Próspero Ano Novo. Como? O segredo é a luta!

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Escrito por: Vagner Freitas e Roni Barbosa*

2017, ao que indicam vários e diferentes sinais, será um ano difícil. As bases para a retração econômica acentuada já foram lançadas e o dinheiro no bolso do trabalhador e da trabalhadora deve diminuir e, em alguns casos, desaparecer.

Não bastassem a deterioração da economia e a falta de credibilidade crescente dos três poderes e seus órgãos auxiliares – tribunais, serviços de segurança, repartições públicas, hospitais, escolas, câmaras e assembléias legislativas – o povo se vê às voltas com uma indústria de desinformação e distribuição de mentiras e confusão extremamente sofisticada.

Diante desse quadro, todos parecem culpados. A desesperança e a revolta sem rumo tendem a crescer.

O que nós sindicalistas faremos, como parte importante dos movimentos sociais, para conter a deterioração das condições de vida e para, uma vez mais, darmos início à mudança?

Desemprego é culpa do Temer e seus asseclas

Entendemos que nenhum trabalho de refortalecimento do poder popular e reinício de um processo de distribuição de renda poderá acontecer sem que respondamos ao falso senso-comum que se espalha rapidamente em todos os espaços. A maioria, nos ônibus, nas filas, nos botequins, nas rodas do high society, repete: “As políticas públicas de inclusão social quebraram o Brasil”.

Sugerimos, em primeiro lugar, que respondamos a essa questão de maneira clara, honesta, didática, ampla.

As forças de direita e o empresariado antinacionalista têm se aproveitado desse vácuo informativo para justificar todas as medidas de arrocho e opressão atualmente tomadas contra a classe trabalhadora.

Uma pista sobre as verdadeiras – ou maiores – responsabilidades pela crise foi dada nesta última semana de dezembro, quando divulgados os mais recentes números do desemprego oficial no Brasil. 12% da população economicamente ativa estão sem ocupação.

Ora, gostemos ou não, o fato é que o governo Dilma, no início de seu segundo mandato, apresentava um dos melhores índices de emprego do planeta. Menos de 5% das pessoas estavam desempregadas.

Logo depois, teve início uma bem orquestrada operação para impedi-la de governar, com vistas a derrubá-la e, quem sabe, livrar grandes tubarões das garras da Lava Jato.

Foi a partir daí que tudo desandou. Ontem mesmo, quinta-feira, a Rede Globo exibiu reportagem em que empreendedores diziam, claramente, que suas empresas começaram a acumular prejuízos a partir de abril, não por acaso o início do fim do governo Dilma. Ao contrário do que profetizaram os defensores do golpe, a saída dela só piorou as coisas.

Não basta que agora todos concordem que o ato de roubar permeia o sistema político como um todo. Devemos continuar dialogando com a população sobre as reais diferenças entre o que procuramos fazer em 13 anos de governo democrático-popular e os outros períodos da vida brasileira.

Sempre nos acusaram de fanáticos, de truculentos, autoritários. Hoje, temos à frente da nação um grupo que está impondo novas regras à vida brasileira sem negociação, sem trabalho de convencimento, utilizando-se simplesmente da ditadura da minoria endinheirada.

Não devemos nos envergonhar de nos ter portado de maneira democrática todos esses anos. Nenhum dos governos democráticos e populares, não importa os erros que tenham cometido, tentaram tratar o povo como idiota, contando-lhe mentiras deslavadas com o intento de iludi-lo. Nós, ao contrário, tentamos fortalecer a participação social, uma das raízes de nossa existência.

Talvez nosso período mais crucial

Provavelmente estejamos diante do mais importante e crucial momento de nossas histórias pós-redemocratização.

Se não revertermos a tendência de destruição que querem nos impor, o que será derrotada será a ideia de que solidariedade, cooperação, fraternidade e distribuição de renda são valores ultrapassados , cuja “história” teria provado serem “impossíveis” ou “sonhos de idealistas tolos”.

Ora, sabemos que a destruição de certos valores impõe impactos às futuras gerações que podem durar décadas. Senão, lembremos: em 1971, os Estados Unidos, unilateralmente, derrubaram o já então falacioso “padrão dólar-ouro”, passaram a imprimir dólar como quem frita pastéis, elevaram seus juros internos à estratosfera e com isso quebraram a economia dos países periféricos. Naquele momento começava-se a espalhar a semente do neoliberalismo e a pregação da morte do Estado de Bem-Estar Social, que ganharia anos depois seus maiores arautos nas figuras de Ronald Reagan e Margareth Thatcher. Lá se vão mais de 40 anos e os efeitos deletérios desse massacre continuam e não parecem arrefecer.

Portanto, nossa luta hoje talvez seja mais decisiva do que foi nos anos 1980 e 1990. Naqueles momentos, quando derrotados, mantínhamos a esperança, pois nosso projeto continuava sendo construído. Hoje, provavelmente, o julgamento nos será menos leve.

Ações práticas

Temos quadros dirigentes sindicais e assessores extremamente qualificados. Muitos de nós mantêm a fé. Temos, por isso, a matéria-prima da luta, do bom combate.

Vamos nos manter em campo. Para defender a manutenção dos direitos trabalhistas e sociais, para lutar pela democracia, para defender nossas principais lideranças do arbítrio de uma justiça seletiva e partidária e para resgatar nosso povo da embriaguez midiática, temos o dever, embora saibamos não sermos salvadores da pátria, de executar ações práticas. Seguem algumas sugestões:

– Formar comitês ou grupos de debates e de deliberação onde ainda não existirem. Isso inclui, evidentemente, nossos locais de trabalho, mas não só. Devemos retomar o trabalho de base nos bairros, nas escolas, nas igrejas, nos núcleos familiares. Vamos debater política e economia;

– Vamos estudar. Lideranças precisam estar bem informadas, e isso inclui leitura, diálogo aberto com quem sabe mais do que nós a respeito de certos temas e a conversa curiosa com quem pensa (desde que pense, lógico) diferente de nós;

– Vamos dar exemplo. Dirigentes sindicais devem viver o que pregam;

– Vamos produzir materiais, impressos ou eletrônicos, com linguagem simples e direta, para fazer a contra-informação;

– Vamos permanecer acreditando na pressão das ruas. Nem tudo está perdido como parece. Embora projetos como a reforma trabalhista, a PEC 55 e a reforma da Previdência sejam dadas como favas contadas, é possível revertê-las. Nós construímos a parte progressista e igualitária da Constituição de 1988 mesmo sendo minoria naquele parlamento!;

– Vamos investir na construção da greve geral para pressionar os golpistas. Para tanto, cada um dos passos anteriores deve ser considerado;

– Diretas já, por que não? Sempre na perspectiva – que deve ser apresentado ao povo – de uma posterior assembléia constituinte para mudar profundamente o sistema político e judiciário do Brasil.

 

Boa luta. Até a vitória. Saudações cutistas e Feliz 2017.

 

*Vagner Freitas é presidente da CUT. Roni Barbosa, secretário nacional de Comunicação

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