Governo diz que PIB pode crescer até 2% este ano, mas juros altos atrapalham retomada econômica

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A economia brasileira cresceu acima das expectativas no primeiro trimestre do novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 1,9% frente ao último trimestre de 2022, superando em mais de 0,5 ponto percentual a média das estimativas calculadas por analistas do mercado financeiro.

O resultado trimestral foi o segundo melhor em 20 anos, segundo o economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Mauricio Weiss. Ele lembrou que só no primeiro trimestre de 2010 a economia brasileira cresceu tanto como agora.

Naquela época, a economia nacional começava a se recuperar dos efeitos da crise econômica global iniciada com a quebra de bancos dos EUA em 2008.

Entre os países que já divulgaram o crescimento da economia no primeiro trimestre, o Brasil teve o quarto melhor resultado, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Os novos dados do PIB foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (1º). De acordo com o órgão, o resultado deste trimestre foi impulsionado pelo crescimento do setor agropecuário nacional, que aumentou 21,6% sua produção do final de 2022 para o início de 2023 – maior crescimento trimestral desde 1996.

O crescimento do agronegócio está relacionado com a grande safra de grãos colhida no país e os preços altos desses produtos no mercado internacional, principalmente a soja.

Nos últimos anos, o setor havia crescido pouco, impactado por estiagens.

Revisão para cima

O crescimento econômico foi comemorado pelo governo federal. O próprio presidente Lula afirmou que o país “está melhorando”.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse que técnicos do governo já esperavam um resultado acima das expectativas dos bancos. Segundo ele, é possível que a economia cresça até 2% em 2023.

“Estamos há algum tempo dizendo que o crescimento econômico chegará aos 2%”, disse ele. “O resultado deste trimestre está em linha com o que vem dizendo a Secretaria de Política Econômica.”

Analistas de bancos estimam que a economia brasileira cresça 1,26%. Essa previsão foi divulgada em relatório elaborado pelo Banco Central na segunda-feira (29).

André Roncaglia, economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), também acredita num crescimento acima do esperado pelo mercado financeiro.

“Se a economia mantiver essa dinâmica, ela pode crescer 1,5% este ano. Quem sabe, com algum relaxamento monetário, as expectativas levem à economia para 2% neste ano.”

Olho no futuro

O relaxamento monetário citado por Roncaglia seria uma queda na taxa básica de juros da economia nacional, hoje em 13,75% ao ano. O governo vem cobrando o Banco Central sobre essa redução desde o início do ano – algo que ainda não ocorreu.

O ministro Haddad repetiu nesta quinta que vê espaço para redução. Para ele, isso também contribuiria para um crescimento maior.

“Temos aí uma oportunidade muito boa, porque inflação está controlada, os juros futuros caindo sensivelmente, o que abre uma janela de oportunidade importante para política monetária”, afirmou ele. “Tudo isso vai se combinando virtuosamente para que nós possamos entrar num ciclo de desenvolvimento sustentável.”

“Se estamos tendo esses números positivos por causa de uma safra de soja excepcional, imagina se tivéssemos uma taxa de juros razoável, na casa dos 9% ou 10% ao ano”, acrescentou Pedro Faria, que economista e pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Onde melhorar

Faria também comemorou o resultado do primeiro trimestre. Só alertou que a agropecuária, que puxou o crescimento no período, representa só 8% da economia nacional e gera poucos empregos, e de baixa qualidade.

Para ele, se só o agro crescer, a população como um todo não será beneficiada. É preciso estimular o crescimento de outros setores, principalmente da indústria, por um desenvolvimento mais sustentável.

“As partes mais substanciais da economia e que geram bem estar ainda estão ruins”, resumiu, lembrando que a indústria encolheu 0,1% no primeiro trimestre.

Faria espera que ações já tomadas pelo presidente Lula estimulem o consumo das famílias e acabem levando crescimento a outros setores. “As políticas de retomada do Bolsa Família e de aumento do salário ainda não surtiram efeito. Mas vão ter.”

 

Fonte: Brasil de Fato

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