Funcef anuncia política de investimentos e decide continuar focando em renda fixa

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O advogado Alexandre Mota (30) sempre teve vontade de investir o dinheiro que sobrava todo mês na sua conta, mas não sabia exatamente como deveria proceder, qual o melhor investimento para o seu perfil. O que Alexandre sabia era que precisava de um rendimento acima do oferecido pelos bancos para realizar seu sonho de se aposentar aos 60 anos.

Quando procurou um consultor financeiro, o advogado descobriu que existem vários tipos de investimentos; uns mais arriscados, outros menos. “O consultor me mostrou que para conseguir chegar no meu objetivo era preciso diversificar meus investimentos, inclusive aplicando uma pequena parte numa carteira mais arriscada”, explica.

O caso de Alexandre pode muito bem ser comparado aos fundos de pensão. Para pagar os benefícios dos participantes, os fundos precisam escolher os tipos de investimentos que farão. A Funcef, por exemplo, optou por investir quase que exclusivamente em renda fixa. (Ver tabela)

Em março, a fundação anunciou a nova política de investimentos para o quinquênio 2019-2023 e manteve sua decisão em focar os investimentos de todos os planos de benefício na renda fixa.

“Quando pensamos em investimentos temos duas formas de aumentar o retorno (rentabilidade): a primeira é abrir mão da liquidez e a segunda é assumir uma maior volatilidade (risco).

O mercado financeiro não amadureceu no Brasil, isso porque tínhamos uma taxa de juros próxima a 14% ao ano, sendo assim o investidor não precisava de esforço para conseguir um retorno próximo a 1% ao mês. Mas o cenário mudou, hoje a SELIC está 6,5% a.a., o que nos obriga a assumir um pouco mais de risco para obter um retorno melhor”, afirma Thiago Santos consultor financeiro da XP Investimentos.

A diretora de Saúde e Previdência da Fenae, Fabiana Matheus, lembra que a Funcef pode, sim, decidir focar seus investimentos em renda fixa, mas precisa ser transparente e deixar claro para os participantes o que isso pode representar no futuro. “A impressão que dá é que a Funcef opta pelo caminho mais fácil, mas não avisa para o participante que não diversificar os investimentos significa, necessariamente, não alcançar os objetivos de longo prazo, que é o pagamento dos benefícios”, alerta. O resultado dessa equação levará a uma aposentadoria mais modesta no futuro.

Como se comportaram os investimentos nos últimos três anos

O Observatório do Participante fez uma análise da política de investimentos da Funcef nos últimos três anos, tendo como base os dados disponíveis do acumulado 2016, 2017 e 2018 até novembro (ver tabela). Vendo o estudo, fica mais claro o resultado. A renda variável tem superado a renda fixa em todos os planos.

Segundo o Observatório, o retorno, além de positivo em relação ao valor investido, tem de ser superior à evolução do passivo (compromissos dos planos). Nesse caso, se a Funcef tivesse optado por aportar mais em renda variável, a rentabilidade dos planos da Funcef seria superior à alcançada.

Funcef prevê maior rentabilidade na renda variável

Na política de investimentos, a Funcef apresenta o retorno em renda fixa e renda variável, esperado para o período 2019-2023. Em todos os planos, a fundação prevê maior retorno na renda variável. A depender do plano, a renda variável proporcionará, na estimativa Funcef, acumulado de 45% ou mais e a renda fixa menos de 35%. De todo modo, a política define mais recursos para renda fixa.

Diversificação traria resultados melhores no novo plano

Uma simulação feita pelo Observatório do Participante mostra que cada 4,5% de recursos investidos que a Funcef realocasse de renda fixa para renda variável representaria em média, um acréscimo de 1% no resultado do Novo Plano. Em média, cada 1 p.p de aumento no resultado do plano pode gerar cerca de 10% a mais no benefício futuro dos participantes do Novo Plano.

Essa análise é importante para que os participantes entendam que não é necessário fazer investimentos muito arriscados para se conseguir uma rentabilidade maior. Basta saber mesclar os tipos de investimentos e seguir a legislação vigente.

O Conselho Monetário Nacional decidiu em maio de 2018 rever os limites de alocação de recursos segundo ativos de investimento e respectivos segmentos. Os dois principais segmentos são de renda fixa e de renda variável. Assim, é possível destinar do total dos recursos de cada plano, 100% para títulos públicos federais, na renda fixa. Para renda variável – desde que o investimento ocorra em companhias em segmento especial da bolsa de valores, como Novo Mercado – permite alocar até 70% dos recursos.

Essa informação, por si, já deixa claro que a decisão de investimentos da Funcef basicamente em renda fixa é, no mínimo, tímida demais. Mesmo se considerarmos que o investimento em renda fixa é um pouco menos arriscado, ainda assim, se a Funcef fosse coerente com a análise de cenário, deveria ter optado por aportar um pouco mais na renda variável, mantendo o investimento seguro e garantindo mais rentabilidade aos participantes.

Como lembra o Observatório do Participante, “o mercado de renda variável é tido pelos investidores como volátil, mas historicamente se revela de retorno positivo”.

 

Fonte: Fenae

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