeiras novas e reparos na iluminação. Uma programação especial, organizada pela Prefeitura Municipal de Belém, com fogos, culto ecumênico, banho de cheiro e parabéns com bolo de aniversário encerrará hoje as festividades.

O pequeno Vitor Brasil, de apenas 9 anos, já vê a feira como parte do seu dia a dia. Ele mora na Ilha das Onças e colhe açaí desde os 5 anos. ‘É facinho de subir’, justifica o garoto, tímido. Mas a habilidade de Victor com a peconha, um círculo de tecido em que os chamados ‘peconheiros’ encaixam os pés para auxiliar na subida, foi comentada e admirada por dezenas de convidados durante a realização dos Jogos do Ver-o-Peso, parte das comemorações pelo aniversário do mercado. Mesmo assim, o garoto faz questão de afirmar que frequenta a escola.

A mãe de Victor, Patrícia Coelho, de 27 anos, também trabalha com a colheita do açaí, única fonte de renda da família. ‘Ele aprendeu desde pequeno a subir nas palmeiras, mas as crianças da ilha normalmente fazem isso. A colheita e venda do açaí é sempre familiar, todos ajudam’, explicou. Três vezes por semana, eles fazem a travessia na Baía do Guajará, em direção do mercado, para comercializar o fruto.

Sujeira ainda é um dos principais problemas – Mas os feirantes não têm apenas elogios para a feira. A sujeira ainda é uma das principais reclamações de quem trabalha no local. ‘Eu até reconheço que a prefeitura têm se esforçado, mas falta também todos fazerem sua parte. Ainda é muito comum encontrar lixo e insetos na área das barracas, infelizmente’, lamentou a feirante Benedita da Costa, de 52 anos, há mais de 5 no mercado.

O feirante Marcelo Martins, de 34 anos, acredita que a prefeitura deveria disponibilizar mais banheiros tanto para os feirantes quanto para a população. ‘Aqui o pessoal faz de banheiro qualquer canto, e isso não é benéfico, já que trabalhamos com alimentos. E se tivéssemos mais organização em relação a isso, acredito que ainda mais pessoas escolheriam fazer compras no Ver-o-Peso’, observou.

A população que frequenta a feira em busca de algum dos seus produtos também coloca pontos que poderiam melhorar. ‘Esse pessoal espalhado pela calçada cria muito lixo e confusão, é difícil até caminhar e escolher as frutas, tem barracas improvisadas para todos os lados’, disse a dona de casa Mercedes Oliveira, de 62 anos.

Feirantes têm ligação especial e fazem da feira sua segunda casa – O feirante Alessandro Farias, de 23 anos, tem o mesmo sentimento de amparo em relação ao mercado. ‘Cheguei de Igarapé-Mirim há três meses, pois não tinha nenhuma perspectiva de emprego lá. Vim com a cara e a coragem tentar a vida aqui’, disse. Alessandro conta que sempre teve a imagem do Ver-o-Peso na cabeça. ‘Todos conhecem o mercado e as pessoas sempre falam que é um bom local pra quem não tem medo de trabalho’, completou.

Alessandro iniciou uma venda de castanhas-do-pará e o negócio emplacou. ‘Estou ganhando meu dinheiro e pra mim isso é muito importante. Só penso em voltar para Igarapé-Miri a passeio, pois minha casa agora é o Ver-o-Peso’, observou o jovem, que acabou tirando segundo lugar no concurso de pescaria, durante sua primeira participação nos jogos do mercado.

Encontrar feirantes que se sentem em casa na feira não é difícil. A vendedora de polpas de frutas Sandra Lira, de 53 anos, define desta forma sua relação com o mercado. ‘Estou aqui há 45 anos e é impossível não ver o Ver-o-Peso como uma extensão da própria casa. Passo meus dias quase inteiros aqui, conheço pessoas e gosto muito do lugar, que é lindo’, declarou.

Negócios de família são a base da feira, e em qualquer dos setores do mercado é possível encontrar membros de uma mesma família executando suas funções em conjunto. Este é o caso dos irmãos Michel Martins, de 30 anos, Marciano Martins, de 35 anos, e Josiane Costa, de 33 anos. Eles trabalham com a produção e venda de tucupi e, para isso, descascam juntos, diariamente, dezenas de sacas de mandioca. ‘Quando todo mundo se ajuda, o trabalho fica mais fácil, além disso, a gente conversa e brinca enquanto trabalha’, disse Josyane.

Entreposto comercial tem importância econômica grande ao Pará – Localizado em Belém do Pará, às margens da baía do Guajará, o Ver-o-Peso é o maior entreposto do Estado e a maior feira livre da América Latina. Com características únicas, o Ver-o-Peso faz parte de um complexo paisagístico e urbanístico tombado em 1977 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A importância econômica do Ver-o-Peso é expressiva para o Estado. Segundo dados do Dieese/PA, 80 a 100 toneladas de pescado são comercializadas diariamente na área do mercado, seja para o consumidor final ou para supermercados e até exportados para outros estados. Na Semana Santa, este movimento chega a 160 toneladas ao dia. São mais de 40 tipos de pescado, uma variedade inédita em relação a outros lugares do país.

Nos quase 30 mil metros quadrados de feira, são comercializados também frutas regionais, legumes, verduras e o famoso açaí. A farinha de mandioca se destaca na feira, com quase 30 vendedores comercializando, por dia, entre quatro e cinco mil quilos do alimento, em uma média mensal de 140 mil quilos. No total, 12 atividades são exercidas no local, espalhadas pelos Mercados de Carne e Peixe, Feira da Alimentação e Feira do Açaí. Nesta última, estima-se que 30 toneladas do fruto sejam comercializados por ano, movimentando uma receita gigantesca.

História – Sua origem está diretamente ligada à história de Belém. Inaugurado em 27 de março de 1627 com objetivo de funcionar como entreposto fiscal, o nome do mercado faz referência às chamadas Casas do Haver-o-Peso, projetadas no Brasil, para conferir o peso exato das mercadorias e cobrar os respectivos impostos para a coroa portuguesa.

Fonte: O Liberal

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