Medidas do Banco Central representam riscos para os trabalhadores

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Carlos Cordeiro

As medidas de contenção do crédito divulgadas no dia 3 de dezembro pelo Banco Central são muito preocupantes para a sociedade, em especial para os trabalhadores.

Segundo a imprensa e o mercado financeiro, as medidas teriam como objetivo conter a inflação por intermédio da restrição ao consumo.

Isso seria um grande contra-senso, pois o crescimento econômico brasileiro dos últimos anos, inclusive a rápida saída da crise, se deve ao aumento do consumo via elevação da renda das famílias e crédito mais acessível a toda a população.

O que as medidas anunciadas pelo Bacen podem provocar, em vez da intenção anunciada, são o aumento do desemprego, a ampliação do já absurdo spread bancário e dos lucros do sistema financeiro. Afinal, analistas econômicos, e o próprio ministro Guido Mantega, afirmam que com as medidas anunciadas os juros subirão ainda mais.

Segundo relatório do ICV (Índice de Custo de Vida) do Dieese divulgado dia 5 de dezembro, a inflação dos últimos meses está relacionada à elevação dos preços de poucos produtos agrícolas, que tiveram problemas de oferta em razão de fatores climáticos e sazonais. E não é provocada por uma explosão do consumo acima da capacidade da economia, uma vez que os produtos consumidos, em grande parte via crédito, não apresentam elevação significativa. Alguns deles até tiveram deflação nos últimos 12 meses.

Com o aumento dos juros para os trabalhadores, os salários continuarão a transferir cada vez mais recursos para os bancos. Mesmo assim, tem jogadores do famoso mercado apostando em elevação da taxa Selic, o que aumentaria o lucro dos bancos, pois vão ampliar a compra de títulos públicos, como também o ganho dos rentistas, que canalizarão seus recursos para as aplicações financeiras, ao invés de aplicarem em atividades produtivas.

A consequência para nós, brasileiros, será a elevação da dívida pública, com o aumento dos gastos públicos e consequentemente a majoração do superávit primário para pagamento dos juros. Dessa forma, será reduzido o investimento em políticas públicas como saúde, educação e programas sociais como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida, que atendem as camadas mais pobres da população.

Já passou da hora de o Banco Central melhorar sua análise da inflação para identificar as causas da inflação, calibrar melhor sua atuação e também olhar para outras variáveis macroeconômicas. Além da inflação e dos juros, ele precisa levar em consideração também o emprego e a distribuição de renda.

O Banco Central passa longe de combater o principal problema do crédito no Brasil: o spread. Nenhuma medida anunciada irá afetar o maior programa de transferência de renda do Brasil, o spread, que repassa recursos da sociedade para os bancos, agravando a desigualdade e colocando o Brasil no vergonhoso posto de décima pior distribuição de renda do mundo.

É urgente a discussão sobre o papel do Banco Central e a ampliação do Conselho Monetário Nacional, com a participação de novos atores da sociedade civil, como trabalhadores e empresários, colocando outras metas como desenvolvimento econômico e emprego e não apenas o combate a inflação via taxa de juros.

Esse seria um passo importante para trocar a expressão de mercado pela expressão sociedade, redefinindo as prioridades de atuação e colocando de fato as pessoas em primeiro lugar.

Carlos Cordeiro,
Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT)

 

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