Pelo oitavo ano consecutivo, trabalhadores e trabalhadoras de São Paulo celebraram o Dia da Luta Operária, realizado em 9 de julho, em memória às lideranças que morreram na primeira greve geral do país, feita em 1917. O ato político ocorreu no Casarão do Sindicato dos Padeiros de São Paulo, na Bela Vista, no centro.
A CUT é uma das organizadoras da atividade, ao lado das demais centrais sindicais e do mandato do deputado estadual Antonio Donato Madormo (PT), autor da lei municipal nº 16.634/17, que incluiu o Dia da Luta Operária no calendário oficial da cidade de São Paulo.
Neste ano, a celebração deu destaque aos 100 anos da revolta paulista de 1924 e os 60 anos do golpe militar de 1964, debatendo os impactos políticos e econômicos que os dois eventos causaram na vida da classe trabalhadora, além de cobrar por justiça e reparação. O historiador José Luiz Del Roio e o coordenador do Setorial de Direitos Humanos do PT, Adriano Diogo, resgataram histórias de trabalhadores que sofreram perseguições ou que foram entregues a forças policiais para tortura, tendo muitos deles desaparecidos.
Nesta semana, inclusive, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou a recriação da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, responsável por mobilizar esforços para localizar os restos mortais das vítimas do período da ditadura militar e emitir pareceres sobre indenizações a familiares. A Comissão havia sido extinta no governo Bolsonaro.
Sobre a greve geral de 1917, os participantes rememoraram a trajetória de luta do sapateiro sindicalista José Martinez, que foi baleado e morto pela polícia por liderar o movimento paredista em várias fábricas no bairro do Brás que reivindicava melhores condições de trabalho, como redução da jornada diária e o fim do trabalho de crianças. A morte de Martinez revoltou outros trabalhadores e impulsionou a paralisação nacional.
Durante o evento de terça, a mestranda e educadora popular Eliane Furoni apresentou pesquisa com evidências de que muitos outros trabalhadores também perderam a vida por ocasião da greve – à época, somente três mortes foram divulgadas amplamente pelos jornais. Nesse sentido, a pesquisa de Furoni, que atua na Associação Baobá de Educação e Cultura Marginal, ajudará na contextualização, de forma mais fidedigna, dos fatos, além de evidenciar a memória de todos que lutaram.
Homenagens
Considerado um mártir da paralisação de 1917, José Martinez dá nome ao troféu entregue desde 2017 no ato da Luta Operária. Desde então, recebem a estatueta personalidades atuantes na defesa da classe trabalhadora e no fortalecimento do movimento sindical brasileiro – indicados por um coletivo formado pelas centrais sindicais, o mandato de Donato e movimentos como o Centro de Memória Sindical, Instituto Astrogildo Pereira, IIEP e Oboré.
Neste 2024, o troféu foi entregue a militantes da saúde dos trabalhadores: Maria Maeno, médica especializada em saúde coletiva e saúde do trabalhador e pesquisadora da Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho), e Carlos Aparício Clemente, dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e defensor de temas ligados à saúde e segurança do trabalhador e da inclusão social.
Também foi homenageada com placa de agradecimento Isabel Peres, fundadora e militante da Ação dos Cristãos para Abolição da Tortura. Já as homenagens póstumas foram dirigidas a Clodesmidt Riani, ex-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI) que participou da greve geral de 1953 e da luta pelo abono salarial, em 1962, Valdir Vicente de Barros, preso e torturado pela ditadura militar, e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói, e Everino Almeida Filho, fundador e ex-presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante e que participou da greve histórica dos marítimos de 1987. Os familiares dos sindicalistas compareceram no evento para acompanhar as manifestações.
“A CUT parabeniza todos os familiares por terem dado essa contribuição, por terem gestado pessoas aguerridas, batalhadoras, que, como nós, sonha com um mundo melhor, transformado por justiça, liberdade e vida longa e digna a todos os trabalhadores e trabalhadoras”, afirmou Daniel Calazans, secretário-geral da CUT-SP, durante a entrega das homenagens.
Confira reportagem da TVT:
Fonte: CUT Brasil