Para acionistas minoritários, oferta de ações do Santander impõe perdas

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Dois dos maiores acionistas da filial brasileira do Santander afirmam que a oferta da matriz espanhola para recomprar uma participação de 25% os pressiona a aceitar uma perda, já que eles acreditam que as ações, que vêm caindo, caminham para uma recuperação.

A oferta inesperada do Santander, segundo esses minoritários, é um alerta para potenciais investidores que queiram participar de aberturas de capital de outras filiais do banco, incluindo uma planejada para a subsidiária britânica. A oferta feita aos acionistas da subsidiária no Brasil é contrária à estratégia do banco espanhol de abrir o capital das suas unidades e mantê-las assim, segundo eles.

Executivos da Tweedy, Browne Co. e da Brandes Investment Partners disseram que ainda não decidiram vão vender suas ações do Santander Brasil, precificadas a R$ 23,50 cada quando o banco abriu o capital em 2009. As firmas de investimento americanas são a terceira e a quarta maiores detentoras de ações da unidade, conforme os dados mais recentes da Morningstar. Juntas, possuem 104 milhões de ações, 2,74% do total.

Embora os executivos do Santander afirmem que a recompra irá impulsionar ligeiramente os ganhos totais do banco, os investidores enfrentam um dilema: vender agora ao Santander pelo preço oferecido de R$ 15,31 por ação ou correr o risco de manter uma proporção muito pequena das ações negociadas em bolsa se os outros acionistas aceitarem a oferta de recompra. Quanto menor a quantidade de ações disponíveis para negociação no mercado, menos líquidas – ou mais difíceis de vender – elas se tornam.

“Deixaram para nós decidirmos se queremos jogar roleta russa”, disse William H. Browne, diretor-gerente da Tweedy, Browne, de Connecticut.

“Qualquer investidor interessado em fazer um investimento em uma futura oferta de ações de uma subsidiária do Santander deve olhar muito atentamente ao histórico do controlador em relação ao seu tratamento aos acionistas minoritários”, acrescentou. “Acho que existe uma chance razoável, se for do interesse financeiro deles, de passarem por cima dos seus interesses, apesar de poderem afirmar o contrário.”

O diretor financeiro do Santander, José Antonio Álvarez, disse ao “The Wall Street Journal” que a oferta é “um prêmio significativo que os minoritários podem aceitar ou não, enquanto ao mesmo tempo é lucrativa para os acionistas do Santander”.

A oferta do Santander precifica as ações da unidade brasileira 20% acima da cotação do fechamento do dia anterior ao do anúncio da operação. O banco informou que pretende manter a oferta até outubro.

Álvarez se encontrou nesta semana com acionistas do Santander em Londres, inclusive com aqueles que possuem participações na unidade brasileira.

Quando a oferta foi anunciada publicamente, em 28 de abril, o diretor-presidente do Santander, Javier Marín, disse que a estratégia do banco em manter suas subsidiárias com capital aberto “não mudou em nada”.

No Brasil, segundo ele, “o mercado não acredita na nossa marca, mas nós acreditamos, e é por isso que estamos levando adiante essa transação.”

As ações da unidade brasileira caíram cerca de 40% entre o dia da abertura de capital e o anterior ao da apresentação da oferta de recompra. No mesmo período, as ações do Bradesco e do Itaú Unibanco subiram.

Tito Labarta, analista de bancos do Deutsche Bank, disse em um relatório de 29 de abril que a oferta de recompra “mais que compensa outro relativamente fraco trimestre no Brasil”.

“Acreditamos que faz sentido aceitar a proposta, já que a liquidez após a oferta provavelmente ficará muito limitada”, escreveu.

Alguns investidores podem começar a refletir sobre a razão do Santander – um banco conhecido por sua sagacidade nos negócios – estar interessado em recomprar as ações, diz Rui Croca, analista de bancos da empresa de classificação de risco DBRS. “Acho que os investidores devem estar pensando: ‘Se o Santander está comprando, eles devem estar comprando por um motivo. Por que nós deveríamos deixar o banco ficar com a alta [das ações]?'”, afirmou.

Executivos da Tweedy Browne e da Brandes disseram acreditar que a unidade do Santander no Brasil irá se tornar mais lucrativa.

“Reconhecemos que o cenário de curto prazo é desafiador, mas acreditamos que o Santander Brasil tem perspectivas de longo prazo atrativas”, disse Michael Hutchens, diretor de investimentos da Brandes. “Infelizmente, os acionistas que estão fazendo a oferta vão receber apenas uma parte dos benefícios futuros dessas perspectivas atrativas como detentores das ações do Grupo Santander.”

Thomas H. Shrager, diretor da Tweedy, Browne, disse que o Santander Brasil melhorou seu padrão de subscrição de empréstimos há vários anos. Segundo ele, conforme os empréstimos antigos começam a vencer, os novos – com menor chance de inadimplência – irão começar a impulsionar os lucros do banco.

Os executivos da Tweedy, Browne também disseram que estão preocupados com a possibilidade de, se continuarem como acionistas do Santander Brasil, suas ações deixarem de ser negociadas no Nível 2 da BM&FBovespa, que tem um padrão superior de governança corporativa que o mercado tradicional. Entre as exigências para estar no Nível 2, a empresa precisa manter em negociação no mercado pelo menos 25% das suas ações.

“Nós não vamos mudar nossos padrões de governança”, disse Álvarez, do Santander.

O principal acionista depois do Santander na unidade brasileira é a Qatar Holding, com 5,17%. Representantes da Qatar Holding, um braço do principal fundo soberano do emirado, não responderam aos pedidos de entrevista.

“Alguns investidores levantaram a questão de que pode haver um custo para a reputação do Grupo Santander por comprar ações de suas subsidiárias por um preço menor que os das ofertas de ações”, escreveu o analista Iñigo Vega, da Nau Securities, de Londres, em um relatório de 2 maio. O risco não é “nada novo”, afirmou.

Segundo ele, o Santander já fez isso antes. Em dezembro de 2012, o banco fez uma oferta para comprar uma fatia de 10,26% do Banco Español de Crédito por um preço bem inferior ao da abertura de capital, afirmou Vega. Mesmo assim, acrescentou, o Santander não teve dificuldade em janeiro deste ano para obter uma forte demanda para a abertura de capital da sua unidade americana de financiamento de automóveis.

Fonte: Valor Econômico

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